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'Já falamos muito de meta, é hora de focar na ação', diz presidente da SB COP

Em evento promovido pela EXAME a menos de 45 dias da COP30 no Brasil, Ricardo Mussa e o CEO da Hydro debateram o papel do setor privado e defenderam exemplos concretos e investimentos

EXAME promoveu o pré-cop e destacou o papel do setor privado no combate à crise climática

EXAME promoveu o pré-cop e destacou o papel do setor privado no combate à crise climática

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 17h30.

Última atualização em 3 de outubro de 2025 às 18h16.

A menos de 45 dias da COP30, o setor privado global chega à mesa de negociações com um recado claro: chegou a hora de sair do papel e entregar resultados concretos.

A mensagem vem de Ricardo Mussa, presidente da SB COP, coalizão que representa quase 40 milhões de empresas de mais de 60 países e que apresentou oficialmente 23 prioridades climáticas à presidência da COP durante a Assembleia Geral de Nova York.

"Já falamos muito de meta. Os cientistas já mostraram qual é o problema. Agora é hora de focar na ação", afirmou Mussa durante evento pré-cop promovido pela EXAME na quinta-feira, 2, em bate-papo sobre o papel das empresas na grande conferência do clima da ONU. 

O executivo compartilhou a mesa com Anderson Baranov, CEO da Hydro no Brasil, multinacional norueguesa com operação de bauxita e alumina no Pará desde 2011. Em Belém, a companhia quer se posicionar como protagonista em descarbonização e desenvolvimento social das comunidades em que está inserida.

Mussa contou que a SB COP nasceu como uma réplica do modelo B20, o braço empresarial do G20, que no ano passado conseguiu que 72% de suas recomendações fossem refletidas nas negociações finais da cúpula realizada no Brasil.

"Nunca tivemos na história das COPs uma organização tão representativa do setor privado", disse ao lembrar que a iniciativa reúne players de indústria e comércio, incluindo Confederação Nacional da Indústria (CNI) no Brasil, a US Chamber nos Estados Unidos e a Business Europe.

Rumo à COP30, um dos grandes investimentos da Hydro de R$ 12,4 bilhões na transição energética da Alunorte, considerada a maior entrega para reduzir emissões do setor no país, além de cases de inovação como a transformação de caroço de açaí em biomassa para geração de energia.

"Acredito que o Brasil vai dar um show em entregas positivas, as indústrias vão mostrar projetos em curso", disse Baranov.

A companhia trocou óleo por gás natural, instalou caldeiras elétricas e investe em plantas eólicas e solares.

"Nossa missão é gerar emprego, energia limpa e conectar ao social", explicou o CEO. A empresa também trouxe um navio regasificador para viabilizar gás natural não apenas para sua operação, mas para todo o estado do Pará.

"É uma alternativa viável também como combustível para carros. Você traz desenvolvimento para o estado e comunidades", complementou.

Para Baranov, a descarbonização não é apenas custo, mas valor. "O mundo caminha para um futuro onde quem não fizer não irá permanecer no mercado", afirma. "O consumidor já está disposto a pagar mais por produtos com respeito social e ambiental."

Menos documentos, mais exemplos de sucesso

A estratégia da SB COP para influenciar as negociações climáticas aprendeu com "erros do passado", contou Mussa. Segundo o executivo, quando participou do B20 na Indonésia, ajudou a elaborar um documento com 68 recomendações. "Ninguém deu atenção, não funcionou para nada", admite.

No Brasil, a abordagem mudou radicalmente: apenas três recomendações por força-tarefa -- o que levou a uma maior assertividade.

A grande inovação está em outra frente: em vez de apenas entregar cartas de recomendações, a coalizão lançou um concurso que recebeu mais de 1.200 casos de sucesso de empresas do mundo inteiro.

Metade foi eliminada por critérios rigorosos: é preciso ter retorno econômico comprovado, ser escalável e ter impacto significativo no combate às mudanças climáticas.

"O exemplo ajuda o gestor público a formular política pública", destacou Mussa.

"É muito melhor você influenciar alguém com exemplo do que com documento. E tem bons cases no setor privado mundial", acrescentou.

Ele cita o caso de Carajás, onde a Vale desenvolveu práticas de preservação ambiental junto à mineração que hoje servem de referência para o Congo e a Indonésia, países que enfrentarão expansão da mineração por causa dos minerais críticos para a transição energética.

Como obstáculo na agenda, Mussa destaca o de 'natureza cultural'. "O brasileiro não se posiciona bem, é muito crítico consigo mesmo. Eu vejo outros países muito mais nacionalistas, mas nós temos liderança genuína em muitas frentes: da preservação ambiental à um provedor de soluções", disse.

Ele lembra que as últimas três COPs foram realizadas em países sem democracia consolidada (Egito, Dubai e Baku). "Espero que nesta COP possamos conseguir mostrar o Brasil para o resto do mundo." Baranov concordou: "Muito se falou de Amazônia e preservação, mas poucos conhecem a realidade. É uma grande oportunidade de mostrar e deixar que as pessoas entendam os desafios reais."

Transição energética e os desafios

A transição energética não é simples e é repleta de desafios, sustentou Mussa. Isto porque, as tecnologias são mais caras se comparadas com a da revolução industrial, quando a mudança do carvão para o petróleo reduziu custos.

"O petróleo dominou o mundo porque é muito eficiente e relativamente barato. Agora, a solução vem da inovação, mas leva tempo", destacou. Por outro lado, o executivo concorda que não será possível acabar com o combustível fóssil amanhã.

Para Mussa, o radicalismo atrapalha o debate. "Não adianta passar 90% do tempo falando do problema e 10% da solução", afirma.

Legado da COP30

Para ambos os executivos, o legado da COP30 vai muito além de Belém. "Daqui para frente, a COP acontece o ano inteiro, todos os meses, agora em Brasília", lembra Mussa.

A presidência brasileira da COP não termina em novembro. O Brasil assume a liderança rotativa por um ano inteiro, período em que seguirá coordenando negociações e implementações.

A SB COP, inclusive, não é exclusivamente do Brasil. Assim como o B20, a liderança é rotativa. Mussa já está conversando com CEOs da Austrália e da Turquia, países cotados para sediar a COP31, para passar o bastão.

"Um dos grandes legados é ter organizado melhor o setor privado para participar. Esse modelo vai continuar", ressaltou.

Para Baranov, o legado já é visível nas ruas de Belém. "A infraestrutura mudou completamente a cidade e as obras vão acabar no prazo. O povo paraense já ganha com o que irá continuar lá. E as pessoas vão conhecer mais e falar da Amazônia", complementou.

Ambos os executivos são unânimes: o momento pede menos polarização e mais pragmatismo. "Cada país tem um papel. O nosso é focar no que está funcionando e replicar até que a inovação chegue", concluiu Mussa.

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