Patrocínio:
Parceiro institucional:
Apesar das críticas, os cientistas reconhecem o potencial brasileiro para liderar a transição energética global (AFP)
Repórter de ESG
Publicado em 20 de junho de 2025 às 10h54.
Uma coalizão internacional de mais de 250 cientistas entregou uma carta ao governo brasileiro pedindo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma a liderança mundial na transição energética e priorize o fim dos combustíveis fósseis.
O documento foi entregue ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da 30ª conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP30), durante as Reuniões Climáticas de Bonn, na Alemanha. A carta representa um apelo direto para que o Brasil "seja o líder climático que o mundo precisa".
Os pesquisadores destacam que as evidências científicas são prova sobre a responsabilidade dos combustíveis fósseis no agravamento das mudanças climáticas. Segundo o documento, os impactos atuais no clima "irão apagar décadas de progresso no desenvolvimento e tornarão mais difícil, se não impossível, reduzir as desigualdades, aliviar a pobreza e acabar com a fome".
A carta relembra que 2025 marca o décimo aniversário do Acordo de Paris, tratado que estabeleceu a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Os cientistas alertam que "o mundo agora excedeu 1,5°C de aquecimento em um único ano pela primeira vez na história", resultando em eventos climáticos extremos que afetam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis.
Entre os signatários estão renomados cientistas brasileiros da área climática, incluindo Carlos Nobre, Paulo Artaxo, José Marengo e Mercedes Bustamante. A lista também conta com pesquisadores internacionais de destaque, como a climatologista Friederike Otto.
O físico climático Bill Hare, responsável pela entrega do documento, foi enfático ao afirmar que "a eliminação dos fósseis é a ação climática mais urgente e essencial que o mundo precisa tomar". Hare advertiu que "se o Brasil não conseguir avançar nessa agenda, a história não será generosa com sua presidência da COP30".
A entrega da carta ocorreu um dia após a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) realizar um leilão no Rio de Janeiro, concedendo novas áreas para exploração petrolífera. Das áreas leiloadas, 19 estão localizadas na sensível região da bacia Foz do Amazonas, gerando críticas de ambientalistas e comunidades tradicionais.
Bill Hare criticou duramente a decisão, chamando o leilão de "do fim do mundo" e destacando a contradição temporal. "Esse desenvolvimento desastroso ocorre bem no meio de negociações climáticas cruciais da ONU em Bonn, das quais o Brasil participa como futuro presidente da COP".
Leilão da Foz do Amazonas: petroleiras arrematam 19 dos 47 blocosApesar das críticas, os cientistas reconhecem o potencial brasileiro para liderar a transição energética global. A carta destaca que o Brasil "já é líder em energia renovável, com quase 90% de sua eletricidade proveniente de fontes limpas" e possui "uma vasta riqueza natural — florestas, rios, biodiversidade — que pode ajudar a ancorar uma mudança global em direção a um futuro justo e resiliente".