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Vítima do próprio sucesso? Mais rentável dos bancões, Itaú deixa de ser unanimidade entre analistas

No meio da mudança de percepção sobre os grandes bancos da bolsa, ITUB4 ainda larga na frente, mas precisa de surpresas positivas para sustentar valuation

 (Itaú/Divulgação)

(Itaú/Divulgação)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Repórter de negócios e finanças

Publicado em 15 de julho de 2025 às 06h07.

A percepção sobre os "bancões" na bolsa deu uma guinada no último ano. Bradesco (BBDC4), que ficou por um bom tempo na lanterna das preferências do sell side, virou top pick.

Com o Banco do Brasil (BBAS3) foi o contrário: a instituição passou por uma série de downgrades depois que a inadimplência do agronegócio abalou seus resultados.

O Itaú (ITUB4), por sua vez, vinha mantendo uma certa hegemonia dentro dessa nova configuração, com uma das maiores rentabilidades do setor, trimestre a trimestre, e uma boa avaliação dos analistas. Na semana passada, porém, teve sua unanimidade abalada.

O UBS BB diminuiu a classificação de ITUB4 de "compra" para "neutra" e o mercado demonstrou surpresa. Naquela quinta-feira (10), o papel teve a maior queda entre os incumbentes, recuando mais de 3%.

Ao justificar sua decisão, o UBS reconheceu as tendências operacionais fortes do Itaú, que tem o maior retorno sobre patrimônio (ROE) entre os 'bancões', na casa dos 23%. Também destacou os dividendos gordos distribuídos pela instituição, previstos em R$ 55 bilhões nos próximos 18 meses, pelos cálculos dos analistas.

O problema é o espaço limitado para a ação continuar subindo, diz o relatório. Até a data da publicação da análise, ITUB4 já havia subido 38% e o papel negociava a múltiplos historicamente altos — duas vezes o seu valor patrimonial. Por esse motivo, mesmo prevendo lucros maiores nos próximos resultados do banco, a casa avaliou que a performance já estava precificada na ação.

Novas surpresas

"O Itaú é uma vítima do seu próprio sucesso", afirma o sócio de uma gestora focada em renda variável. "Os atributos positivos que permitiram ao banco ser tão bem avaliado, negociando com prêmio de múltiplo a seus bancos, levam muitos a questionar de onde virá novas surpresas que permitam um retorno extraordinário em suas ações".

Para ele, a ação ainda poderá proporcionar um retorno composto positivo no longo prazo, dado a alta rentabilidade do banco.

"Para algo além disso, o Itaú terá que entregar um ajuste ainda maior em seu custo de servir clientes, que o habilite a crescer na baixa renda e expandir sua rentabilidade nos demais segmentos", complementa. A menor exposição à baixa renda foi justamente o que protegeu o banco no último ciclo de inadimplência em relação aos seus pares.

"Olhando para o futuro, prevemos que o Itaú volte a acelerar a concessão de empréstimos em segmentos específicos, principalmente agora que estabilizou a inadimplência da sua carteira de crédito", diz análise do Santander, que tem ITUB4 na sua carteira Top 10 ações do Ibovespa.

Para este ano, de Selic a 15%, o guidance formal do Itaú prevê uma desaceleração no crescimento da carteira em relação a 2024. A expansão está prevista entre 4,5% e 8,5%, ante os 15,5% do ano passado.

Prévia indica bons números

O balanço do banco no segundo trimestre está previsto para o próximo dia 5 de agosto. As prévias dos analistas apontam para mais um conjunto de resultados sólidos.

A prévia da Genial Investimentos projeta lucro líquido recorrente de R$ 11,4 bilhões, um novo recorde, enquanto o ROE deve permanecer estável em 22,1%. A carteira de crédito deve chegar a R$ 1,37 trilhão e a inadimplência, em patamares historicamente baixos, deve se manter estável na margem.

"Novas melhoras na qualidade do indicador exigiriam sacrifício de receita e rentabilidade, algo improvável em um ambiente com Selic elevada e inflação persistente", escreveram os analistas da casa.

Uma piora gradual em qualidade de crédito é esperada para para os próximos trimestres, mas a Genial avalia que o Itaú mostrou ter o melhor controle de risco entre incumbentes nos últimos ciclos, mostrando equilíbrio entre rentabilidade e crescimento. ITUB4 também segue no top pick da casa, com recomendação de compra.

O papel também tem a preferência de casas internacionais, como o BofA, que destaca "o histórico de execução e previsibilidade de lucros". O JP Morgan também mantém a classificação de performance acima do mercado para ITUB4, destacando "alta criação de valor" e uma geração de receita financeira acima dos seus pares.

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