Lion, sobre o impacto das tarifárias americanas: 'Enquanto a situação estiver controlada, estamos bem. Desconfortáveis, mas bem' (Germano Lüders/Exame)
Repórter de negócios e finanças
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 17h04.
Última atualização em 12 de agosto de 2025 às 17h50.
A queda de mais de 4% do Ibovespa em julho, junto com um fluxo negativo de participação estrangeira na bolsa, coincidiram com uma escalada de tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Mas, para André Lion, sócio e gestor da estratégia de ações da Ibiuna Investimentos, a guinada no mercado brasileiro após quatro meses de ganhos sequenciais não foi resultado de um "trade Brasil" ou "trade eleitoral" que precificou a continuidade do atual governo, como se ouviu de alguns agentes após a retomada de popularidade do presidente nas pesquisas. "O que vimos foi a consequência de um cenário global de realocação de capital", disse, ao INSIGHT.
Lion observa que os ativos brasileiros têm acompanhado o desempenho de emergentes desde o início do ano. O "tarifaço" contribuiu , sim, com uma perda maior em relação aos seus pares globais. "Trump inaugurou algo diferente", admite o gestor. Segundo ele, o mercado achava que as chances de o presidente americano interferir diretamente em questões além das comerciais, como as sanções ao judiciário, eram remotas.
Mas o sócio da Ibiuna tem visto o mercado muito mais influenciado pelo cenário global — em julho, emergentes, no geral foram penalizados por um dólar mais forte.
O componente eleitoral, por enquanto, passa longe das análises do gestor. "Nossa preocupação é monitorar eventos irreversíveis". Faltando ainda mais de um ano para as eleições presidenciais, o cenário ainda é muito aberto e pesquisas de intenção de voto de nada valem para o mercado a essa altura, afirma. "A chance de o cenário ser diferente do da pesquisa daqui a nove meses é de 100%".
"Em conjunto com a percepção de pico de taxa de juros, as empresas domésticas devem continuar performando bem no curto prazo. Neste ambiente, mantivemos nossas posições em shopping centers, incorporadoras, energia elétrica, varejo, bens de capital e bancos", diz a gestora, sobre a estratégia de seus fundos long only, long short e long biased. Esses, com posição majoritária em Brasil, tiveram rendimentos de 19,22%, 13,24% e 22,53% no ano, respectivamente.
A Ibiuna Investimentos tem, hoje, R$ 12,5 bilhões sob gestão.
De momento, André Lion avalia que o impacto das tarifas americanas para a economia brasileira, de 0,2% a 0,4% do PIB, é marginal. E que o receio de que o estrangeiro passasse a ter uma visão de Brasil como "país tóxico" para se investir, não se concretizou. "Enquanto a situação estiver controlada, estamos bem. Desconfortáveis, mas bem", complementa Lion.