PSG e Chelsea chegam à final da primeira Copa do Mundo de Clubes impulsionados pelas receitas envolvendo parceiros e novos negócios (Luke Hales / AFP)
Redação Exame
Publicado em 13 de julho de 2025 às 11h41.
PSG e Chelsea chegam à final da primeira Copa do Mundo de Clubes impulsionados pelas receitas envolvendo parceiros e novos negócios. O clube francês, por exemplo, tem sua maior parte de arrecadação vinda do setor de patrocínios, com 282 milhões de euros, de acordo com balanço divulgado na última temporada, além de outros 39 milhões de euros com merchandising.
No total, somando todas as propriedades, foram 806 milhões de euros de faturamento, quase o dobro de seu oponente, o Chelsea, que atingiu 541 milhões de euros. Com patrocínios, as receitas do time inglês também foram bem menores que o Paris, com 78 milhões de euros arrecadados, que poderia ser ainda maior, não fosse o fato do clube londrino estar atualmente desfalcado de um patrocínio máster.
É verdade que boa parte deste montante do PSG foi impulsionado pela parceria com a Qatar Airways, patrocinadora máster do clube. Em janeiro deste ano, as duas partes anunciaram a renovação do contrato até 2028, com valores estimados entre entre 60 e 70 milhões de euros por ano.
Mundial de Clubes: quem são os bilionários por trás de Chelsea e PSG?"Todo mundial empolga e movimenta pessoas em todo o mundo, sejam quais forem os clubes envolvidos nela, mas essa tem o encontro que mais movimenta redes sociais, e pessoas de diferentes gerações, porque coloca frente a frente um clube que historicamente sempre foi reconhecido como um dos quinze maiores da Europa, uma referência mundial, e outro, que é fruto desse novo processo, característico do nosso século, de aquisição e aportes 'quase que infinitos', que já gerou conquistas outrora improváveis, de Chelsea e Manchester City. É mais que um duelo entre clubes, mas entre gerações e conceitos. É um épico que une diferentes eras", analisa Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, que gerencia a carreira de centenas de atletas.
"A Copa do Mundo de clubes nunca foi só um sonho esportivo pro PSG, foi uma maneira de mostrar força e ganhar espaço no topo do futebol mundial. Com as receitas em ascensão, o time deixou de ser só um clube tradicional de Paris e virou um gigante global, influenciando até a economia da França. As receitas dispararam, o turismo cresceu, a mídia deu mais atenção, e o futebol francês ganhou um novo status. Se o título vier agora, vai ser mais do que levantar a taça: vai ser a prova de que esse projeto ambicioso mudou o jogo para o clube dentro e fora das quatro linhas", acrescenta Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, especializada no gerenciamento da carreira de atletas.
O faturamento do Chelsea nesta temporada poderia ser ainda maior, não fosse a ausência de um patrocinador máster no uniforme principal. Na última temporada, o clube londrino chegou a anunciar um acordo com a casa de apostas Stake, mas a parceria foi cancelada após forte rejeição por parte da torcida, contrária à associação do time com esse segmento.
Diante do impasse, a equipe optou por um contrato temporário com a empresa de tecnologia Infinite Athlete, que assumiu o espaço principal da camisa durante a temporada 2023/2024 por 46 milhões de euros. Para a atual temporada, a marca foi transferida para as mangas do uniforme de treino.
Além da Qatar Airways, que no novo acordo passou a incluir a exposição das marcas Qatar Duty Free e do Aeroporto Internacional Hamad, de Doha, no Catar, também possui acordos com a Nike, fornecedora oficial de material esportivo, e a GOAT, que patrocina a manga da camisa. Outros patrocinadores incluem a Snipes, parceira oficial de cultura e comunidade, e a Purnell, que lança relógios exclusivos em parceria com o clube.
Em 2025, o Chelsea finalmente acertou uma parceria de patrocínio master para a frente da camisa com a DAMAC Properties, incorporando o logo nos kits masculino e feminino nas últimas sete partidas da temporada 2024‑25 (incluindo quatro jogos da Premier League e confrontos da Conference League), com estreia durante a semifinal contra o Djurgården em maio. Esse acordo de curto prazo, que também envolveu o desenvolvimento dos “Chelsea Residences by DAMAC” em Dubai, foi motivado pela ausência prolongada de um patrocinador máster após o término do contrato com a Infinite Athlete em 2024. O acordo da DAMAC não cobre o Mundial de Clubes e é tratada como medida provisória, enquanto o clube segue em negociação com outros potenciais parceiros globais para a temporada 2025‑26.
