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No continente que mais esquenta no planeta, 7 em cada 10 cidades falham na adaptação

Estudo aponta descompasso crítico entre diagnósticos de risco e implementação de políticas efetivas na Europa, ainda que desde 2020 a região esteja aquecendo mais rápido que o resto do mundo

Pesquisa da Nature Climate Change evidencia fragilidade na governança adaptativa de cidades europeias (Freepik)

Pesquisa da Nature Climate Change evidencia fragilidade na governança adaptativa de cidades europeias (Freepik)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 19 de maio de 2025 às 07h50.

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Um estudo publicado pela Nature Climate Change revelou que mais de 70% das cidades europeias implementam estratégias de adaptação climática sem consistência ou coerência necessárias, expondo populações vulneráveis a riscos cada vez maiores.

Conduzida por um consórcio internacional, a pesquisa "Explaining the adaption gap throug consistency in adaptation planning" analisou 327 centros urbanos europeus, identificando significativos descompassos entre diagnósticos de risco, objetivos políticos e medidas concretas de proteção.

Desde o ínicio dos anos 2000, o continente europeu esquenta duas vezes mais rápido que outras regiões do planeta, conforme dados da Agência Europeia de Meio Ambiente. E ainda assim, quase metade das localidades consideradas na pesquisa sequer desenvolveram planos formais de adaptação.

Por exemplo, embora 81 planos municipais tenham reconhecido a elevação de perigos relacionados a tempestades e ventos extremos, apenas 28% destes documentos estabeleceram metas específicas para fortalecer a resiliência contra tais eventos.

Grupos vulneráveis à margem

Um aspecto particulamente preocupante é a proteção insuficiente de localidades e populações mais suscetíveis aos impactos climáticos.

A análise demonstrou que apenas 43% dos planos que identificaram riscos para populações vulneráveis — como idosos, pessoas em situação econômica precária e minorias étnicas — incorporavam medidas específicas para sua proteção.

Além disso, somente 4% das localidades incluíam tais grupos nos protocolos de monitoramento e avaliação, com apenas 1% das administrações municipais efetivamente considerando estas comunidades no centro do desenvolvimento das estratégias de adaptação.

Entre a percepção pública e a resposta institucional

O déficit na implementação de medidas adaptativas se explica, em partes, pelo contexto político.

O resultado das eleições europeias de 2024 foi interpretado por alguns especialistas como uma reorientação contra políticas climáticas ambiciosas, com a redução da representatividade dos partidos Verdes e maior ênfase da Comissão Europeia em competitividade econômica.

Contudo, levantamentos recentes indicam uma realidade mais complexa.

As prioridades dos cidadãos europeus se deslocaram, desde 2020, mais para questões de segurança econômica e tensões geopolíticas, enquanto a agenda climática apareceu em quarta posição nas pesquisas do Eurobarômetro.

A conclusão do estudo no entanto, é de que há uma preocupação maior com adaptação às mudanças climáticas do que com sua mitigação, "refletindo não menor interesse pelo tema, mas sim perda de confiança na capacidade governamental de realizar as transformações necessárias", completam os pesquisadores.

Déficit de daptação é global

Os resultados do estudo alinham-se às preocupações apresentadas meses atrás, no Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2024 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que já advertia para a exigência de "um aumento dramático nos esforços de adaptação climática, começando por compromissos concretos de financiamento."

O documento da ONU, intitulado "Come Hell and High Water", estima uma lacuna financeira para adaptação entre US$187-359 bilhões anuais globalmente. Mesmo com o aumento do financiamento internacional de US$22 bilhões em 2021 para US$28 bilhões em 2022, este montante representa apenas 5% do necessário.

A investigação sugere que estratégias adaptativas devem necessariamente conectar-se diretamente a melhorias materiais na qualidade de vida das populações. De acordo com o PNUMA:

As percepções sobre a crise climática vinculam-se fortemente a preocupações materiais. O apoio à ação é robusto não apenas entre grupos de maior renda – mesmo pessoas em situação econômica vulnerável demonstram preocupação com o tema.

Os pesquisadores enfatizam ainda a necessidade de administrações municipais e nacionais fundamentarem suas políticas adaptativas em avaliações precisas e monitorarem sua implementação adequadamente, com particular atenção aos segmentos sociais mais vulneráveis.

"Faz-se necessário um investimento em adaptação estratégica e transformacional, de financiamento mais complexo," aponta o relatório do PNUMA, propondo uma transição de "financiamento reativo e baseado em projetos isolados para abordagens antecipatórias e estruturais."

À medida que eventos climáticos extremos intensificam-se, estas lacunas adaptativas representam não apenas deficiências administrativas, mas riscos concretos para milhões de europeus — particularmente para aqueles com recursos limitados para autopreservação.

Sem engajamento decisivo no presente, alertam especialistas, a capacidade de implementar soluções efetivas no futuro será progressivamente reduzida.

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