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'O desafio não é definir metas climáticas, mas reestruturar economias', diz diretora do WRI

Junto a outros especialistas, Melanie Robinson falou em coletiva de imprensa sobre o momento crítico das negociações climáticas e expectativas faltando menos de 60 dias para a COP30 em Belém

Belém do Pará se prepara para receber a COP30 e especialistas defendem que as próximas semanas serão decisivas e críticas para o futuro das negociações climáticas (Getty Images)

Belém do Pará se prepara para receber a COP30 e especialistas defendem que as próximas semanas serão decisivas e críticas para o futuro das negociações climáticas (Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 16 de setembro de 2025 às 16h02.

A menos de 60 dias da Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) em Belém do Pará, as próximas semanas serão críticas e decisivas para o futuro das negociações climáticas globais.

"Esta COP parece ser mais importante do que nunca", disse Ani Dasgupta, presidente e CEO do World Resources Institute (WRI), durante coletiva de imprensa nesta terça-feira, 16.

Da Assembleia Geral da ONU em Nova York até o final de setembro, especialistas do WRI esperam por anúncios importantes de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de países peça-chave para a redução de gases estufa como União Europeia e a própria China.

Apenas 17% dos membros da ONU entregaram suas metas até então, enquanto as nações que faltam representam 80% das emissões. 

Segundo o CEO, há uma lacuna de implementação em um contexto de mudanças geopolíticas profundas.

"Se implementássemos tudo que já sabemos, estaríamos próximos a 1.8°C de aquecimento. Há um grau de diferença entre o que está sendo feito e prometido", alertou se referindo ao caminho de 2.8ºC que as políticas atuais prometem nos levar e o que seria possível se colocássemos em prática 100% das tecnologias e soluções verdes disponíveis.

Para o presidente da organização internacional, o "gap" evidencia que a humanidade possui as ferramentas e respostas no combate à crise do clima, mas falha na execução.

"Estamos num ponto de inflexão, e limitar os 1.5ºC do Acordo de Paris está em risco", enfatizou.

Na visão de Melanie Robinson, diretora global de Clima do WRI, o maior desafio vai muito além dos anúncios das NDCs.

"Não é sobre definir as metas climáticas, mas reestruturar as economias nacionais", afirmou.

A realidade é que mesmo com os anúncios esperados, "essas NDCs não vão colocar o mundo no caminho para o 1.5ºC", admitiu a especialista.

Reestruturação econômica como chave

Especialistas da organização defendem que a questão climática transcendeu o campo ambiental e é preciso apostar em uma "mudança de paradigmas".

"Falamos muito sobre clima e economia de carbono, mas o que estamos começando a fazer não é só uma questão de redução de emissões -- e sim econômica", destacou Ani Dasgupta.

Para orientar essa transformação, o executivo elencou três pontos fundamentais que o mundo deve focar rumo a um futuro mais sustentável e justo. 

Primeiro, a mudança de mentalidade: deixar de ver a transição verde apenas como custo ambiental e tratá-la como oportunidade financeira e que gera benefícios imediatos para as pessoas.

Segundo, o foco estratégico em concentrar esforços em três setores-chave que podem impulsionar toda a economia de baixo carbono: sistemas energéticos, alimentos e natureza e cidades -- responsáveis pela maior parte das emissões globais.

Por último e não menos importante, o financiamento climático: criar mecanismos para mobilizar os 1,3 trilhões de dólares necessários para países em desenvolvimento lidarem com os efeitos da crise do clima, combinando recursos públicos, privados e internacionais através de inovações financeiras.

"Precisamos implementar as políticas para as pessoas em curto prazo e teremos mais sucesso", concluiu.

COP30 e o protagonismo da natureza

Para especialistas, a COP30 em Belém surge como oportunidade histórica e coloca a justiça climática e a natureza no centro das discussões. Embora o roteiro de Baku a Belém lançado na Conferência de Bonn, na Alemanha, não faça parte formal das negociações, é importante para dar suporte a outras agendas e acordos, destacaram.

"Será um momento importante para ver se os países vão impulsionar os investimentos e reestruturar a cooperação global", projetou Melanie.

Wanjira Mathai, diretora executiva para África e Parcerias Globais do WRI África, destacou o item da adaptação climática como uma inovação deste ano: "Nunca tivemos isto em uma COP".

Ela também enfatizou o papel central dos ecossistemas naturais para a mitigação.

"A natureza será um dos colchões mais importantes diante da piora de eventos extremos."

Além disso, espera por um simbolismo especial em Belém: "Vai continuar nos lembrando que precisamos das florestas como fontes de cultura e subsistência", reiterou.

A perspectiva ganha relevância com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposta que o governo brasileiro vem sinalizando como grande entrega da COP30.

O fundo promete mobilizar US$ 125 bilhões em capital permanente para distribuir US$ 4 bilhões anuais a países em desenvolvimento com florestas tropicais e remunerar aqueles que atuam pela conservação ambiental. 

"Por muitos anos não tivemos incentivos. Agora, o maior desafio é ter o financiamento suficiente e em escala", alertou Wanjira.

Karen Silverwood-Cope, também do WRI Brasil, destacou a inovação do instrumento financeiro: "É essencial e complementar para manter a floresta em pé".

Economias emergentes na liderança

O contexto atual revela uma contradição, mas também uma oportunidade. Enquanto os Estados Unidos se afastam, outras potências emergentes ganham protagonismo na agenda climática. 

Segundo o CEO, os novos rumos geopolíticos estariam 'redefinindo as lideranças globais' e favorecendo economias como China, África, Indonésia e Brasil na corrida verde.

"Economias emergentes avançam na transição, pois entenderam que é o futuro", disse o CEO.

Para David Waskow, diretor no WRI, não há como voltar atrás dentro do contexto geopolítico imposto por Trump. "O restante do mundo continua se movendo, mesmo que nem todos na mesma velocidade", concluiu.

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