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Eventos climáticos forçam seguradoras a migrar para paramétricos como saída para o setor

Modelo obtém crescimento explosivo para US$ 1,4 bilhão, tornando-se opção diante do esgotamento dos formatos tradicionais de cobertura

Crise acentuada pós incêndios de Los Angeles força seguradoras a migrar para modelo paramétrico com satélites. (DC Studio/Freepik)

Crise acentuada pós incêndios de Los Angeles força seguradoras a migrar para modelo paramétrico com satélites. (DC Studio/Freepik)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 24 de maio de 2025 às 09h30.

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Os devastadores incêndios que atingiram Los Angeles em janeiro mudaram definitivamente a postura das seguradoras norte-americanas.

Após o desastre, as principais empresas do setor comunicaram aos investidores o esgotamento completo de seu interesse por riscos na região, sinalizando uma retirada estratégica de áreas consideradas insustentáveis para seus negócios.

No que parece ser o ápice da tendência que vem transformando o setor, gigantes como a AIG já haviam se retirado da Califórnia, alegando limitações regulatórias sobre preços que tornavam inviável a operação na região.

O movimento reflete ainda um contexto mais amplo: à medida que valores imobiliários disparam e as mudanças climáticas intensificam fenômenos meteorológicos extremos, mais organizações atingem seus limites operacionais em localidades mais vulneráveis.

Inovação contra crise de credibilidade

A saída das seguradoras tradicionais dos grandes mercados tem alimentado uma crise de confiança sem precedentes no setor por parte dos consumidores.

Enquanto seguradoras alegam estar no limite máximo, beneficiários relatam desconfiança crescente nas companhias, principalmente devido ao prolongado processo de liquidação de sinistros, que tem se estendido por meses ou até anos após os desastres.

Em alternativa aos modelos de apólices convencionais, novas empresas tem oferecido o chamado seguro paramétrico, num formato de cobertura com valores pré-estabelecidos baseados em ocorrências específicas.

Entram na avaliação de riscos, incêndios florestais e inundações que atinjam determinados parâmetros. A ideia é que nesta modalidade, também o demorado processo de análise de sinistros seja agilizado.

O conceito promete transformar fundamentalmente a relação atual entre seguradoras e segurados. Hoje, vítimas de catástrofes aguardam meses para receber indenizações convencionais. No seguro paramétrico, os pagamentos podem vir em questão de semanas após os desastres.

Satélites detectam riscos em tempo real

Desenvolvida na Agência Espacial Europeia, a startup parisiense Descartes Underwriting é uma das representantes desta nova geração de empresas.

Com soluções baseadas em tecnologias para avaliação de riscos, desde seu lançamento em 2019, captou US$ 141 milhões junto a investidores como Eurazeo e Cathay Capital, confirmando a atenção do mercado em soluções para o setor.

É a partir de imagens de satélite para mapear exposição em tempo real, que a Descartes analisa, por exemplo, plantações de eucalipto australianas contra incêndios florestais.

A partir de então, suas apólices especificam antecipadamente valores exatos de pagamento caso 5% ou 10% da plantação sejam danificados, considerando variáveis como idade das árvores e densidade do plantio.

Tudo fica estabelecido em contrato. Na eventualidade de queimadas, o cálculo é feito multiplicando as áreas afetadas pelo valor segurado - uma abordagem que, além de proporcionar rápido pagamento ainda elimina disputas posteriores.

Quando o sistema falha

Este modelo de apólice já tem sido escolhido por parques eólicos, para garantir pagamento quando ventos ficam abaixo de níveis operacionais.

Grandes associações agrícolas também buscam essa forma de proteção contra ondas de frio, desde que produtores europeus de vinho e tomate tornaram-se particularmente expostos a geadas tardias que podem devastar safras inteiras.

O modelo paramétrico, no entanto, não está livre de vulnerabilidades. Quando em 2024 o furacão Beryl devastou o Caribe, a tempestade deixou centenas de milhares de residências jamaicanas sem energia elétrica.

Contudo, não atingiu o limite de pressão atmosférica necessário para acionar os pagamentos automáticos. Críticos apontaram que o episódio evidenciou as deficiências dos produtos paramétricos.

A resposta do governo jamaicano porém, foi que sua apólice visava especificamente proteger contra furacões de intensidade superior. E, portanto, cumpriu exatamente sua função projetada.

Mercado em franca expansão

Dados da consultoria AM Best apontam para um crescimento explosivo do segmento, embora ainda represente um nicho no mercado global.

A emissão de títulos paramétricos de catástrofe saltou para US$ 1,4 bilhão em 2024, um crescimento de 133% comparado aos US$ 600 milhões do ano anterior.

Estimativas mostram ainda que investidores alternativos assumirão maior exposição a riscos de catástrofes que seguradoras tradicionais dentro de duas décadas.

A diversificação geográfica abrangeria tempestades europeias em Londres, Paris e Bruxelas; incêndios californianos; enchentes em Quebec; secas no Djibuti; e projetos de barragens no Nepal.

A baixa correlação entre riscos de catástrofes naturais e performance dos mercados financeiros convencionais torna os retornos diversificados particularmente atraentes para capital institucional em busca de rentabilidade diferenciada.

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