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"Nossa meta deve ser chegar a Belém não apenas com inventários robustos, mas com uma agenda de advocacy clara e propostas de inovação que alavanquem novos produtos e soluções" (Leandro Fonseca /Exame)
Publicado em 9 de novembro de 2025 às 08h00.
Última atualização em 9 de novembro de 2025 às 11h33.
Por Viviane Pereira, gerente de Sustentabilidade da Porto
A Conferência das Partes (COP) de 2025, em Belém, não será apenas um debate sobre compromissos e metas climáticas, será, acima de tudo, um fórum sobre finanças. Com a pressão global para elevar o financiamento climático para mais de US$ 1,3 trilhão anuais, o setor privado, em especial as instituições financeiras e seguradoras, está no centro da transição.
Neste cenário de urgência, a capacidade de medir para, então, financiar a transição é a nova fronteira da resiliência corporativa. É aí que entra o tema que tem mobilizado todo o setor: a gestão e a mensuração do Escopo 3 das emissões de gases de efeito estufa (GEE), em especial a categoria 15, referente às emissões seguradas e financiadas.
Empresas em todo o mundo já avançaram significativamente no controle de suas emissões de Escopo 1 — aquelas diretas, como a queima de combustível da frota — e de Escopo 2 — indiretas, como o consumo de energia elétrica em suas operações. No entanto, o Escopo 3, que abrange todas as emissões indiretas de uma organização originadas em sua cadeia de valor, continua sendo, de longe, o maior e mais complexo desafio.
Para o setor segurador, a complexidade é amplificada. Não se trata apenas das emissões de fornecedores ou dos resíduos gerados. O verdadeiro peso do Escopo 3 está nas emissões financiadas e subscritas — ou seja, na pegada de carbono dos ativos em que investimos e nos riscos que escolhemos proteger. Simplificando, a gestão de risco climático passa a ser, também, a gestão do risco de carbono dos nossos clientes e investidos.
A ausência de metodologias padronizadas foi, por anos, um entrave, mas isso está mudando rapidamente. Iniciativas globais, como o PCAF (Partnership for Carbon Accounting Financials), em conjunto com o trabalho técnico de parceiros de consultoria e as diretrizes do PSI (Principles for Sustainable Insurance), fornecem a bússola necessária para mensurar essa pegada de forma robusta e transparente.
O desafio de mensurar o Escopo 3 é um passo técnico fundamental que alinha o setor com as exigências globais, mas, mais do que isso, representa o ponto de partida de uma transformação que conecta proteção financeira, sustentabilidade e justiça social.
O Brasil, com sua baixa penetração securitária, deixa a maior parte da população — especialmente as classes C, D e E, que são justamente as mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos — à margem da proteção.
Por isso, é fundamental que o mercado de seguros utilize tecnologia e conhecimento para desenvolver produtos mais simples, acessíveis e adequados às necessidades da base da pirâmide, reconhecendo seu papel na Justiça Climática e na inclusão securitária. A combinação entre a mensuração do risco de carbono dos grandes ativos e a construção da resiliência social representa um passo pioneiro.
A medição do Escopo 3 é, portanto, o catalisador para a ação coletiva. O advocacy em nosso setor não é apenas sobre cobrar melhores práticas, é sobre colaborar e acelerar a transição a partir da base, construindo uma estratégia centrada na medição da pegada de carbono. Trata-se de usar influência e expertise para educar, incentivar a descarbonização e desenvolver a infraestrutura de dados necessária para que todo o mercado possa avançar.
O maior insight que a mensuração do Escopo 3 traz é este: a agenda climática não é um custo, tampouco gestão de risco, mas uma oportunidade massiva de inovação de portfólio.
Quando se entende quais clientes ou investidos estão em trajetórias de alto carbono, é possível atuar de duas formas: i) gerindo o risco e ii) gerando soluções. O mapeamento preciso permite desenhar novos produtos que apoiem a transição, como seguros para projetos de energia renovável ou oferta de crédito e títulos que premiam empresas com metas de descarbonização.
O setor segurador é o grande gestor do risco futuro. Ao medir e agir sobre o Escopo 3, deixa de ser o “segurador do problema” para se tornar o “financiador da solução”, alocando capital onde a resiliência é mais urgente.
A realização da COP 30 no Brasil, no coração da Amazônia, dará ao país, e ao setor financeiro e segurador, uma vitrine global para mostrar como o capital privado está sendo mobilizado.
Nossa meta deve ser chegar a Belém não apenas com inventários robustos, mas com uma agenda de advocacy clara e propostas de inovação que alavanquem novos produtos e soluções, provando que a transição é economicamente viável e necessária.
A gestão do Escopo 3 é a chave para a longevidade, a resiliência e a relevância do setor de seguros na próxima década. É o passo decisivo para garantir que estamos financiando um futuro que vale a pena proteger.