Leandro Cuccioli, do Meli: aposta em aumento de frequência de compras no longo prazo
Repórter de negócios e finanças
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 20h18.
Última atualização em 4 de agosto de 2025 às 20h49.
Frete grátis para compras a partir de R$ 19 é música para o ouvido do consumidor, mas não necessariamente para o dos investidores — ao menos no curto prazo. Prova disso é o efeito do balanço do Mercado Livre em suas ações, que chegaram a cair mais de 6% no after hours da Nasdaq.
A linha final do resultado veio abaixo da média das projeções do mercado e as margens da companhia recuaram mais de dois pontos percentuais de um ano para o outro. A companhia reconhece que a retração é reflexo da estratégia de crescimento, que visa aumentar a frequência de compras online. A lógica é: quanto mais barato for o produto isento de taxa de entrega, mais o consumidor fará pedidos pela plataforma.
"No curto prazo isso tem um custo, porque a empresa abre mão da receita que receberia desse custo de frete pago pelo usuário. [...] Mas o que sabemos é que, no médio prazo, cada vez que a gente faz mudanças [no preço elegível a frete grátis], isso gera uma mudança de frequência e de quantidade de compra, que mais que 'repaga' o investimento de curto prazo, como esse que estamos fazendo", disse Leandro Cuccioli, vice-presidente sênior do Mercado Livre ao INSIGHT.
A receitas de e-commerce no Brasil, onde a nova política free shipping entrou em vigor no último dia 6 de junho, totalizaram US$ 2,123 bilhões, com crescimento anual de 28%. O país registrou ainda um aumento de 34% no número de itens vendidos e de 29% no volume de vendas brutas (GMV). Os números, segundo Cuccioli, capturaram a mudança nas regras de frete.
O Itaú BBA já previa uma pressão da nova política sobre as margens e calculava um impacto negativo de US$ 330 milhões no lucro do Mercado Livre em 2025, segundo relatório publicado antes da divulgação do balanço.
Mas também percebeu um movimento calculado da companhia para preservar market share em produtos de menor tíquete, onde a Shopee tem avançado. Assim como o BBA, o Goldman Sachs também já falava de compressão de margens no curto prazo, mas dizia não ter dúvidas sobre o impacto da estratégia em seus resultados operacionais de longo prazo.
Cuccioli explica que o frete grátis tem ainda o papel estratégico de levar o usuário até o checkout das compras. A entrega sem custo, normalmente, é feita em prazos maiores. E muitos consumidores que não chegariam àquela etapa da compra não fosse pelo free shipment acabam optando por pagar para receber o produto mais rápido.
"A promessa de uma entrega gratuita traz o consumidor até o final da compra. E aí pode ser que usuário escolha pagar. [...] Isso é algo que tem acontecido muito nos últimos dias, dentro de uma grande proporção de pessoas", explica o VP.
Cuccioli diz que o Mercado Livre tem sido disciplinado com despesas estruturais para conseguir bancar essa estratégia. As despesas com operações no Brasil, segundo o balanço da companhia, totalizaram US$ 2,834 bilhões no segundo trimestre. O valor é quase 40% maior que o registrado um ano antes.
O executivo diz que o custo de entrega é uma "fricção" que faz com que somente 15% do varejo na América Latina seja online. As mudanças na política de frete, explica, acompanham a evolução da malha logística que permite, em termos de custos e capacidade, a absorção do volume incremental que o free shipping vai trazer. No segundo trimestre, 57% das entregas do Mercado Livre foram processadas pela rede de fulfillment do Mercado Livre.