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'Será nosso melhor prêmio de todos os tempos', diz VP do Earthshot Prize sobre evento no Brasil

Rio de Janeiro será palco do "Oscar ambiental" às vésperas da COP30; Em entrevista à EXAME, David Fein revela detalhes da premiação global de R$ 36,5 milhões para as melhores soluções ambientais

David Fein, vice-presidente do Earthshot Prize: "As soluções e respostas já existem. A engenhosidade humana é incrível" (Divulgação)

David Fein, vice-presidente do Earthshot Prize: "As soluções e respostas já existem. A engenhosidade humana é incrível" (Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 12 de setembro de 2025 às 07h00.

Pela primeira vez na história, o Brasil se prepara para receber o considerado "Oscar da sustentabilidade": o Earthshot Prize, premiação global criada pelo príncipe William em 2020 e que destina £5 milhões (cerca de R$ 36,5 milhões) para escalar cinco iniciativas ambientais anualmente.

O Rio de Janeiro será a cidade berço da celebração nesta quinta edição e o palco será o icônico Museu do Amanhã, uma semana antes da Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) em Belém do Pará.

"Será o nosso melhor prêmio de todos os tempos", destacou David Fein, vice-presidente do Earthshot Prize, em entrevista exclusiva à EXAME, ao definir o evento no Brasil como um "casamento feito no céu" e com papel de liderança na economia verde. 

"O país foi uma importante escolha nossa. Seja pela importância em biodiversidade, protagonismo em conservação ou pelo engajamento dos inovadores locais. Percebemos uma energia, paixão e comprometimento com a causa", disse. 

Com uma longa carreira em conservação, o americano também é co-presidente da United for Wildlife, organização que acaba de celebrar 10 anos e também foi fundada pelo Príncipe William para combater o tráfico ilegal de animais.

Seu histórico e trajetória o levaram a ser convidado pela realeza a integrar o Earthshot desde o início: "Fiquei encantado e fui responsável por incluir a natureza e vida selvagem no prêmio", contou.

Com a missão de driblar os maiores desafios do século a exemplo da crise climática, todos os anos desta década crítica os vencedores recebem £1 milhão cada (aproximadamente R$ 7,3 milhões) para acelerar suas soluções em cinco categorias: proteger e restaurar a natureza, limpar nosso ar, revitalizar nossos oceanos, construir um mundo sem lixo e corrigir nosso clima.

Para David, as cinco são transversais e não é possível escolher uma como prioridade ou maior importância. "O propósito final é impactar positivamente o planeta", disse. No caso do Brasil, ele destaca a proteção e restauração da natureza.

"Em minhas visitas, tenho testemunhado a dor do desmatamento e a importância dos projetos de reflorestamento. Se enquadra em conservação, mas também em clima", ponderou.

Marco histórico na América Latina

A estratégia é cobrir todas as regiões do mundo até 2030. A estreia foi no Reino Unido (2021), depois nos EUA (2022), Singapura (2023), África do Sul (2024) e agora na capital carioca que também foi sede da cúpula do G20 no ano passado e se destaca como destino turístico e natureza exuberante.

Segundo David, a vinda ao Brasil marca o início de uma relação duradoura, não apenas um evento pontual.

"Quando desembarcamos em uma cidade, não é para fazer acontecer e depois partir. Criamos raízes para o futuro. Este é o começo da nossa parceria", explicou.

Embora não possa antecipar quem serão os 15 finalistas, o VP conta que o interesse brasileiro pelo prêmio cresceu significativamente neste ano e houve um aumento significativo nas indicações e inscrições de inovações da região da América Latina. 

Até meados de 2025, o prêmio já contemplou 60 finalistas e 20 vencedores de mais de 5 mil indicações em prol da construção de um futuro melhor e mais sustentável.

Em 2023, o Brasil marcou presença entre os finalistas com a Belterra, startup criada pela companhia Vale para alcançar suas metas florestais com foco na restauração e práticas agrícolas regenerativas.

Já a última edição foi a mais diversa e contou com uma alta de 40% nas indicações do Sul Global e de iniciativas lideradas por mulheres e comunidades indígenas, celebrou David. 

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Sabedoria ancestral no centro das soluções

Um dos diferenciais do Earthshot Prize é sua abordagem centrada no apoio contínuo aos vencedores.