"Chelsea e PSG são dois dos melhores exemplos de marcas que sabem trabalhar internacionalmente. Por terem vínculos históricos com o Brasil por conta de ídolos recentes e passado, pode parecer fácil, mas o segredo está numa estratégia global com olhar local. Profissionais ligados a esses clubes conhecem o Brasil e tem trabalho ativo aqui há mais de década, da mesma forma como exploram mercados como EUA, China e Oriente Médio. Claro, existe a influencia do perfil dos proprietários, mas reduzir o que o PSG faz a apenas a influencia do Catar é ignorar muito trabalho técnico de qualidade, inclusive posicionando o clube não só como entidade esportiva, mas como uma fashion brand - marca da Indústria da moda", aponta Alexandre Vasconcellos, gerente regional da Flashscore no Brasil, com experiência em marketing esportivo, comunicação, inovação e ESG no mundo dos esportes.
Em valor de elenco, o Chelsea não tem um potencial maior em relação ao PSG. Dados do Transfermarkt indicam que a equipe inglesa está avaliada em 1,467 bilhões de euros, contra1,293 dos francesas.
"No contexto global, o PSG busca consolidar-se como superpotência mundial, com um elenco estrelado e receitas robustas que sustentam altos investimentos.Enquanto o clube francês almeja a hegemonia continental, o inglês foca em competir consistentemente, mostrando que o potencial de arrecadação está diretamente ligado às ambições esportivas e à capacidade de monetizar sua marca globalmente", explica Thales Rangel Mafia, Gerente de Marketing da Multimarcas Consórcios.
"A final do Mundial é um dos momentos mais esperados do calendário esportivo global, e ficamos muito satisfeitos por termos sido escolhidos por empresas renomadas, agências de viagens parceiras e também por torcedores de diversos países. Isso reforça nossa capacidade de criar experiências únicas com logística precisa, segurança e conforto total. A operação ainda está acontecendo e, com a confirmação dos finalistas, esses números devem aumentar nos próximos dias", destaca Joaquim Lo Prete, country manager da Absolut Sport no Brasil.
Por parte do PSG, o fato de fazer uma exposição e publicidade estratosféricas em torno do clube e suas propriedades, atrelado ao matchday e expansão dos serviços nos jogos, proporcionaram não apenas o aumento de público local, mas de turistas; na última temporada, dados do Centro de Direito e Economia do Esporte (CDES) mostram que 29% dos torcedores presentes no Parque dos Princípes vinham de fora da capital, sendo que 14% de outros países. Isso influenciou, por exemplo, os setores de hotelaria, comércio e transportes.
Duas ações sociais do PSG tiveram impacto dentro de todo esse contexto citado acima: em meados de 2023, o clube inaugurou o 'Campus PSG', e consequentemente contratou centenas de novos funcionários, abrigando uma unidade da Escola Vermelha e Azul (École Rouge & Bleu), projeto que atendeu crianças de 7 a 11 anos. O outro foi o 'PSG for Communities', com programas voltados para crianças com autismo e desenvolvimento do futebol feminino em comunidades carentes da região. Estimas-se que mais de 20 mil jovens tenham sido beneficiados com essas ações.
Henrick Oprea, diretor da Escola Suíça de Brasília (SIS Brasília), que pertence ao grupo SIS Swiss International School - uma das maiores instituições de ensino bilíngue do país, relata a importância do esporte para o desenvolvimento infantil. “A atividade física é uma grande incentivadora da evolução do aluno em diferentes aspectos, com impacto direto na saúde e qualidade de vida do estudante, assim como no desenvolvimento cognitivo e social, além de trazer lições valiosas para a vida”, diz.
“Em nossa instituição de ensino, reconhecemos o valor das atividades extracurriculares no desenvolvimento holístico dos nossos alunos. Tais atividades, desde esportivas até artísticas, são essenciais para cultivar liderança, trabalho em equipe, habilidades de resolução de problemas, criatividade e habilidades comunicativas. Estes são elementos chave que complementam a aprendizagem em sala de aula. Visando enriquecer ainda mais nossa oferta extracurricular, identificamos a necessidade de uma parceria especializada nesta área que esteja alinhada com o nosso propósito”.
O uso do esporte como vetor de transformação social tem sido cada vez mais adotado em outros países — inclusive no Brasil, onde projetos financiados por meio da Lei de Incentivo ao Esporte vêm ganhando protagonismo. É o caso do Circuito de Stand Up Paddle, realizado pela Criape em parceria com a Associação Encaminhando, que oferece aulas gratuitas da modalidade com foco em inclusão social. A iniciativa já impactou dezenas de moradores por meio do esporte e da ocupação consciente dos espaços públicos.
Outro exemplo é o projeto “Na Atividade”, também idealizado pela Criape e Associação Encaminhando, voltado à prática de ginástica em comunidades fluminenses. A ação já beneficiou mais de 620 moradores e gerou dezenas de empregos e eventos sociais. “O esporte é uma ferramenta de transformação. Queremos que essas oficinas sirvam para muito além do lazer: que sejam espaços de crescimento pessoal e social”, destaca Cleverson Dutra, diretor de projetos da associação.