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Apenas seis países desenvolvem políticas alinhadas às metas de zero emissões líquidas (makhnach/Freepik)
Repórter de ESG
Publicado em 22 de setembro de 2025 às 15h00.
Última atualização em 22 de setembro de 2025 às 15h18.
Dez anos após a assinatura do Acordo de Paris, os governos mundiais continuam apostando em combustíveis fósseis. Um novo relatório divulgado nesta segunda-feira, 22, revela que os países planejam produzir até 2030 mais que o dobro do volume de carvão, petróleo e gás natural compatível com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
A produção planejada supera em 120% os níveis necessários para a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris e em 77% o limite de 2°C. Pior ainda, a situação deteriorou desde 2023, quando essas lacunas eram de 110% e 69%, respectivamente.
COP30: acesse o canal do WhatsApp da EXAME sobre a Conferência do Clima do ONU e saiba das novidades!O relatório Lacuna de Produção 2025, elaborado pelo Stockholm Environment Institute (SEI), Climate Analytics e International Institute for Sustainable Development (IISD), analisou os planos de 20 grandes produtores de combustíveis fósseis, responsáveis por cerca de 80% da produção global, incluindo a atuação de países como o Brasil, México e Colômbia.
Para o setor privado e investidores, os dados representam um sinal vermelho. A expansão da infraestrutura fóssil significa dinheiro público e privado sendo direcionado para ativos que inevitavelmente se tornarão obsoletos, à medida que a transição energética avança.
Entre os 20 países analisados — incluindo Brasil, Estados Unidos, China, Arábia Saudita e Noruega —, 17 ainda planejam aumentar a produção de pelo menos um combustível fóssil até 2030. Mais preocupante: 11 deles projetam níveis mais altos de produção em 2030 do que haviam planejado em 2023.
O Brasil aparece na lista dos grandes produtores analisados, em um momento em que o país se posiciona como líder climático regional e se prepara para sediar a COP30 em Belém, neste ano. A inclusão brasileira no relatório levanta questões sobre como conciliar a exploração de combustíveis fósseis, especialmente petróleo no pré-sal, com os compromissos climáticos assumidos pelo governo Lula.
Por outro lado, apenas seis países desenvolvem políticas alinhadas às metas de zero emissões líquidas, um aumento modesto em relação aos quatro identificados em 2023. Isso significa oportunidades perdidas em um mercado de energias renováveis que tem mostrado crescimento explosivo e custos declinantes.
"As renováveis inevitavelmente substituirão completamente os fósseis, mas precisamos de ação deliberada agora para fechar essa lacuna a tempo", afirma Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU.
Para Emily Ghosh, coautora do relatório e diretora do Programa de Transições Justas do SEI, a questão vai além do meio ambiente. "Sem esses compromissos, novos atrasos consolidarão mais emissões e agravarão os impactos climáticos sobre as populações mais vulneráveis", disse.
'Transição energética é o desafio civilizatório do século', diz especialista na Brazil Climate WeekO relatório pede a urgência do cumprimento do Consenso dos Emirados Árabes Unidos, firmado na COP28, que prevê a eliminação gradual dos subsídios ineficientes a combustíveis fósseis — uma medida que poderia liberar recursos para investimentos em tecnologias limpas.
"O aumento nos planos de expansão de fósseis nos últimos dois anos é alarmante", alerta Olivier Bois von Kursk, coautor do relatório. "Para evitar os piores impactos climáticos com o mínimo de disrupção econômica, os governos precisam se comprometer a não investir em novos fósseis e apoiar as indústrias limpas do futuro."