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Burkas, oração, cambistas: fomos a um jogo do Al Hilal, o time saudita surpresa da Copa do Mundo

Adversário do Fluminense nas quartas-de-final é parte da estratégia do governo saudita de usar o futebol para modernizar a imagem do país

O estádio do Al Hilal, em Riad: torcida canta o jogo inteiro num ambiente semelhante a qualquer partida no Ocidente

O estádio do Al Hilal, em Riad: torcida canta o jogo inteiro num ambiente semelhante a qualquer partida no Ocidente

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 4 de julho de 2025 às 10h48.

Última atualização em 4 de julho de 2025 às 11h29.

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É fim de tarde em Riad, na Arábia Saudita, e nos arredores do estádio vendedores oferecem bandeiras, camisetas e, como é inverno, também cachecóis. Estamos chegando num jogo do Al Hilal, time azul e branco que lidera o campeonato nacional.

Como em qualquer lugar do mundo, cambistas oferecem ingressos, torcedores cantam, os carros fazem fila para entrar no estacionamento. Como em poucos lugares do mundo, uma ampla área de oração se organiza próximo às lanchonetes ao pôr do sol. Como em quase nenhum lugar do mundo, mulheres de burka, cobertas de preto apenas com os olhos de fora, se juntam na fila para entrar na Kingdom Arena, com 25 mil lugares de capacidade.

Pouco mais de cinco meses depois que a reportagem da EXAME acompanhou a vitória do Al Hilal sobre o Al Fateh, por impressionantes 9 a 0, o Al Hilal surpreendeu o mundo ao chegar às quartas-de-final da Copa do Mundo de Clubes. Nesta sexta-feira 4, enfrenta o Fluminense por uma vaga às semifinais.

Entre as qualidades do time saudita, o dinheiro é sempre apontado como um diferencial competitivo. Controlado pelo fundo soberano saudita, o clube investiu impressionantes R$ 3 bilhões para montagem do elenco, o que inclui os brasileiros Malcom e Marcos Leonardo e o técnico italiano Simone Inzaghi, vice-campeão da última edição da Champions League com a Inter de Milão.

A face menos conhecida fora de Riad é a enorme conexão do futebol com a cultura saudita. Numa sociedade ainda muito fechada, onde o álcool é proibido e as celebrações públicas controladas, o estádio é uma espécie de oásis. A torcida canta o jogo todo, mulheres convivem junto com homens, e até é possível ver casais do mesmo sexo vendo o jogo de mãos dadas – uma demonstração de carinho impensável fora das arquibancadas.

A média de público, de 17 mil pessoas por jogo, fica distante da maioria dos campeonatos europeus, mas é superior à de cinco das últimas dez edições do campeonato brasileiro. A vitória por 4 a 3 do Al Hilal sobre o Manchester City nas oitavas-de-final, na segunda-feira, foi o ápice da estratégia do governo saudita de usar o futebol como “soft power”, em uma estratégia de modernização do reino. Nesta sexta-feira, em seu caminho estará o fluminense.

Quem é o dono do Al Hilal

O clube foi fundado em 1957, e é o maior vencedor da Liga Saudita. Tem 19 títulos da liga, 13 da Copa Crown Prince, 11 da Kings Cups. Tem também 8 títulos da Champions League asiática, desempenho que garantiu sua vaga na Copa do Mundo de Clubes.

Desde 2023 o maior acionista do clube é o fundo soberano saudita PIF (Public Investment Fund), com 75% do capital total. O PIF é liderado pelo príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, e tem ativos estimados em US$ 925 bilhões. O presidente é Fahad bin Nafel, também gestor da Kingdom Holding Company.

O Al Hilal faturou US$ 290 milhões de dólares na última temporada – é cerca de um terço das receitas do Real Madrid, clube mais rico do mundo. O time saudita tem a quinta maior folha salarial do mundial de clubes, de cerca de R$ 1,13 bilhão ao ano -- atrás apenas de Real Madrid, Bayern de Munique, Manchester City e PSG. É quase seis vezes mais que a folha do Fluminense, estimada em R$ 180 milhões ao ano.

Após a vitória contra o City, cada jogador do Al Hilal recebeu estimados R$ 2,9 milhões como "bicho", no vestiário. Uma eventual vitória nesta sexta-feira pode ter prêmios ainda maiores.

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