Esporte

Como o futebol amador explica a guerra comercial entre EUA e China

Com estádios lotados e ingressos revendidos a até 60 vezes o preço, o 'campeonato de várzea da China' já dobra a média de público da Superliga profissional e impulsiona turismo e vendas em Jiangsu

Nanjing: Torcedores lotam o estádio com 60.396 pessoas para o clássico entre Nanjing e Suzhou pela Jiangsu City Football League, em 5 de julho.. (Ni Yanqiang/Zhejiang Daily Press Group/VCG/Getty Images)

Nanjing: Torcedores lotam o estádio com 60.396 pessoas para o clássico entre Nanjing e Suzhou pela Jiangsu City Football League, em 5 de julho.. (Ni Yanqiang/Zhejiang Daily Press Group/VCG/Getty Images)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 9 de julho de 2025 às 12h01.

Enquanto Suzhou, uma potência chinesa na fabricação de eletrônicos, sente os efeitos da guerra comercial entre China e Estados Unidos, outro evento tomou conta da província de Jiangsu: o futebol amador

No dia 29 de junho, a cidade viveu clima de final, quando venceu Yangzhou por 3 a 0, reacendendo uma rivalidade de mais de mil anos, segundo o The Economist.

Desde maio, a nova liga local vem lotando estádios para 40 mil pessoas, alcançando público até duas vezes maior do que o da Superliga Profissional Chinesa. Os ingressos chegaram a ser revendidos por valores 60 vezes acima do preço original. No jogo de Suzhou, centenas de torcedores ficaram do lado de fora, acompanhando a partida por transmissão ao vivo por não conseguirem comprar entradas.

Nanjing: moradores se reúnem em shopping para assistir à transmissão ao vivo do jogo entre Nanjing e Suzhou pela Jiangsu City Football League, em 5 de julho de 2025. (Photo by VCG/VCG via Getty Images)

Suzhou, maior e mais rica que Yangzhou, tem uma economia mais robusta que a da República Tcheca. Já Wuxi, cidade vizinha, possui um Produto Interno Bruto (PIB) per capita superior ao de Portugal. 

Entretanto, ambas sofrem com o impacto direto das tensões comerciais: só Suzhou foi responsável por 9% das exportações chinesas aos EUA no último ano, principalmente de eletrônicos e máquinas. Kunshan, distrito onde ocorreu o jogo, já enfrentava alto desemprego de jovens antes da escalada na tensão com Donald Trump.

Estímulo no esporte foi fundamental para a economia

Diante desse cenário, as autoridades locais decidiram apostar no futebol como forma de estimular a economia e o entretenimento da população. A estratégia tem dado certo. Desde o início do campeonato, houve alta significativa nas reservas de hotéis, voos, turismo e restaurantes em Jiangsu. Apenas as vendas de cerveja numa plataforma de delivery dispararam 90% no mês, de acordo com o levantamento do jornal.

Jiangsu é conhecida por fortes rivalidades regionais. Moradores dizem que a província “não existe”, sendo apenas um conjunto de cidades distintas que cultivam ressentimentos históricos, inclusive em disputas sobre jardins ornamentais. Desta vez, porém, autoridades locais incentivaram essas tensões, o que ajudou a viralizar a liga.

Outro diferencial é a flexibilidade nas regras de patrocínio. Enquanto a liga profissional exige marcas de “imagem social positiva”, a liga de Jiangsu conta com nomes como Heineken e até churrascarias locais. Torcedores em Suzhou definem o campeonato como “puro”, mesmo reconhecendo o baixo nível técnico dos atletas.

Henan já lançou uma liga similar, ainda sem repercussão. Guangdong e Sichuan também têm planos para torneios próprios. Mas Jiangsu fica na frente, graças à infraestrutura de estádios de nível mundial em suas 13 cidades. 

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