Vale: Sistema de gestão estimula todos os profissionais a reportarem diariamente problemas, riscos críticos e ações necessárias para melhorar uma tarefa (Germano Lüders/Exame)
Vice-presidente de operações da Vale
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 11h28.
Última atualização em 19 de agosto de 2025 às 12h05.
Em uma indústria na qual cada detalhe é crucial e os riscos são inerentes à natureza da operação, a segurança transcendeu o status de mera meta na mineração, tornando-se um diferencial competitivo e, sobretudo, um imperativo ético. Não há inovação, produtividade ou reputação que se sustentem em empresas que não zelam por seus colaboradores.
Nos últimos anos, o setor deu passos significativos para transformar sua abordagem em relação à segurança operacional. Atualmente, prevalecem práticas mais transparentes, sistemáticas e preventivas. Entidades como o Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) reforçam que a segurança deve ser um valor inegociável para o setor, que avança com metas cada vez mais ambiciosas e compromissos públicos.
A busca por zero acidentes continua sendo um objetivo compartilhado pelas principais companhias globais, guiadas por aprendizados constantes e aprimoramento contínuo de seus processos.
Essa transformação exige método. Para ser efetiva, a segurança precisa ser estruturada, mensurável e, principalmente, vivenciada no dia a dia. Nesse contexto, ganham força os sistemas de gestão integrados, com rotinas bem definidas, metas claras e responsabilidade compartilhada em todos os níveis da organização.
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Na Vale, essa mudança de mentalidade vem sendo conduzida desde 2019, com o amadurecimento de uma cultura baseada na prevenção. Desde o acidente em Brumadinho, investimos mais de R$ 10 bilhões para descaracterizar as barragens à montante em Minas Gerais e no Pará, e estamos próximos de cumprir a meta de não ter nenhuma estrutura em nível máximo de emergência.
Contudo, a jornada de evolução da excelência operacional na Vale é mais ampla e profunda, de forma a transformar a segurança em uma verdadeira obsessão no dia a dia de nossas operações.
O principal motor desse processo é o Vale Production System (VPS), inspirado no modelo japonês da Toyota (TPS). Mais do que um conjunto de ferramentas, o VPS é um sistema de gestão dinâmico, que orienta as decisões, organiza as rotinas operacionais e sustenta a cultura de segurança e disciplina em nossas atividades. Esse sistema de gestão estimula todos os profissionais a reportarem diariamente problemas, riscos críticos e ações necessárias para melhorar uma tarefa, atingir uma meta ou manter um equipamento.
Um exemplo prático da aplicação do VPS é o programa Hazard Identification and Risk Assessment (HIRA), que desde 2019 ajuda a mapear e avaliar riscos elevados de segurança. Através deste programa, por exemplo, aumentamos o controle preventivo de ativos utilizando sistemas de monitoramento contínuo nas minas e usinas, eliminamos a exposição dos funcionários ao monóxido de carbono e, através do Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG), controlamos as condições das nossas estruturas geotécnicas 24 horas por dia. Tudo isso colabora para a construção de um ambiente de trabalho mais seguro.
Os resultados da aplicação desse modelo de gestão mostram que estamos no caminho certo. Em 2024, registramos uma redução de 69% na Taxa Total de Ocorrências de Acidentes Registráveis (TRIFR) em comparação com 2019 — um dos melhores desempenhos do setor. Em relação ao primeiro semestre de 2024, o número de lesões registráveis de alto potencial caiu 55% em 2025. Mais do que números, esse avanço significa que mais pessoas voltam para casa em segurança todos os dias.
Outro indicativo importante dessa mudança de cultura é o crescimento de 265% nos registros de nível 3 (N3) em 2024. São relatos voluntários de situações de risco identificadas pelos próprios empregados. Essa atitude proativa revela maturidade, engajamento e um ambiente de segurança psicológica. Segurança não é apenas uma diretriz da liderança — é um valor que precisa ser incorporado por todos os funcionários da empresa.
O desafio há muito deixou de ser a reação aos riscos. O verdadeiro salto está na capacidade de antecipá-los, exigindo, portanto, planejamento, disciplina, tecnologia e dados. É por isso que os controles críticos, a implementação da correta governança de riscos e a integridade dos ativos passaram a ocupar papel central nas estratégias de operação em toda a indústria.
O setor precisa tratar a segurança como ciência: com métricas, análises preditivas, ciclos de melhoria contínua e formação constante das equipes. A Vale tem investido em centros de monitoramento de ativos (CMA) que, através da tecnologia, monitoram em tempo real aproximadamente 300.000 pontos nas nossas operações. Tão importante quanto a tecnologia é a capacitação das pessoas — são elas que interpretam os dados, tomam decisões e, dessa forma, materializam a cultura que desejamos implementar.
Cada acidente evitado é fruto de um ecossistema onde a segurança está presente desde a concepção do projeto até a execução das tarefas mais simples. Este ecossistema torna-se sustentável através da disciplina na gestão, aprendizado contínuo, troca de experiências entre áreas e a coragem para revisar padrões tantas vezes quanto necessário.
A jornada da segurança operacional é contínua, longa e não comporta atalhos. Contudo, o retorno é incontestável: um ambiente mais humano, produtivo e engajador. O que está em jogo vai muito além do cumprimento de metas — trata-se de proteger vidas, fortalecer a confiança da sociedade e preparar a indústria para um futuro mais sustentável. Que esse movimento se amplie e se consolide em todo o setor de mineração no Brasil. Porque a medida mais valiosa do nosso sucesso é a vida preservada.
* Carlos Medeiros é vice-presidente de operações da Vale