Patrocínio:
Parceiro institucional:
"Escuta virou uma das habilidades mais subestimadas da liderança. Escutar exige coragem. Exige sustentar o desconforto de não entender tudo." (Freepik)
Plataforma feminina
Publicado em 10 de agosto de 2025 às 07h35.
* Por Tati Gracia
Vivemos o tempo do excesso de estímulos, urgências e promessas. Mas também é o tempo da ausência: de escuta, conexão e presença.
Avançamos nas tecnologias que conectam dispositivos, mas regredimos nas práticas que sustentam vínculos. E isso tem cobrado um preço alto: nas empresas, nas famílias, nas lideranças.
Há forças emergentes redesenhando o presente. Elas não pediram licença para entrar, já estão aqui, exigindo novas respostas.
O envelhecimento populacional pressiona sistemas e muda a lógica do mercado. A crise climática ameaça o amanhã, enquanto a revolução tecnológica redefine até a forma como amamos, cuidamos, decidimos.
Famílias se reconfiguram, fronteiras entre casa e trabalho se diluem, e as emoções, antes restritas à vida pessoal, passam a integrar as decisões estratégicas.
Mas talvez o fenômeno mais negligenciado entre essas forças seja o convívio entre gerações.
Pela primeira vez na história do Brasil, cinco gerações compartilham o mesmo tempo. Estão nas mesmas casas, nas mesmas empresas, nos mesmos grupos de WhatsApp.
Só que, em vez de convergência, o que vemos é ruído. Um conflito não declarado, mas evidente nos silêncios, nos julgamentos rápidos, nos rótulos.
“É um mundo multigeracional onde todos acham que já escutaram mas quase ninguém se sente ouvido.”
Escuta virou uma das habilidades mais subestimadas da liderança. Escutar exige coragem. Exige sustentar o desconforto de não entender tudo. Exige legitimar histórias diferentes da sua. Exige aceitar que o outro sente e vive por caminhos que não cabem na sua régua.
No ambiente corporativo, isso é ainda mais urgente. Empresas estão lotadas de iniciativas de inovação, mas ainda operam com modelos de convivência herdados do século passado. Valorizam agilidade, mas não respeitam o tempo de cada geração.
“Falam de inclusão, mas ignoram que idade também é marcador social.”
E quando a idade vira invisível, as pessoas também viram. É por isso que empatia não pode ser mais tratada como um valor simpático. Ela é uma estrutura emocional que sustenta transformações concretas.
Empatia reorganiza times. Redesenha produtos. Cura ruídos entre lideranças e colaboradores.
Gera ambientes mais saudáveis e mais eficazes. Mas para funcionar, ela precisa sair da teoria. Precisa ser treinada, vivida, praticada.
“Empatia que não se pratica, se distancia. Conexão que não se cultiva, se rompe.
Mas quando há escuta, tudo pode recomeçar.”
Organizações que entendem isso estão criando novas formas de se relacionar com o tempo e com as pessoas que o incorporam em suas vivências, trajetórias e contribuições.
São empresas que não romantizam a juventude nem descartam a maturidade. Que sabem que a inovação vem tanto do que é novo quanto do que é vivido. Que reconhecem que liderar não é ter todas as respostas, mas sustentar perguntas que ainda não têm.
Empresas que compreendem que o ESG não é só sobre indicadores. É sobre relações humanas. Sobre convivência. Sobre coragem.
Coragem de escutar o que não é dito. Coragem de rever o que parecia certo. Coragem de construir um ambiente onde diferentes tempos, histórias e verdades possam coexistir e colaborar.
Porque o futuro não será liderado por quem responde mais rápido. Será por quem escuta com mais profundidade.
O maior diferencial dos próximos anos talvez não esteja no que você implementa. Mas em como e em quem você escolhe escutar.
* Tati Gracia é gerontóloga, analista comportamental e coautora de Diversa-IDADE