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Pela primeira vez, serão 48 seleções em campo e a disputa acontece em três países: EUA, México e Canadá, o que aumenta significativamente a pegada de carbono (Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 11 de julho de 2025 às 15h11.
"Um passo dramático na direção errada", alertaram cientistas sobre a Copa do Mundo de 2026, após um novo relatório revelar que a maior competição de futebol será a mais poluente da história e caminha na contramão do combate à crise climática.
Pela primeira vez, serão 48 seleções em campo e a disputa acontece em três países: EUA, México e Canadá, o que aumenta significativamente a pegada de carbono.
A análise estima que serão cerca de nove milhões de toneladas de gases de efeito estufa emitidos durante o megaevento, quase o dobro da média das últimas quatro finais da Copa do Mundo. Para se ter uma dimensão, a última no Catar em 2022 liberou 5,25 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
"A Copa nos une em torno de um amor compartilhado pelo jogo, mas também carrega uma pesada conta de carbono", observou Samran Ali, do Fundo de Defesa Ambiental, ao portal The Athletic. "Para eventos desta escala, a responsabilidade ambiental não pode ser deixada de lado."
Os cientistas identificam três principais fatores que explicam o salto nas emissões. O primeiro é a expansão do torneio de 32 para 48 equipes, o que aumenta o número de jogos, deslocamentos e a infraestrutura necessária.
O segundo é a distribuição geográfica: a realização em três países diferentes multiplica as viagens aéreas dos jogadores, comissões técnicas e torcedores. O setor aéreo é hoje um dos mais poluentes do mundo, devido ao uso massivo de querosene e petróleo em aviões.
Mas talvez o mais controverso seja o último: o patrocínio da Aramco, gigante petrolífera saudita que firmou acordo com a FIFA.
Segundo o estudo, o aumento na visibilidade e nas vendas da empresa de combustíveis fósseis durante o próximo ano pode resultar em 30 milhões de toneladas adicionais de CO2 equivalente e desafia a transição energética.
As preocupações não se limitam às emissões: metade dos 16 estádios propostos para o torneio necessitam de "intervenção ambiental imediata" para garantir a segurança de jogadores e espectadores.
As temperaturas extremas, como os 36 Cº registrados durante a Copa do Mundo de Clubes da FIFA neste verão nos EUA, refletem o tamanho do problema que o planeta deve enfrentar em 2026.
"Parece que a FIFA não aprendeu nada e tem um verdadeiro ponto cego em relação ao clima", destacou um dos autores do estudo. "Quando estamos falando da perda de um meio ambiente adequado para a civilização humana, não poderíamos estar mais preocupados."
Como medida urgente, os pesquisadores pedem para reverter a expansão do torneio para mitigar os riscos climáticos futuros.
E há uma explicação: a Copa do Mundo de 2030 está planejada para acontecer em seis países diferentes: Espanha, Portugal, Marrocos, Argentina, Paraguai e Uruguai e já promete gerar mais de 6 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Não é de hoje que megaeventos carregam essa contradição: celebram, enquanto consomem o planeta. A equação pode ser perversa caso não haja uma preocupação com a sustentabilidade: multidões atravessam continentes, cidades são transformadas em canteiros de obras, além do alto consumo de energia, infraestruturas gigantescas e até marcas que surfam na onda do "espetáculo" para vender produtos por vezes poluentes.
Como conciliar a paixão global por megaeventos de futebol com a urgência de ação climática? Segundo os pesquisadores, "é preciso atuar em conjunto com todos os outros setores, a sociedade e a economia para fazer tudo o que estiver ao seu alcance para reverter a situação." Uma das questões levantadas no estudo, é: será que a FIFA está disposta a mudar?