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Rio Negro, na Amazônia: níveis da bacia hidrográfica podem se manter críticos até final de julho, alertam autoridades. (Leandro Fonseca/Exame)
Editora ESG
Publicado em 6 de julho de 2025 às 14h45.
Última atualização em 6 de julho de 2025 às 14h51.
Uma cheia que atingiu a região amazônica nos últimos dias causou surpresa pela velocidade da elevação das águas e já afeta mais de meio milhão de pessoas, em 40 cidades.
O fenômeno atual, embora não tenha superado o nível histórico de 30,02 metros registrado em 2021, atingiu no dia 1º de junho 29,02 metros em Manaus, colocando o estado em alerta máximo.
Conforme informações do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o Amazonas foi impactado sobretudo por precipitações intensas nas cabeceiras dos rios Negro e Solimões, resultado de anomalias climáticas concentradas na Amazônia ocidental e em parte da Colômbia.
No sábado, 5, a Defesa Civil divulgou nota reforçando como as mudanças climáticas representam um fator determinante na intensificação desses eventos extremos, e alertou para perspectivas de agravamento caso as pressões ambientais persistam.
Durante a cheia de 2021, a administração municipal de Manaus desenvolveu protocolos emergenciais que se tornaram referência para eventos subsequentes.
E investiu na construção de mais de 9 mil estruturas de passagem (marombas) em maio daquele ano, para ampliar a capacidade de adaptação rápida às transformações hídricas extremas.
Mas, embora as capacidades operacionais tenham evoluído significativamente desde então, a natureza estrutural dos problemas - relacionada tanto à intensificação climática quanto à vulnerabilidade socioeconômica das populações - demanda investimentos de escala e e velocidade superiores às medidas emergenciais implementadas.
Atualmente, segundo o Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, o número de famílias diretamente atingidas alcança 133 mil, com todas as nove calhas de rios do estado permanecendo em situação de cheia.
Segundo a Defesa Civil de Manaus, não há necessidade imediata de remoção de moradores, uma vez que as estruturas temporárias oferecem condições seguras de mobilidade.
Contudo, o governo estadual já distribuiu 580 toneladas de cestas básicas, 2,4 mil caixas d'água de 500 litros, 57 mil copos de água potável, dez kits purificadores e uma estação móvel de tratamento de água.
Na capital Manaus, o foco das ações emergenciais foi em bairros historicamente vulneráveis como Educandos, São Jorge, Matinha, Presidente Vargas e Mauazinho.
No Educandos, mais de 800 metros de pontes provisórias têm garantido acesso a serviços essenciais, enquanto a distribuição de cestas básicas, kits de higiene e água potável está programada para a próxima semana.
Até o momento, quatro rios da bacia amazônica estão em cota de inundação severa, de acordo com a SGB - todos passam ou estão nos arredores da capital do estado.
E, conforme o boletim Cheia 2025, divulgado pelo governo, dos 62 municípios do estado, 18 estão em alerta e apenas 4 estão em condições hídricas de normalidade.
Informativo divulgado pelo Governo do Amazonas indica impactos da cheia no Estado. (Agência Amazonas/Divulgação)
As análises de registros hidrológicos de quase 120 anos no porto de Manaus revelam uma transformação significativa nos padrões históricos: das dez maiores cheias registradas, oito ocorreram nos últimos 45 anos, sendo seis delas a partir de 2009.
O cenário comprova uma maior frequência de eventos extremos que tradicionalmente aconteciam em intervalos de retorno de 20 anos, agora reduzidos para aproximadamente quatro anos.
A concentração de precipitações entre o final de maio e início de junho, combinada com a transformação de igarapés urbanos devido à expansão das cidades, intensificou as inundações principalmente nas áreas de menor altitude.
Também o fenômeno La Niña contribuiu para o resfriamento das águas dos oceanos Pacífico e Atlântico, gerando maior evaporação e consequente intensificação das precipitações na Amazônia.
Contudo, ambientalistas apontam que esta variabilidade natural se soma a aspectos como alterações nos padrões de ventos do Hemisfério Sul relacionadas ao buraco na camada de ozônio e ao efeito estufa.
O aumento da frequência de secas seguidas e cheias extremas representa ainda uma manifestação dos impactos do aquecimento global sobre os sistemas hidrológicos amazônicos, com consequências que se estendem para outros biomas e setores econômicos nacionais.
Por fim, estudos comparativos desenvolvidos na bacia do rio Tocantins demonstram correlações diretas também entre desmatamento extensivo e intensificação dos efeitos de cheias.
Pesquisas indicaram que, mantendo-se volumes equivalentes de precipitação, o nível máximo das cheias aumentou 28% após o desmatamento em larga escala, com antecipação dos picos devido à redução da capacidade de absorção do solo e da regulação hídrica pela cobertura florestal.