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Tubarões meteorologistas? Como animais se tornaram caçadores de furacões no Atlântico

Cientistas americanos transformam predadores marinhos em estações climáticas para mapear risco de tempestades

Animais historicamente temidos agora carregam equipamentos que podem salvar vidas ao melhorar alertas de furacões. (Freepik)

Animais historicamente temidos agora carregam equipamentos que podem salvar vidas ao melhorar alertas de furacões. (Freepik)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 26 de julho de 2025 às 14h26.

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A apenas 80 quilômetros da costa leste americana, na fronteira com a Pensilvânia, uma equipe de cientistas tem espalhado blocos de isca congelada pela superfície do oceano, criando uma trilha oleosa que se estende por quilômetros.

O objetivo, contudo, não é a pesca tradicional. É recrutar alguns dos predadores mais temidos dos mares para uma missão científica inusitada: ajudar a prever onde e com que intensidade os próximos furacões vão atingir.

Aaron Carlisle, ecologista marinho da Universidade de Delaware, lidera essa iniciativa que transforma tubarões em estações meteorológicas móveis.

Em entrevista ao The Washington Post, o pesquisador explicou que a imensidão oceânica torna praticamente inacessível uma coleta ampla de dados.

Para ele, portanto, a solução está em transformar os próprios habitantes desse mundo aquático em nossos olhos e ouvidos, criando uma rede natural de informações que nunca pare de funcionar.

A dança térmica das tempestades

Os furacões surgem a partir de um processo em que a atmosfera absorve calor da água, fazendo o ar subir e formar nuvens carregadas de chuva torrencial.

Neste contexto, o oceano funciona como motor térmico. Quando essas tempestades encontram águas quentes, tendem a se intensificar. Sobre águas frias, perdem força e se enfraquecem.

Mapear a distribuição de temperatura no oceano tornou-se, assim, fundamental para prever o trajeto e a força desses fenômenos.

O desafio reside na dificuldade de monitorar variações térmicas em várias profundidades. Satélites meteorológicos não conseguem enxergar além da superfície marinha, que frequentemente esconde bolsões de água fria.

Os robôs flutuantes e planadores que meteorologistas usam para mapear o calor das águas submersas se movem lentamente e custam caro para operar, deixando enormes lacunas de dados no oceano aberto.

Sentinelas com barbatanas

A estratégia de usar animais como monitores oceânicos não é exatamente uma novidade.

Há anos, pesquisadores instalam sensores em focas-elefante na Antártica e narvais no Ártico para rastrear condições em regiões polares de difícil acesso.

A Rússia chegou a tentar recrutar golfinhos e baleias-brancas como agentes de inteligência.

Para coletar informações no Atlântico, Carlisle e sua equipe apostaram nos tubarões por algumas razões práticas.

Esses animais são mais rápidos que planadores robóticos e podem permanecer no mar por períodos mais longo.

A expectativa, então, é que esses predadores trabalhem em conjunto com os monitores existentes. E em maio, a teoria passou a ser testada na prática.

A equipe escolheu começar com os tubarões-anequim para o experimento piloto, pelo fato de essa espécie retornar frequentemente à superfície, permitindo que as etiquetas transmitissem informações para satélites.

Dois deles foram capturados e equipados com sensores para aferir temperatura, salinidade e profundidade da água.

A experiência inicial resultou tanto sucessos quanto lições. Um dos tubarões cumpriu perfeitamente sua nova missão, transmitindo dados com regularidade.

O outro, porém, preferiu águas mais rasas, onde o sensor não conseguia funcionar adequadamente. O que mostrou que, por mais avançada que seja a tecnologia, os animais mantêm sua autonomia natural.

Além dos anequins, posteriormente a equipe também capturou e instalou uma etiqueta satelital em um tubarão-branco para rastrear sua localização. Essa espécie também figura como candidata a se tornar monitor meteorológico.

A estratégia incluirá marcar dezenas de tubarões por ano, incluindo tubarões-martelo e tubarões-baleia, alimentando modelos computacionais de furacões para produzir previsões mais precisas.

Carlisle enfatiza que a equipe faz todo o possível para minimizar qualquer desconforto ao perfurar as barbatanas dos animais.

Parceria improvável?

Os tubarões não substituem meteorologistas humanos, mas podem enriquecer significativamente o fluxo de dados que os previsores analisam.

A iniciativa demonstra como a ciência encontra soluções criativas para desafios contemporâneos. Em um mundo onde tempestades se intensificam e padrões climáticos se tornam cada vez mais imprevisíveis, a natureza oferece respostas surpreendentes através de parcerias inesperadas.

Representa ainda uma virada na relação entre humanos e tubarões. Da ficção que os retrata como vilões aos esforços reais de conservação, agora esses predadores marinhos podem se tornar aliados valiosos na luta contra as mudanças climáticas.

E o projeto também ganha relevância especial no atual cenário político americano, onde a administração Trump reduziu equipes e financiamento da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), potencialmente prejudicando a capacidade de previsão de furacões.

A falta de dados mostra-se especialmente aguda em águas propensas a furacões no Caribe, Golfo do México e costa leste americana, onde observações adicionais poderiam fazer diferença substancial na precisão das previsões.

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