(Otto Aerospace/Divulgação)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 4 de outubro de 2025 às 07h56.
Se essa startup tiver sucesso, o avião do futuro não terá janelas – e seu sonho de consumo será voar em um deles.
O jatinho da Otto Aerospace ainda está em fase de protótipo e parece saído de um filme de sci-fi, mas já conseguiu um apoio de peso.
Nesta semana, a Flexjet, líder em aluguel de jatinhos no mundo, anunciou um contrato de compra para 300 unidades do Phantom 3500 – o que, a preço de tabela, somaria US$ 5,85 bilhões, segundo o Wall Street Journal. Foi a segunda maior encomenda da companhia no ano, atrás apenas dos US$ 7 bilhões em 182 jatinhos da Embraer anunciados em fevereiro, um recorde para a fabricante brasileira.
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Os jatos da Embraer começarão a ser entregues no começo de 2026. Já os da Otto ainda precisam mostrar que conseguem voar. O plano da companhia é ter seu primeiro voo em 2027 e ser aprovada para operação comercial em 2030. Se conseguir, será uma revolução para o mercado de aviação.
A ausência de janelas é apenas a ponta mais visível de uma forma totalmente inovadora de pensar as aeronaves. A fuselagem lisa, com poucos rebites ou frestas, torna o fluxo de ar menos turbulento, criando menos resistência (ou arrasto, no jargão do setor).
Com isso, a Otto afirma que consegue voar economizando 60% de combustível em relação às competidoras tradicionais e até 90% em emissões de gases de efeito estufa quando se trata de combustível sustentável de aviação (SAF).
Como exige menos combustível, o peso é menor, bem como o motor, o que também reduz o custo. “Isso pode, ao longo do tempo, tornar os voos privados mais baratos que os assentos na classe executiva de companhias aéreas”, afirmou o CEO Paul Touw ao WSJ.
No modelo, as janelas tradicionais foram substituídas por “janelas virtuais”, que funcionam a partir de câmeras de alta resolução instaladas na fuselagem. No interior, telas digitais de 1,8 metro de largura, nas laterais e no teto, vão exibir uma visão panorâmica e em alta resolução do entorno, no que a empresa vem promovendo como uma “visão sobrenatural”.
Sem claustrofobia: Telas de alta definição de quase dois metros transmitem a paisagem externa, nas laterais e no teto da aeronave (Otto Aerospace)
Fundada em 2008, a Otto levou quase 20 anos para chegar ao estágio atual. Mas já teve avanços relevantes: uma aeronave de demonstração, batizada de Celera 500 – e que lembra um pouco um zepelim –, foi apresentada em 2018 e fez uma centena de voos de teste ao longo de dois anos para validar boa parte dos princípios que agora estão sendo adotados no modelo comercial.
Testes feitos com o Phantom em túnel de vento também surpreenderam positivamente no ano passado, disse o CEO. A Otto já levantou US$ 250 milhões junto a investidores privados e está construindo o Phantom 3500 em Jacksonville, na Flórida, com apoio de um pacote de incentivos de US$ 515 milhões assegurado pelo governador Ron DeSantis este ano. (O ex-secretário de Estado americano e também republicano Mike Pompeo está no conselho da startup.)
Boa parte dos fornecedores já está selecionada e um mock-up em tamanho real foi apresentado recentemente em uma conferência do setor. A cabine tem 6,7 metros de comprimento, 2,3 metros de largura e comporta nove passageiros – o que a coloca em competição com o Praetor 500 da Embraer e o Challenger 3500 da Bombardier.
Por ora, a startup está mirando a aviação executiva, mas já tem planos de chegar também à aviação comercial. De acordo com Touw, a receita obtida com as vendas do Phantom 3500 deverá financiar o desenvolvimento de uma aeronave maior, voltada ao transporte regional, onde também bateria de frente com a Embraer.
Ao WSJ, no entanto, ele afirmou que os jatos executivos por si só são uma oportunidade de muitos bilhões de dólares:
“Todo mundo está entusiasmado com Firefly, SpaceX e Rocket Lab. Mas o mercado de transportar pessoas ricas pelo mundo todos os dias é, na verdade, muito maior do que o de mandar coisas para o espaço.”