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Licenciamento ambiental: 'Quando apelidamos de PL da devastação, não há diálogo', diz Marcello Brito

Em entrevista à EXAME, o secretário executivo do Consórcio da Amazônia Legal e um dos 30 enviados climáticos criticou a polarização do debate ambiental e aposta em implementação na COP30

Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal: "Nosso licenciamento ambiental é antigo, atrasado e precisava ser redesenhado com urgência" (Divulgação)

Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal: "Nosso licenciamento ambiental é antigo, atrasado e precisava ser redesenhado com urgência" (Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 11 de julho de 2025 às 12h00.

Última atualização em 11 de julho de 2025 às 13h57.

A polarização no debate sobre o licenciamento ambiental no Brasil impede o diálogo e desenvolvimento de soluções inteligentes para um problema historicamente complexo. A avaliação é de Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio da Amazônia Legal e um dos 30 enviados climáticos escolhidos para promover a ação na COP30, em Belém do Pará.

"Quando você apelida a lei de 'PL da devastação', você transforma o outro lado do debate em alguém que só tem essa visão. Então não há espaço para conversa e diálogo, apenas perpetua algo que é antiquado e que em vários setores, com certeza, paralisa o desenvolvimento", disse em entrevista à EXAME, durante o fórum da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, organização da qual também foi cofacilitador.

A crítica do especialista ganha ainda mais relevância neste momento: líderes na Câmara dos Deputados decidiram nesta quinta-feira, 10, que o projeto da Lei Geral do Licenciamento Ambiental será colocado em votação na próxima semana. O texto, já aprovado na Câmara, passou por alterações no Senado e retornou para ajustes.

No ano em que o Brasil recebe a COP do clima (COP30) pela primeira vez, o executivo vê a questão como obstáculo e impasse para a liderança nas discussões climáticas globais. O cenário geopolítico complexo dificulta ainda mais e Marcello defende uma abordagem pragmática.

"Sabendo que não há espaço para negociação, a presidência da COP aposta na implementação do que já existe", destacou.

Entenda a Lei do Licenciamento Ambiental

Na prática, o Projeto de Lei nº 2.159/2021 visa alterar as regras para a obtenção de licenças ambientais no Brasil, buscando simplificar e unificar os procedimentos relacionados a atividades que utilizem recursos naturais ou são potencialmente poluidoras.

Há mais de duas décadas no Congresso Nacional, o PL tem gerado debates acalorados entre defensores do meio ambiente e representantes do setor produtivo.

Enquanto os favoráveis o consideram essencial para destravar o desenvolvimento no país, ambientalistas e organizações científicas o entendem como um 'retrocesso' e alertam frente aos riscos de flexibilização das regras de proteção ambiental e possíveis impactos sobre povos e comunidades tradicionais. 

Marcello defende que o instrumento que faz parte da Política Nacional do Meio Ambiente precisa de reformas, mas critica a forma como o debate tem sido conduzido.

"Nosso licenciamento ambiental é antigo, atrasado e precisava ser redesenhado com urgência. É uma discussão de décadas: passaram governos de todas as frentes partidárias e ninguém fez uma proposta de transformação da lei", observou.

'Teoria da ferradura' no debate ambiental

Para o executivo, a mesma polarização no debate ambiental brasileiro segue o que ele chama de "teoria da ferradura" -- quando extremos opostos acabam se encontrando em algum ponto da reta.

"Se você olhar quem é contra de um lado e quem é a favor do outro e dissecar o que falam, ambos usam sinônimos diferentes para expressar a mesma coisa", analisou. Segundo Marcello, essa dinâmica afeta diretamente a qualidade das políticas públicas.

Brasil avança em agricultura de baixo carbono

Contrariando narrativas pessimistas, Marcello também defendeu que o Brasil está numa posição de liderança na transição para agricultura regenerativa e de baixo carbono.

"Enquanto muitos pensam que estamos atrasados, é o contrário, nós estamos muito mais avançados do que a maioria dos produtores mundiais", afirma.

O enviado climático critica o que chama de "complexo de vira-lata" brasileiro e aponta novamente a polarização como um entrave para reconhecer as soluções verdes e potencial do setor rumo à descabonização.

"Mais uma vez, há uma falta de diálogo entre aqueles que estão nas laterais da inteligência e do diálogo e os radicais do outro", defendeu.

Para ele, é preciso estabelecer prazos realistas para a transição do agronegócio. "Aqueles que exigem transformações numa velocidade absurda, só mostram que não tem o devido conhecimento", destaca ao estimar que o processo deve levar cerca de 20 anos, assim como a revolução verde química demorou cinco décadas.

Mercado de carbono exclui o agronegócio

Em relação à regulamentação do mercado de carbono no Brasil, o executivo ressalta que a agricultura não faz parte e não entra na conta, em nenhum país do mundo. Anteriormente, houve um experimento na Áustria e a Nova Zelândia enfrentou tantos problemas que voltou atrás.

"As metodologias hoje praticadas são produzidas em maioria pela agricultura temperada do hemisfério norte. Então não casa com o nosso caso, que é de floresta tropical", explica, referindo-se às dificuldades de medir carbono em diferentes tipos de solo no país.

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