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Por que os veículos elétricos ainda não decolaram no Brasil? Estudo revela oito obstáculos

Estudo da Thymos revela que país precisa superar múltiplas barreiras de infraestrutura e pesquisa para não perder o timing da eletromobilidade

Enquanto o mercado de veículos particulares caminha, a eletrificação do transporte coletivo surge como estratégia (Shutterstock/Divulgação)

Enquanto o mercado de veículos particulares caminha, a eletrificação do transporte coletivo surge como estratégia (Shutterstock/Divulgação)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 4 de setembro de 2025 às 08h00.

Apesar de ser o oitavo maior fabricante de veículos do mundo e o quarto maior mercado consumidor, o Brasil ainda engatinha na corrida da mobilidade elétrica. Com menos de 7% dos veículos licenciados em 2024 sendo elétricos, o país está no limiar entre abraçar definitivamente essa transformação ou ficar para trás enquanto outras nações aceleram rumo a um futuro mais sustentável.

Um estudo desenvolvido pela Thymos Energia, consultoria do setor elétrico, mapeia não apenas os obstáculos que freiam a eletrificação da frota nacional, mas também aponta caminhos para superá-los. A análise, que examinou experiências de países como China, Alemanha, Estados Unidos e Chile, revela que o Brasil vive um paradoxo: tem potencial imenso, mas enfrenta barreiras estruturais complexas.

Segundo o Ciclo Hype desenvolvido pelo Instituto Gartner - modelo que mapeia a evolução de tecnologias emergentes -, os veículos elétricos se aproximam do temido "Vale da Desilusão". Esta fase é decisiva: determina se uma tecnologia conseguirá superar as limitações iniciais e evoluir para adoção em massa ou se ficará estagnada.

'Vale da desilusão' dos veículos elétricos

O ciclo passa por cinco estágios: começa no Gatilho da Inovação, quando novas tecnologias capturam o interesse público; evolui para o Pico de Expectativas Infladas, marcado pelo entusiasmo excessivo e cobertura midiática otimista; despenca no Vale da Desilusão, quando as limitações se tornam claras e o investimento diminui; sobe pela Ladeira da Iluminação, fase de amadurecimento e melhorias; até chegar ao Planalto de Produtividade, onde a tecnologia é amplamente aceita.

Para Luiz Vianna, COO da Thymos Energia, superar este vale exige mais do que esperança: demanda "planejamento, integração e investimentos coordenados de múltiplos atores, como poder público, indústria automotiva, empresas de energia e consumidores", afirma.

Barreiras da mobilidade elétrica

O estudo identifica barreiras para a adoção da mobilidade elétrica. Na esfera técnica, destacam-se:

  • Infraestrutura de carregamento insuficiente e mal distribuída;
  • Longo tempo de carregamento e baixa autonomia;
  • Indisponibilidade de VEs no mercado;
  • Falta de uma cadeia de produção e fornecimento local;
  • Baixa durabilidade da bateria;
  • Custo e tamanho das baterias, e por consequência, dos VEs;
  • Déficit de mão de obra qualificada para manutenção;
  • Necessidade de pesquisa e desenvolvimento local.

No campo regulatório, a defasagem é evidente. "As metodologias tradicionais de remuneração das distribuidoras já não atendem às novas demandas impostas pela eletromobilidade", afirma Vianna. O modelo tarifário brasileiro, segundo o estudo, carece de revisão para incorporar receitas por serviços de plataforma e maior flexibilidade tarifária.

Desafios comportamentais

Além dos aspectos técnicos e econômicos, o estudo revela barreiras comportamentais significativas. A "ansiedade de recarga", preocupação constante sobre disponibilidade e conveniência das estações de carregamento, afeta a percepção dos consumidores. A necessidade de mudança de hábitos e rotinas, combinada com a preferência tradicional por motores a combustão, cria resistência natural à adoção.

Enquanto o mercado de veículos particulares caminha, a eletrificação do transporte coletivo surge como estratégia. O Brasil conta com cerca de 1.000 ônibus elétricos operando em 18 municípios - menos de 1% da frota nacional. São Paulo lidera o movimento, com 841 unidades.

Globalmente, o cenário é mais promissor: em 2023, quase 50 mil ônibus elétricos foram vendidos mundialmente, elevando o estoque global para 635 mil unidades. A China domina o mercado, com 60% das vendas mundiais de ônibus elétricos.

O estudo da Thymos também discute os paradoxos ambientais da mobilidade elétrica. O descarte de baterias de íon de lítio representa um desafio crescente, demandando uma cadeia nacional de reciclagem robusta.

"A eletromobilidade não é apenas uma tendência de mercado. É parte central de uma transição energética que exige planejamento integrado, regulação moderna e visão ambiental", analisa Victor Ribeiro, consultor estratégico da Thymos.

Soluções para a eletromobilidade

O cenário internacional reforça a urgência da transformação brasileira. Em 2024, as vendas globais de veículos elétricos atingiram 17 milhões de unidades.

Para transpor o Vale da Desilusão e alcançar o Planalto de Produtividade, o estudo propõe um roadmap integrado. A modernização da infraestrutura elétrica é fundamental, incluindo digitalização das redes, descentralização da geração e adoção de tecnologias como carregamento inteligente e intercâmbio de energia entre veículos e rede (V2G).

A revisão regulatória urgente deve incorporar tarifas específicas que considerem horários de recarga e autonomia dos veículos. Políticas públicas consistentes, incentivos ao consumidor final e desenvolvimento de infraestrutura de recarga completam o receituário.

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