Esporte

De Pelé a Messi: como o futebol nos EUA cresceu ao longo das décadas e hoje movimenta bilhões  

País recebe o Mundial de Clubes da Fifa, torneio com a maior premiação da história, e vai organizar a Copa de 2026 com Canadá e México

A chegada de Messi ao Inter Miami levou o futebol nos EUA a outro patamar financeiro (CHANDAN KHANNA/Getty Images)

A chegada de Messi ao Inter Miami levou o futebol nos EUA a outro patamar financeiro (CHANDAN KHANNA/Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 30 de junho de 2025 às 05h01.

Última atualização em 30 de junho de 2025 às 10h03.

Quando se fala na popularização do futebol nos Estados Unidos, é impossível não lembrar de dois gigantes que atravessaram o oceano para escrever um novo capítulo da história por lá: Pelé e Franz Beckenbauer 

Durante as décadas de 1970 e 1980, em meio ao domínio de esportes como futebol americano, beisebol e basquete, o "soccer" ainda engatinhava no imaginário dos norte-americanos.  

No entanto, com a chegada dessas lendas ao New York Cosmos - Pelé jogou lá entre 1975 e 1977, e o Kaiser, entre 1977 e 1980, para depois voltar em 1983 -, o cenário começou a mudar, trazendo visibilidade, paixão e um novo fôlego ao futebol nos EUA.  

Essa fase marcou o ponto de partida para o crescimento do esporte no país, que hoje abriga uma das ligas mais promissoras do mundo. Mas o sucesso do futebol nos EUA não fica somente com a Major League Soccer (MLS). 

O Mundial de Clubes da Fifa é prova disso. Nunca um torneio de futebol distribuiu tanto dinheiro em premiação – R$ 5,5 bilhões 

Para alguns brasileiros desavisados, uma pergunta pode ficar na cabeça: será que o futebol tem chance de ganhar ainda mais popularidade na maior economia do mundo? Se formos pensar no esporte como negócio, a resposta é sim.  

De uma certa forma, pelo pouco tempo de vida, a MLS, principal liga do futebol masculino do país, pode ser considerada um case de sucesso. 

País do futebol? 

Fundada em 1993, mas com sua primeira temporada oficial realizada três anos depois, a MLS vem registrando sucessivos aumentos de receita e público. Isso num país que historicamente deu pouca atenção ao esporte – pelo menos na modalidade masculina, já que no feminino as norte-americanas são as maiores vencedoras da Copa do Mundo com quatro conquistas.  

O melhor resultado do time masculino aconteceu no primeiro mundial, realizado em 1930, no Uruguai, quando os norte-americanos ficaram no terceiro ligar. Décadas depois aconteceu algo que também poderia parecer distante da realidade: uma Copa do Mundo realizada nos EUA, em 1994, que os brasileiros lembram tão bem. 

O fator Messi 

O recente boom da liga se deve em boa parte à ida de Lionel Messi, em 2023, ao Inter Miami. "O Messi não apenas valorizou o Inter Miami [a marca da equipe foi de US$ 55 milhões para US$ 190 milhões, algo em torno de RS 1 bilhão]. A liga aprovou a chegada do Messi porque sabia que seria bom como um todo", diz Amir Somoggi, diretor da Sports Value, consultoria especializada em marketing esportivo. 

"A MLS tem expandido o número de equipes, o que permitiu consolidar a presença em diferentes mercados nos Estados Unidos e no Canadá. Além disso, os investimentos em infraestrutura, com estádios modernos e específicos para o futebol, e as academias de formação têm melhorado significativamente a experiência dos torcedores e a qualidade do jogo", explica Diogo Kotscho, que foi por oito anos VP de Comunicação do Orlando City (clube em que jogou Kaká) e hoje é diretor de Comunicação e Marketing do Neom SC, time da Arábia Saudita. 

Liga envelhecida? Não hoje 

Se nos primórdios da bola nos EUA jogar por lá era visto como um sinal que o final da carreira do atleta estava se aproximando, hoje o quadro não é mais esse.   

"A MLS é longe de ser uma liga envelhecida. A média de idade dos clubes é bem baixa, os investimentos em academias têm sido fortes e os resultados dessa formação já começam a aparecer com americanos e canadenses aparecendo com destaque em alguns clubes relevantes da Europa, como nos casos de Pulisic [no Milan] e Alphonso Davies [no Bayern de Munique]", diz Kotscho.  

O especialista também lembra que a MLS tem sido destino constante de jovens jogadores da América do Sul nos últimos anos, em números superiores às estrelas em fim de carreira. "Acho que como estratégia de marketing, essas contratações [de veteranos] seguirão acontecendo, mas isso não significa que seja uma característica da liga como um todo", pontua. 

Acordos de transmissão 

Os acordos de transmissão também desempenharam um papel fundamental para essa expansão da MLS. A parceria com a Apple TV garantiu exclusividade na transmissão dos jogos, ampliando a presença e audiência global. O acordo com a gigante de Cupertino envolve US$ 2,5 bilhões (R$ 13,7 bilhões), além de ações no TikTok e no YouTube, de olho no público jovem e latino. E não se pode esquecer do Instagram. 

"O que houve com o Messi foi um boom global da liga. Hoje, o maior retorno que a liga gera em termos práticos é o Instagram. Isso é engraçado porque normalmente seria a transmissão, mas como hoje ela está em streaming, acabou passado para o Instagram. Quando você vai olhar os perfis dos times, não tem tanto retorno. O que gerou barulho realmente foi o Instagram do Messi. O Instagram normalmente é o segundo ou terceiro maior retorno para os patrocinadores. No caso da MLS, é o primeiro devido à conta do argentino", analisa Somoggi. 

Concorrência com as outras ligas 

O fato é que, apesar do boom da MLS no faturamento (em 2024, registrou R$ 13,1 bilhões, mais que o Brasileirão, por exemplo) e público (teve média de 23 mil pessoas por jogo na temporada passada), e com uma Copa do Mundo a ser realizada no país em 2026 (com México e Canadá), o futebol ainda está longe da popularidade de esportes como basquete, futebol americano e beisebol. Mas é preciso certo perspectiva. 

Pesquisa realizada pela Gallup no ano passado mostra o futebol americano com larga vantagem (41%) no quesito "esporte favorito para assistir" entre os norte-americanos. Bem atrás vem o beisebol (10%), basquete (9%) e...futebol (5%), ultrapassando o hóquei (4%). 

"É impossível o futebol ultrapassar em faturamento e em importância a NFL. A liga de futebol americano, para se ter uma ideia, é três vezes mais importante em termos de audiência que a própria NBA. Hoje, a expectativa é que a NBA fature US$ 12 bilhões (R$ 65,7 bilhões) e a MLS, US$ 2,2 bilhões (R$ 12 bilhões). A NFL está projetando um faturamento de US$ 20 bilhões (R$ 109,6 bilhões) para este ano. Então, não tem como ultrapassar", diz Somoggi.  

O especialista em negócios do esporte pontua, no entanto, que o futebol pode continuar ganhando força, "crescimento orgânico mecânico" nas palavras dele, especialmente entre latinos. Hoje, essa fatia do público representa 67 milhões de pessoas nos EUA – com expectativa de ultrapassar 100 milhões até 2045.  

Ou seja, o jogo ainda não chegou nem perto dos acréscimos na maior economia do mundo. 

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