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De olho no “banco 3.0”, Bankly vai dobrar de tamanho a cada ano até 2025

Startup adquirida pela Méliuz quer ampliar ainda mais a base de clientes, estendendo a oferta de serviços como crédito a empresas de diferentes setores - e conta com o apoio da Méliuz para isso

 (Bankly/Divulgação)

(Bankly/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 25 de junho de 2022 às 11h00.

“Um banco, hoje, na minha visão, é qualquer empresa que detém o engajamento de usuários e que pode oferecer algum serviço financeiro a eles”. É essa a afirmação que Davi Holanda, CEO do Bankly, deixa clara logo no início do papo com o EXAME IN, e que traduz, em certa medida, toda a estratégia da empresa que está sob seu comando. Em pouco mais de meia hora, com um tom calmo e bastante didático, o executivo explica como a startup – fundada há apenas dois anos – chegou aos R$ 70,6 milhões em faturamento, crescimento de 58% em relação ao ano anterior, e já conta com 180 clientes. Em 2021, a plataforma transacionou mais de R$ 27 bilhões em volume total de pagamentos, ante R$ 1,8 bilhão em 2020. A meta daqui para frente é continuar com o pé no acelerador. Davi quer duplicar a startup de tamanho a cada ano até 2025. 

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Hoje o 'banco da Méliuz', a startup foi criada a partir da percepção de Holanda (ex-PagSeguro) do que viu ao chegar ao grupo Acesso em 2020. “Existe o banco 1.0, que o cliente paga para usar e é nossa referência de banco tradicional. Em seguida, veio o banco 2.0, em que o cliente não paga mensalidade para usar ou algo do tipo. E agora estamos na era do banco 3.0, que é a ‘fintechização’ das empresas. Quando cheguei ao grupo, vi que o modelo de negócio se parecia com o mais antigo de todos e vi que não fazia mais sentido. Daí veio a ideia de criar o Bankly, uma plataforma totalmente nova da qual sou o maior acionista”, diz. O executivo afirma, ainda, que o Bankly hoje contribui com 85% da receita do grupo e que demais serviços estão pouco a pouco sendo descontinuados dentro da empresa, o que ajuda a mostrar a força da nova oferta. 

Trata-se de um mercado aquecido. Estimativas da Bain Capital mostram que a indústria de incorporação de serviços financeiros em outros setores (embedded finance) deve movimentar US$ 3,6 trilhões ao longo dos próximos dez anos. O Brasil ainda é uma indústria em consolidação nesse sentido, mas nem por isso menos relevante. Uma das empresas que atua no setor de banking as a service, a Dock, captou US$ 110 milhões no mês passado e virou unicórnio com a rodada, passando a ser avaliada em US$ 1,5 bilhão. 

O serviço do Bankly, que combina ambos (BaaS e Embedded Finance) funciona mais ou menos como um Lego. A startup fornece os módulos separadamente  (APIs para PIX, cartão de débito, cartão pré-pago, conta corrente, antifraude, conta PJ e por aí vai) e desenvolve junto com a companhia cliente o produto final para o conjunto completo de peças combinadas, de olho no menor índice de erros possível. Alguns exemplos de projetos já conduzidos são a conta digital da Voltz, empresa da Energisa, e o Gira Bank, banco fundado pelo influenciador Carlinhos Maia e que usou toda a plataforma da empresa comandada por Holanda para colocar o negócio de pé. 

O contato com os clientes é realizado principalmente pelo site. Ao requisitar um orçamento, clientes recebem um e-mail com informações mais detalhadas de como a companhia funciona e, caso decidam seguir mesmo assim, respondem ao e-mail e um representante de vendas passa a analisar o caso com mais detalhes. Caso o projeto seja fechado, uma equipe de negócios, projetos, integração e tecnologia passa a se reunir para desenvolver o que é necessário e quais tipos de API  serão utilizadas. Depois de todo esse processo, uma área de testes é disponibilizada para que o cliente possa usar e identificar possíveis erros e, só no final, o projeto é colocado de pé para funcionar. Hoje, todo esse processo dura, em média, 69 dias.  A receita vem a partir de dois modelos: o tradicional de SaaS e outro, de "pay as you grow". Basicamente, o cliente contrata um pacote de transações, mas, caso exceda esse total, é cobrado de acordo com o uso e não com o fee original em dobro. 

