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Próxima parada, Índia. Como a Embraer quer conquistar a quarta maior economia do mundo

Brasileira anuncia novo escritório no país, que tem apenas 50 aeronaves da sua fabricação – mas um potencial enorme na aviação comercial, diz o CEO Francisco Gomes

Gomes, da Embraer: Hoje, há apenas 50 aeronaves da fabricante voando na Índia. são 50 num país desse tamanho. "É muito pouco para um país com 1,4 bilhão de pessoas" (Leandro Fonseca/Exame)

Gomes, da Embraer: Hoje, há apenas 50 aeronaves da fabricante voando na Índia. são 50 num país desse tamanho. "É muito pouco para um país com 1,4 bilhão de pessoas" (Leandro Fonseca/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 3 de junho de 2025 às 12h55.

Última atualização em 4 de junho de 2025 às 10h00.

Nova Délhi, Índia* — A um plenário cheio de executivos da indústria aérea, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, destacou ontem os investimentos do país em infraestrutura para o setor.

O governo pretende inaugurar 50 aeroportos nos próximos cinco anos e tem impulsionado o crescimento do setor com o UDAN, um programa federal lançado em 2016 para aumentar a conectividade de cidades pequenas e médias.

A Embraer está de olho na oportunidade.

Hoje, durante a assembleia anual da Iata, associação global da indústria de aviação na capital indiana, a empresa fez um evento paralelo na embaixada local para anunciar a criação de uma subsidiária no país e a inauguração de um escritório próprio da capital Nova Delhi, prevista para o terceiro trimestre.

“Temos 4 mil aeronaves voando no mundo inteiro e são 50 num país desse tamanho. É muito pouco para um país com 1,4 bilhão de pessoas”, diz o CEO da Embraer, Francisco Gomes, ao EXAME INSIGHT.

Dessas 50 aeronaves, 8 são aeronaves de defesa, 31 são jatos executivos e 11 aeronaves comerciais — todos modelos ERJ145 e E175, operados pela Star Air, uma companhia focada em voos regionais.

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Saindo dos turbo-hélices

A Índia apresenta avanços significativos na expansão de sua infraestrutura terrestre, com crescimento acelerado das ferrovias e rodovias. Ainda assim, muitas pequenas cidades do país continuam dependentes do transporte aéreo, servido principalmente por aviões turbo-hélice (turboprop), que são lentos e limitados em alcance.

Segundo Raul Villaron, responsável pela aviação comercial da Embraer na região Ásia-Pacífico, o alcance dos turboprops é de cerca de 500 km, enquanto os jatos da Embraer, como o E2, conseguem voar até 6.000 km, reduzindo significativamente o tempo de viagem.

“Um voo que leva duas horas num turboprop pode ser feito em uma hora e meia, até uma hora e vinte num jato, o que representa uma grande vantagem para o passageiro”, explica Villaron.

A empresa projeta uma demanda de 500 aviões ao todo para os próximos 20 anos na Índia, sendo que cerca de 300 unidades deverão ser requisitadas já na próxima década.

Esse mercado está ligado justamente à substituição dos aviões turbo-hélice por jatos mais rápidos e confortáveis, capazes de atender rotas mais longas com maior eficiência.

A Embraer considera ampliar sua penetração na Índia com os modelos E175 e E2, e aproveitou o encontro da Iata para "boas conversas com as companhias aéreas indianas", indica o executivo.

O E175, com capacidade para cerca de 80 passageiros, atende à demanda das companhias aéreas que operam voos para cidades menores. Nelas, o fluxo de passageiros é insuficiente para justificar aeronaves maiores do tipo narrow body, que costumam ter entre 180 e 200 assentos.

Já o E2, modelo de nova geração, oferece maior eficiência e conforto para rotas regionais e maiores.

Bem posicionada na defesa

Em fevereiro de 2024, a Embraer já havia assinado um memorando de entendimentos com a Mahindra Defence Systems para potencial atuação em programas de defesa do governo.

A defesa é, atualmente, o segmento em que a Embraer está mais "bem posicionada" não só para venda, mas também pela parceria com a Mahindra.

A companhia projeta que a demanda por aeronaves do porte do KC-390 em todo o mundo é de 500 unidades nos próximos anos. Dessas, 23% devem ser justamente para a região da Ásia Pacífico.

"No mercado de defesa, a Índia é um player super relevante. A região Ásia Pacífico está expandindo demais. Tem uma frota muito antiga de aviões militares voando", diz Bosco da Costa Jr., presidente do segmento de defesa e segurança da Embraer.

Com a renovação dessa frota, a expectativa da companhia é de que sejam necessários mais centros de manutenção e centros de treinamento, além de uma cadeia de suprimentos local para reposição de peças.

"Do ponto de vista tecnológico, o KC hoje não tem competidor, considerando que é o único desenvolvido no século XXI, do ponto de vista tecnológico", defende Costa Jr.

Entre os principais rivais do modelo brasileiro estão o C-130, da Lockheed Martin, e o A400M, usado em algumas campanhas militares.

Muito além da simbologia, o anúncio do escritório é um avanço importante da Embraer no país. Há três anos, a companhia não tinha representantes na Índia – atendia o mercado por Singapura, a cinco horas de voo do país.

O novo escritório será apoiado por todas as divisões importantes da empresa – engenharia, serviços e suporte, vendas e desenvolvimento de negócios. A expectativa é de que, com o escritório, os atuais 10 postos da empresa no país cheguem a 100.

"Estamos contratando. Vamos contratar uma equipe de engenharia para aproveitar a parte de software, em que eles são muito bons, gente de procurement, de relações institucionais", diz Gomes.

A companhia, no entanto, não deve fazer maiores movimentos de montagem de aeronaves comerciais enquanto a demanda não escalar, como já acontece com o segmento de defesa.

“Defesa já faz sentido. São 40, 60 KCs. Faz todo o sentido. Avião comercial precisa ter uma ordem de 200. Se tiver uma ordem dessas em alguns anos a gente vai estudar o que a gente pode trazer para cá”, afirma Gomes.

*A repórter viajou a convite da Iata

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