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Stone dobra base de clientes, mas expansão custa queda de margem

Com absorção da Linx, software já responde por 21% da receita da empresa combinada

Stone: esforço para recuperar rentabilidade com alta nas taxas cobradas de clientes (Stone/Divulgação)

Stone: esforço para recuperar rentabilidade com alta nas taxas cobradas de clientes (Stone/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 16 de novembro de 2021 às 21h00.

A Stone segue com o pé no acelerador, como se ainda fosse uma startup. A expansão na receita e na base de clientes continua forte, embora em ritmo sutilmente menor do que no trimestre anterior. Após finalmente absorver a Linx, a empresa vai agora mergulhar nas oportunidades de cross selling que o negócio trouxe. “A base de clientes da Linx movimenta por ano R$ 350 bilhões, entre pagamentos em dinheiro, e-commerce e cartão. Certamente, vamos buscar uma parte importante disso com todo nosso portfólio”, diz Augusto Lins, presidente da Stone, em entrevista ao EXAME IN. Mas o executivo explica que o tamanho da oportunidade ainda não foi quantificado exatamente

O balanço da Stone do terceiro trimestre mostra que está mais caro crescer. E também registra que para inovar e ampliar o portfólio de produtos, é preciso fôlego financeiro.  Além disso, o intervalo de julho a setembro já deixa evidente uma maior pressão no custo de funding da empresa, refletindo a alta na taxa de juros e o crescimento em serviços bancários e de pagamentos.

A companhia registrou um prejuízo de R$ 1,26 bilhão, de julho a setembro, comparado a um lucro líquido de R$ 249 milhões em igual período de 2021. Só que esse número embute a perda de valor da fatia de 5% no Banco Inter, ao longo do terceiro trimestre: o ajuste negativo foi de R$ 1,34 bilhão. Como está registrado como investimento financeiro, a volatilidade do mercado acionário invadiu o balanço da Stone, mesmo sem que o prejuízo tenha se concretizado.

Excluído esse efeito, o lucro líquido ajustado teria ficado em R$ 133 milhões — uma queda de 54%, resultado da alta no custo de funding e do aumento das despesas, em sua maioria destinadas a desenvolvimento de produtos, tecnologia e aumento de pessoal.

“Não é a despesa clássica, gasto. É uma forma de investimento”, ressalta Augusto Lins. O market share da Linx avançou de 10,6% para 12,7% ao longo deste ano. “A gente vê o resultado disso em crescimento, como estamos vendo agora o esforço feito no primeiro semestre”, diz o executivo. A receita líquida da Stone saiu de R$ 934 milhões, no terceiro trimestre de 2020, para R$ 1,47 bilhão, de julho a setembro deste ano, um aumento de 57%.

O destaque desse avanço está na consolidação da Linx, que impulsionou a área de serviços, que trouxe receita de R$ 371 milhões, ante a R$ 92,5 milhões, na comparação anual. A frente de software responde agora por 21% da receita. Esse é o primeiro balanço em que a Linx está integralmente consolidada, uma vez que a transação foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em junho.

Margens

O desafio do funding com a Selic mais alta e o avanço da empresa cada vez mais na frente bancária se reflete pela perda na margem bruta, uma vez que o custo dos serviços saltou de R$ 208 milhões para R$ 525,6 milhões: uma alta de mais de 150%.

As despesas administrativas saíram de R$ 106 milhões para R$ 360 milhões. Nesse período, a Stone dobrou de tamanho: eram 7.000 colaboradores e agora são 14.000. O aumento das despesas com vendas, com mais esforços de marketing, também está lá na lista de explicações para a queda do lucro líquido: aumentou de R$ 139 milhões para R$ 308 milhões. O gasto, que representava 15% da receita líquida, pulou para 21%. Não por acaso, o Ebitda (excluído o efeito do Banco Inter) caiu 8%, para R$ 473,3 milhões. A margem recuou de 55,1% para 32,2%, na comparação anual.

Por fim, há ainda a despesa financeira, que pesou na comparação anual, já que houve emissão de dívida para pagar parte da aquisição da Linx. Essa linha trouxe uma despesa de R$ 330,7 milhões, frente a R$ 64,7 milhões no mesmo intervalo.

O dobro

O volume total transacionado (TPV) pela companhia alcançou R$ 75 bilhões, nos três meses finalizados em setembro. O número equivale a uma expansão de 53,6% em relação a 2020, excluído o impacto do coronavoucher, e de 28% sobre o trimestre anterior. No segundo trimestre, a expansão foi ligeiramente superior a 62%.

A base de clientes ativos terminou setembro em 1,4 milhão, o dobro do que a empresa tinha um ano atrás. Foram adicionados 294 mil usuários somente ao longo do trimestre. A base de serviços de pagamentos se multiplicou por 4 e fechou o trimestre em 423 mil. De acordo com Augusto Lins, trata-se de um produto concentrado mais em pequenas e médias companhias e sua penetração está em cerca de 50%.

Novos produtos

Lins listou uma série de novos produtos que a Stone vai lançar, que cada dia mais a colocam como uma fintech, para além de uma empresa de meios de pagamentos. Depois da baixa de R$ 780 milhões referente às operações de crédito realizadas no primeiro semestre, a companhia prepara o retorno a esse mercado.

“Vamos começar a retomar o crédito ainda no fim desse trimestre. Mas em um modelo piloto, porque não queremos mais problemas nessa frente.” No início, a empresa vai adotar solicitação de garantias parciais, além dos recebíveis. E depois também chegará ao mercado o cartão de crédito e também empréstimos de curto prazo. “Por que cartão, Augusto?” “Porque o cliente pediu”, afirma ele, sempre com a fala afiada no que diz respeito ao posicionamento para os usuários.

Além de novos produtos, Lins destaca que a Stone está "robustecendo" o que já possui no portfólio, tornando melhor, com mais investimento em tecnologia.

O executivo afirma que a Stone tem como foco crescer não apenas a base de usuários mas também o valor que cada um gera para a empresa. Nas pequenas e médias empresas, a receita da unidade econômica está em R$ 365, 3% a mais do que um ano antes. No segmento de micro empreendedor individual (MEI), a expansão foi de 247%, para R$ 117.

Três anos de IPO

A Stone completou, no fim de outubro, três anos da listagem na Nasdaq, quando foi avaliada em US$ 9 bilhões. A companhia aproveitou a divulgação do resultado do terceiro trimestre para fazer um balanço de sua expansão desde então. Em setembro de 2018, a base de clientes era de 237 mil, ou seja, foi multiplicada por 5,7 nesse período. A receita é 3,5 vezes a original da listagem, saindo de R$ 414 milhões para R$ 1,47 bilhão.

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