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Enchentes no Rio Grande do Sul em 2024: tragédias climáticas impulsionaram desenvolvimento de ferramenta para impulsionar adaptação climática frente a eventos extremos
Repórter de ESG
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 17h30.
Dos deslizamentos em São Sebastião e Petrópolis às enchentes históricas no Rio Grande do Sul, o Brasil teve um aumento de 250% de desastres climáticos no início desta década. A cada 0,1°C de aumento na temperatura global, a ciência alerta para 360 novos casos de eventos extremos.
Mas como identificar as áreas de risco e, mais importante, o que fazer para proteger as cidades e torná-las mais resilientes aos efeitos das mudanças climáticas?
A resposta está na nova Plataforma Natureza ON, lançada nesta segunda-feira, 27, e desenvolvida em parceria pela Fundação Grupo Boticário, MapBiomas e Google Cloud, a primeira no Brasil a integrar mapeamento de vulnerabilidades climáticas em todo o território nacional com recomendações práticas de Soluções Baseadas na Natureza.
O anúncio oficial acontece durante a COP30, em Belém do Pará, em 11 de novembro, e o investimento estimado é de R$ 500 mil.
O objetivo é apoiar gestores públicos, empresas e sociedade civil na tomada de decisões e planos de prevenção a desastres, indicando alternativas sustentáveis para minimizar impactos. A tecnologia também pode servir de modelo para outros países e inspirar medidas dentro do Plano Nacional de Adaptação, uma das agendas prioritárias da presidência da COP na grande conferência do clima.
"A ferramenta é resultado da soma de esforços e expertises nas áreas de tecnologia, monitoramento, ciência de dados e soluções ambientais", destacou Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
Desde 2009, a organização que é braço filantrópico do Grupo Boticário atua com SbNs e adaptação climática, com foco em segurança hídrica e resiliência costeira.
"Identificamos os principais impactos na biodiversidade, mas ainda não existia um mapeamento de riscos adequado", explicou o gerente de Estratégias de Conservação da Fundação, André Ferreti.
É aí que entra o MapBiomas, a mais completa base de dados ambientais e geoespaciais sobre uso da terra disponível no mundo. Com uma parceria de longa data com o Google, gera mapas e conhecimento dos territórios por meio de uma rede de 150 organizações em 17 países ao analisar a série histórica dos últimos 40 anos.
"Por muito tempo utilizamos imagens de satélite processadas com machine learning e agora passamos a usar inteligência artificial. Este projeto representa o encontro de duas vertentes: riscos e soluções. Conforme as soluções são implementadas, o risco vai diminuindo.", disse Tasso Azevedo, fundador do Mapbiomas.
Por enquanto, a plataforma contempla só riscos atuais. Entre os desenvolvimentos futuros estão um sistema de ranking e projeções a longo prazo.
Na prática, a plataforma de acesso aberto permite consultar o nível de vulnerabilidade de qualquer rua, bairro, município ou bacia hidrográfica do Brasil.
Além de indicar os riscos climáticos - como inundações, deslizamentos, secas e incêndios -, a ferramenta sugere até 14 Soluções Baseadas na Natureza (SBN) específicas para cada realidade local.
Entre as medidas para aumentar a resiliência e melhorar a qualidade de vida da população estão a arborização, parques lineares, renaturalização de rios, restauração de ecossistemas costeiros e sistemas naturais de drenagem.
"Em uma área com risco de inundações, por exemplo, podem ser recomendadas estratégias como jardins de chuva, telhados verdes, biovaletas, lagoas de retenção ou parques nas margens dos rios", exemplificou Tasso.
Em uma simulação à EXAME foi realizado um recorte geográfico de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. A área registrou a maior mortalidade em 2011 devido a deslizamentos e ainda hoje continua muito expostas a impactos do clima. Para minimizar os danos, são recomendadas 10 SBNs.
O projeto utiliza a IA para processar volumes massivos de dados climáticos e sociais em alta velocidade e em tempo real, enquanto a nuvem do Google garante armazenamento seguro das informações.
Segundo o Google Cloud, a operação é a mais limpa no Brasil, visto que os data centers operam com 90% de energia renovável.
A nova plataforma exigiu um time de engenharia da bigtech para entender os desafios e desenvolver novos produtos dentro das tecnologias já existentes.
"Há mais de duas décadas, a missão do Google tem sido tornar as informações do mundo universalmente acessíveis e úteis", afirmou Ricardo Fernandes, Head do Google Cloud no Brasil. "Ao aplicar IA e outras soluções de nuvem a conjuntos de dados ambientais complexos, podemos gerar insights acionáveis".
Malu Nunes ressalta que "em um mundo cada vez mais conectado e com inúmeras facilidades tecnológicas, é urgente aproveitarmos os recursos disponíveis para enfrentar os desafios impostos pelo caos climático, um dos mais importantes da nossa era. Com colaboração, podemos fazer a diferença."