Jatahy e Birman no anúncio da fusão, em março do ano passado: Relação revista, olhando menos para o acordo de acionistas (Leandro Fonseca/Exame)
Editora do EXAME IN
Publicado em 30 de junho de 2025 às 07h34.
Última atualização em 30 de junho de 2025 às 07h41.
Desde que a Arezzo&Co anunciou a fusão com o Grupo Soma, em fevereiro do ano passado, havia temores sobre as diferenças entre Alexandre Birman e Roberto Jatahy, os sócios majoritários de cada uma das companhias, respectivamente, e que se tornaram co-controladores da Azzas 2154.
Com perfil distinto e as personalidades, o risco acabou se materializando rapidamente.
As divergências se tornaram públicas e acabaram pesando sobre o valor de mercado da companhia, que chegou a valer menos de R$ 5 bilhões em março deste ano – praticamente o que o Soma pagou apenas pela Hering em 2021 –, num momento em que a Azzas ainda custava a mostrar a obtenção de sinergias.
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Agora, pouco menos de um ano depois de a fusão ter sido concluída -- e com alguma recuperação no valor de mercado --, os sócios estão levantando a bandeira branca e sinalizando que vão trabalhar em mais harmonia.
“Estamos botando o acordo de acionistas na gaveta”, afirma Roberto Jatahy, numa entrevista conjunta ao lado de Alexandre Birman – a primeira desde que os desentendimentos vieram à tona.
“Ele foi feito pensando em proteger cada BU [unidade de negócio], mas na prática, serve em caso de litigância. Estávamos olhando para ele o tempo todo e isso é disfuncional para efeitos de maximização de valor para a companhia.”
Entre os principais pontos do acordo de acionistas, estava a liberdade irrestrita para Roberto Jatahy gerir a unidade de vestuário feminino, que reúne a maior parte das marcas que vieram do grupo Soma, apesar de Birman ser o CEO da operação combinada – o que estava por trás de boa parte dos atritos.
Birman também faz seu mea culpa. “Tive pouca empatia em relação à posição do Roberto, que estava me convidando para o ser o executivo principal da empresa, uma posição que ela já ocupou. Eu poderia ter feito um trabalho de mais parceria com ele.”
E acrescenta que a nova relação envolve uma troca. “De um lado, mais reconhecimento e atitude da minha parte em relação ao papel do Roberto e de outro, de mais confiança Roberto para que eu toque a empresa.”
A saída das trincheiras não envolve nenhuma revisão formal do acordo de acionistas, mas o maior sinal do novo momento da companhia é uma mudança no conselho, que acaba de ser divulgada.
Pedro Parente, que era chairman e espécie de ‘mediador’ entre os acionistas, deixa o órgão para dar lugar à Nicola Calicchio, ex-presidente da McKinsey e um dos especialistas mais renomados em estratégia corporativa, com experiência em diversas fusões e aquisições, que chega como fiador e comandante da fase mais focada na operação.
O órgão também fica mais enxuto, saindo de nove para sete membros. Saem Anna Chaia e José Ernesto Bologna, que seguirão atuando como special advisors.
Mais que dar agilidade, o novo desenho reflete uma situação mais pacificada em que não são necessários três membros independentes para se contrapor aos três indicados por cada um dos sócios majoritários.
Também presente na entrevista, Parente é falou sobre os percalços dos últimos anos.
“Cheguei em um momento onde o aspecto mais fundamental era construir a governança, com harmonia, integração e a confiança entre os sócios co-controladores”, afirma. “Tivemos momentos difíceis, mas hoje a conversa está muito mais fluida e o entendimento, especialmente dos problemas em relação a gerir com base no acordo de acionistas, bem pacificado.”
Finda a missão, Calicchio chega agora com a missão de dar gás à integração e trazer uma visão de futuro para a companhia, que fatura mais de R$ 14 bi por ano e reúne marcas como Hering, Reserva, Schutz e Farm.
“Ficou claro que tinham coisas importantes acontecendo. [Perguntei:] ‘vamos parar de ficar discutindo reunião prévia, o direito de um, o direito de outro e vamos focar nossa energia para o mercado consumidor?’ ‘Vamos’. Nisso eu posso ajudar”, afirma.
“Vamos continuar integrando, extraindo sinergias, melhorar a geração de caixa. Mas e depois? Para onde vamos? Vamos para novas categorias de produto e vestuário em que não atuamos? Em categorias que a gente já penetra, mas podemos ganhar mais share? Outras categorias do varejo especializado? São discussões que a gente vai inaugurar agora no conselho”, diz Birman.
Questionado se uma revisão no acordo de acionistas saiu totalmente da mesa, Birman afirma que a prioridade é gerar valor na companhia:
“Até a gente chegar no número que a gente acredita, no valor certo para essa empresa não tem mais essa conversa. Quando chegar lá, a gente vê o que vai fazer da vida um do outro. Mas esse número está longe e vamos trabalhar muito para alcançá-lo."