Patrocínio:
Parceiro institucional:
Especialistas ouvidos pela EXAME ainda contam sobre os avanços nos direitos da população e o que precisa ser destravado pela igualdade (Marc Bruxelle/EyeEm/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 27 de junho de 2025 às 17h43.
Neste sábado, dia 28 de junho, é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIA+, data que simboliza a luta pelos direitos e pela visibilidade da comunidade em todo o mundo. Em apoio a essa causa, a indústria de alimentos Nestlé e a organização social Bicha da Justiça promovem a 9ª edição da campanha "Orgulho do Meu RG", que apoia a retificação de documentos de pessoas trans, travestis e não binárias em todo o Brasil.
A campanha surgiu em 2021, a partir da identificação dos dois principais obstáculos para que pessoas trans conseguissem conquistar a nova documentação: os altos custos, que podem chegar a R$ 1,8 mil em algumas capitais, e a burocracia. “Em São Paulo, é necessário apresentar cerca de 35 documentos de órgãos públicos para emitir a retificação do nome”, explica Bruna Andrade, CEO da Bicha da Justiça, que conversou com a EXAME.
Ela explica que, além da demora para que todos os documentos estejam em mãos, a dificuldade de acesso a cartórios e serviços públicos para a população LGBTQIA+ não é a mesma em todo o país. “A realidade da capital paulista é diferente do interior do Amazonas. Esses espaços ainda são muito hostis para pessoas trans”, afirma.
Com o projeto, a consultoria jurídica passou a atender pessoas de fora dos grandes centros urbanos, ajudando com os custos do processo. A campanha já impactou 280 pessoas em mais de 140 cidades brasileiras. Nesta edição, a iniciativa oferece a oportunidade de retificação para 35 pessoas, com mais de 18 anos, que residem em qualquer parte do país. Os processos de retificação são financiados pela Bicha da Justiça, com o apoio de empresas parceiras, como a Nestlé. A indústria alimentícia é uma das companhias que apoia o projeto desde o início.
Augusto Drumond, head de Diversidade e Inclusão da Nestlé, afirmou em entrevista que o apoio à organização está alinhado à estratégia de DEI da companhia, que busca representar em suas ações a diversidade presente na população brasileira e em seus mais de 20 mil colaboradores no país. “Retificar o nome dessas pessoas é também, de alguma forma, retomar a sua dignidade. Atuamos juntos para que cada nome corresponda à sua identidade e que apresentar o documento em um exame, entrevista de emprego ou no acesso a um local não se torne um constrangimento”, explica Drumond.
Essa estratégia também se aplica à atuação interna da empresa. “A diversidade em todos os níveis hierárquicos nos orienta a antecipar decisões sobre consumidor, produto e marca”, explica. A fabricante de alimentos conta atualmente com cinco grupos minoritários dentro de sua estratégia ESG: mulheres, negros, pessoas com deficiência, gerações (o que inclui tanto jovens quanto a população acima de 50 anos) e LGBTQIA+. Hoje, a companhia tem mais de mil PCDs em sua operação, além de 47% de pessoas negras em seu corpo de funcionários. As mulheres representam 44% dos colaboradores e 45% dos líderes.
A ajuda de custo também é um benefício para os funcionários da Nestlé. Internamente, a companhia financia cerca de 80% dos custos para a emissão de cada novo documento. O head de Diversidade explica que, além de ajudar com os documentos, a companhia também assumiu a responsabilidade pelas ações de letramento, contratações afirmativas e apoio à comunidade trans que integra a companhia.
Andrade explica que uma palavra que sempre escuta durante os atendimentos para a emissão dos novos documentos é “recomeço”. “Para muitas pessoas trans, esse documento significa a abertura de novas portas, seja para um trabalho ou para materializar um sonho. Ter um documento que represente seu nome e sua imagem transforma vidas”, conta.
Para os dois especialistas, o avanço nos direitos LGBTQIA+ no Brasil ainda esbarra na garantia de punição para aqueles que cometem crimes de transfobia e homofobia. “O que precisamos para os próximos anos é uma legislação mais efetiva, para que, no longo prazo, possamos garantir maior identificação das violências e consequências para quem as comete”, afirma Bruna.
Augusto complementa que, no lado corporativo, o trabalho de letramento se mostra cada vez mais essencial para mostrar as possibilidades da diversidade. “Sempre precisamos lançar novas perspectivas com um viés educacional. Falar sobre a parentalidade LGBTQIA+ de um dos colaboradores, por exemplo, tira esse exemplo de um lugar distante, aproximando-o do colega na mesa ao lado”, explica.
As inscrições para o programa ocorreram entre os dias 20 e 22 de junho, e o resultado será anunciado no dia 28 de junho, coincidindo com as comemorações do Dia do Orgulho LGBTQIA+. Os interessados em se inscrever nas próximas edições podem saber mais detalhes por meio do perfil oficial da Bicha da Justiça.