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A decisão de investir em transmissão não é apenas técnica, mas estratégica: define o rumo do desenvolvimento sustentável, competitivo e inclusivo do Brasil. (chuyu2014 / Envato)
Redação Exame
Publicado em 26 de julho de 2025 às 08h00.
*De Rui Chammas, diretor-presidente da ISA Energia Brasil
A urgência e o imediatismo, traços marcantes da cultura nacional, tornam-se armadilhas perigosas quando perpetuados em setores críticos como o de transmissão de energia elétrica. Em ambientes onde o planejamento de longo prazo é negligenciado, o custo social pode ser elevado e duradouro.
Projetada majoritariamente na década de 1970 para atender ao crescimento industrial e à expansão das grandes hidrelétricas, a rede de transmissão paulista enfrenta, hoje, desafios de uma era radicalmente diferente.
O envelhecimento dos ativos, a integração cada vez maior de fontes renováveis, a intensificação dos eventos climáticos extremos e a explosão de uma demanda digitalizada e descentralizada impõem pressões inéditas.
A chegada massiva de data centers - impulsionados pelo avanço de tecnologias como IoT, inteligência artificial, blockchain e, em breve, 6G - exige uma infraestrutura robusta e resiliente para sustentar o funcionamento ininterrupto desses “corações” digitais que consomem volumes colossais de energia.
Paralelamente, o movimento de eletrificação dos transportes em São Paulo é notável. O estado abriga as pioneiras fábricas de veículos elétricos do Brasil e avança com uma frota verde para o transporte público. Nenhuma dessas transformações, porém, é possível sem uma rede de transmissão moderna, confiável e capaz de se adaptar rapidamente a demandas emergentes.
A urbanização crescente e o adensamento da rede impõem complexidades adicionais: obras devem ser realizadas com o menor impacto possível, e novas tecnologias precisam ser integradas de modo harmônico ao legado existente.
O modelo tradicional, centrado em fluxos unidirecionais de grandes usinas para centros urbanos, cede espaço a uma matriz energética mais distribuída, flexível e digitalizada. A expansão da geração solar, a multiplicação dos parques eólicos e a mobilidade elétrica exigem uma rede versátil e altamente resiliente.
Diante desse cenário, três elementos tornam-se inegociáveis: tornar o grid mais inteligente e otimizado, fortalecer os investimentos em modernização e revisar os modelos regulatórios para acelerar a implementação das inovações.
Tecnologias como os direcionadores de fluxos, sistemas FACTS (Sistemas de Transmissão de Corrente Alternada Flexíveis) já em construção em Ribeirão Preto, representam um salto qualitativo. Esses sistemas permitem otimizar o uso dos circuitos existentes, redirecionando energia de linhas sobrecarregadas para outras com maior capacidade, evitando a necessidade de obras de grande porte e reduzindo custos e prazos.
A estratégia da ISA Energia, responsável por 95% da energia transmitida no estado, exemplifica a magnitude dos esforços necessários: cerca de R$ 5,5 bilhões em projetos de reforços e melhorias, distribuídos até 2029, já autorizados pela ANEEL.
Tais investimentos abrangem desde a Região Metropolitana até o interior, litoral e Vale do Paraíba, e contemplam soluções pioneiras em digitalização, monitoramento em tempo real e uso intensivo de dados para manutenção preditiva. A abordagem, baseada em critérios de criticidade e saúde dos equipamentos, permite antecipar falhas, prolongar a vida útil dos ativos e garantir alta disponibilidade do sistema.
O desafio, porém, é global. A modernização simultânea de redes em várias partes do mundo - EUA, Europa, Ásia - pressiona a cadeia de suprimentos e eleva custos, tornando ainda mais imprescindível o planejamento antecipado para evitar gargalos e riscos de escassez de equipamentos.
Neste contexto, a regulação precisa seguir sendo dinâmica, apoiando a modernização e incentivando eficiência, resiliência, inovação e alto desempenho. É fundamental considerar os riscos crescentes de eventos climáticos extremos e garantir que a regulação favoreça a implementação de novas redes, a otimização dos ativos existentes e a inserção de tecnologias disruptivas.
O futuro energético, econômico e social do Brasil passa, inevitavelmente, pela atualização e robustecimento das redes de transmissão. Uma infraestrutura moderna, confiável e eficiente é o alicerce invisível de todo o processo de digitalização, reindustrialização, eletrificação e transição energética.
O desafio é imenso, mas o compromisso coletivo - inspirado pelo lema paulista “Pelo Brasil, façam-se grandes coisas” - deve ser o de planejar, inovar e executar com excelência técnica, antecipando cenários e superando limitações.
A decisão de investir em transmissão não é apenas técnica, mas estratégica: define o rumo do desenvolvimento sustentável, competitivo e inclusivo do Brasil. Pelo Brasil, façam-se grandes coisas - com muito planejamento, inovação e eficiência.