Para empresas muito pequenas, o serviço é prestado via uma empresa terceirizada, que oferece uma plataforma white label em que essas empresas podem pagar – o que reduz consideravelmente os custos de desenvolvimento e implementação da plataforma em comparação com ao que é feito pelo Bankly e atende clientes em estágio inicial, sem tanto dinheiro para investir nesse aspecto. “A nossa visão e missão é muito direcionada a como a gente ajuda o nosso parceiro a ter sucesso e a crescer. Não quero ficar cobrando um monte de ‘tarifinha’, não. Inclusive, fazemos uma reunião mensal com os clientes e identificamos oportunidades de otimização de algumas iniciativas, inclusive para que eles reduzam custos. O cliente precisa crescer de forma sustentável para que a gente cresça assim também”, diz Holanda. 

A ideia é ter cada vez mais clientes e aperfeiçoar cada vez mais o tipo de serviço prestado. De olho no potencial do mercado e em estrutura para se desenvolver, o grupo Acesso foi adquirido pela Méliuz no ano passado, em uma transação de R$ 324 milhões. Uma aquisição que Holanda define como “uma relação de ganha-ganha-ganha”, se referindo à própria empresa, à Méliuz e aos clientes da plataforma de cashback. A meta do Bankly, em um aspecto mais aspiracional e pós-aquisição, é ser tão relevante para o aspecto financeiro das empresas quanto os provedores de soluções em nuvem (AWS, por exemplo) são para a infraestrutura de tecnologia de empresas. O resultado, para os clientes, é o de conseguir gerar receita na ponta do processo de compra de uma forma fácil e rápida.

Para lembrar, desde que foi fundada, em 2011, a Méliuz teve como foco a parte de cashback e cupons de desconto, estabelecendo um relacionamento com diferentes varejistas no país. Ao entrarem na plataforma, os clientes eram redirecionados aos sites e recebiam o dinheiro de volta em uma conta bancária de instituição financeira tradicional. Agora, o dinheiro fica na própria conta digital da companhia. É o primeiro passo para uma oferta mais robusta, que deve incluir outros pontos como crédito em breve. Uma analogia não exata, mas possível, é o movimento que o Mercado Livre fez de criar o Mercado Pago depois de já ter o marketplace bastante estabelecido.

Os números mostram o potencial que a combinação dos negócios já traz. Segundo os dados do primeiro trimestre do balanço da Méliuz, o Bankly gerou uma receita líquida de R$ 22 milhões, ante R$ 14,7 milhões no mesmo período do ano passado. É um crescimento que acompanha o da própria empresa-mãe: o faturamento de todos os demais serviços da Méliuz no período foi de R$ 90 milhões, crescimento de 74% na comparação anual. Hoje, a companhia ainda está investindo no ramp-up da startup – o que, consequentemente, permite deduzir uma contribuição ainda maior nos resultados ao longo dos próximos anos. 

Do ponto de vista de negócio, também há movimentos relevantes com a sinergia conquistada. A Méliuz, que antes tinha um cartão de crédito em parceria com o Banco Pan, passou a desenvolver um produto dentro de casa, que hoje está em fase final de testes por parte do Bankly. O produto ainda está em fase final de ajustes e deve ser comercializado aos demais clientes a partir do segundo semestre deste ano, segundo Holanda. Além disso, a empresa-mãe usa ferramentas de conta digital e cartão de débito já em parceria com a empresa adquirida.

Um ponto importante é que, mesmo dentro da Méliuz, o Bankly não tem concentração de receita de nenhum cliente, atualmente. Esse é, inclusive, defendido como um dos pontos diferenciais da companhia em relação a outra concorrente do setor, a Marqeta, que tem cerca de 65% da receita a partir de um único cliente, a startup Square, fintech co-fundada por Jack Dorsay, ex-CEO do Twitter. Outro ponto importante do Bankly é o fato de ser uma das únicas plataformas a ter licença bancária própria no Brasil. A empresa tem uma conta de liquidação no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e opera com uma licença de Instituição de Pagamento. 

Questionado a respeito dos planos de futuro em um ambiente de tantas incertezas, o executivo afirma que já conseguiu cumprir a meta de dobrar a operação de tamanho em relação ao ano passado no primeiro semestre de 2022 e que deve continuar nesse ritmo até o fim do ano. O foco é ser uma empresa ‘all weather’, em uma alusão à expressão usada por Ray Dalio, bilionário fundador da Bridgewater Associates. Ao que parece, a companhia tem tudo para chegar lá.

 

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