“O prêmio existe para apoiar os inovadores, os criadores, os criativos, os líderes. Quando eles vencem, todos nós vencemos", declara o Príncipe William.

Em 2024, foi lançada uma plataforma que conecta os inovadores com financiadores visando mobilizar mais recursos. Desde então, foram 250 financiadores ativos e 800 parcerias feitas. 

David destaca que esta edição no Brasil traz um foco especial na valorização do conhecimento tradicional e indígena. Não à toa, o conselho conta com a representação de dois líderes, um da América Latina e outro da África: Nemonte Nenquimo, indígena do Equador, e Ngozi Okonjo-Iweala, economista e ex-ministra da Nigéria.

"Estar no Brasil é uma chance de celebrar e chamar atenção para a sabedoria e o respeito que os povos indígenas e suas soluções merecem", frisou o executivo.

Para os empreendedores brasileiros, David deixa uma mensagem otimista: "Acreditem em vocês. As respostas para os desafios existem. A engenhosidade humana é incrível".

Jornada de cinco anos e impactos concretos 

Uma das preocupações da organização é acompanhar ativamente todos os finalistas, não apenas os vencedores, e construir uma espécie de "rede global positiva". Nesta jornada de cinco anos, há o monitoramento de impacto -- e os números já são expressivos.

No total, as iniciativas contempladas evitaram a emissão de 4,8 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, economizaram ou reutilizaram 9 milhões de toneladas de água e restauraram 11 milhões de áreas terrestres ou oceânicas.

Entre os casos de sucesso, David destaca a Coral Vita, vencedora na categoria oceano em 2021. O negócio de impacto global atua na regeneração de ecossistemas marinhos e utiliza tecnologia de ponta para cultivar corais em áreas críticas e melhorar sua resiliência ao impacto das mudanças climáticas.

Com o investimento do prêmio, seus fundadores africanos conseguiram um feito grandioso: a primeira grande restauração na costa da Grande Bahama, com a plantação de 6 mil fragmentos de recifes. 

Outro exemplo é a Notpla, startup londrina que venceu em 2022 devido ao seu trabalho no combate ao desperdício através do desenvolvimento de uma alternativa ao plástico poluente feito de algas marinhas e plantas. 

A embalagem é 100% biodegradável e pode ser utilizada para armazenar uma série de produtos, sendo o único material reconhecido no mundo como livre de plástico único pela União Europeia. Desde então, firmou parcerias importantes com a Bidfood UK, Just Eat na Espanha e na Bélgica e outros megaeventos esportivos.

"A solução está sendo oferecida em estádios no Reino Unido e Irlanda, em Wimbledon, na Maratona de Londres", se orgulha David.

O desafio da implementação

Em meio ao sucesso para atrair investimentos e parcerias, o VP identifica o maior gargalo para decolar as soluções ambientais: a implementação.

"Uma das respostas comuns que recebo é que o investimento é muito importante, mas estamos vendo que nem sempre é dada a mesma atenção para a implantação", afirma. Ao mesmo tempo, ele cita que é um "ciclo virtuoso" para alcançar mais recursos.

"É um desafio real para acelerar a escala e muitos de nossos parceiros estão se dedicando", complementou. 

EarthShot Prize e COP30 em novembro

O EarthShot Prize no Rio de Janeiro está confirmado para 5 de novembro, com uma programação que se estenderá por toda a semana e inclui outros eventos próximos ao Museu do Amanhã. Além da premiação principal, está prevista também a cúpula global de vida selvagem do United for Wildlife, com a possível presença do Príncipe William. 

Em homenagem, a prefeitura do Rio anunciou que seis pontos turísticos serão iluminados:

  • Museu do Amanhã;
  • Arcos da Lapa;
  • Cidade das Artes;
  • Terminal Gentileza;
  • Igreja da Penha;
  • Museu de Arte Moderna (MAM)

"Nossa missão é apoiar o trabalho que já está acontecendo no Brasil e chamar a atenção do mundo para proteger o planeta", ressaltou David.

Questionado sobre a participação na COP30, com início uma semana depois, em 10 de novembro, o americano disse estar 100% focado no evento do Rio de Janeiro e ainda não sabe se poderá estar presente. "Entendo que os encontros são complementares, mas muito diferentes e independentes. No fim do dia, trabalhamos para o mesmo propósito", concluiu. 

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