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Na crise geopolítica, bitcoin é cada vez mais uma reserva de valor

Se antes o bitcoin era visto como “cyberpunk” e “para malucos”, agora ele parece estar cada vez mais próximo de assumir um papel antigo: (e previsto) o do “ouro digital”. Mas será que estamos prontos para isso?

 (Reprodução/Reprodução)

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 29 de junho de 2025 às 10h00.

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Por João Canhada*

Durante décadas, a lógica era simples: em tempos de guerra, compre ouro. O metal era visto como o último porto seguro quando o mundo entrava em turbulência — um ativo escasso, físico, tradicionalmente imune às decisões de governos e bancos centrais.

Mas o mês trouxe uma perspectiva nova. Em meio ao maior conflito no Oriente Médio em anos — com Israel atacando instalações nucleares no Irã, e os Estados Unidos entrando diretamente no embate — o ouro até subiu, como esperado. Mas o que mais chamou atenção foi o comportamento do bitcoin.

O que vimos foi um ativo – até então sinônimo de volatilidade e especulação – cair 7,5% nos primeiros dias da guerra… E depois subiu quase 10%. Tudo isso independentemente da retomada armamentista e do fracasso temporário do cessar-fogo entre os países.

Essa não é a primeira vez que o bitcoin reage a um choque externo. Mas é a primeira vez que ele o faz como um ativo institucionalizado, regulado por ETFs, negociado por fundos e detido por governos. Mais do que isso… É a primeira vez que essa reação se aproxima tanto da lógica do ouro: queda inicial, rápida recuperação e consolidação como ativo escasso em um mundo incerto.

Se antes o bitcoin era visto como “cyberpunk” e “para malucos”, agora ele parece estar cada vez mais próximo de assumir um papel antigo: (e previsto) o do “ouro digital”. Mas será que estamos prontos para isso?

Teste de Stress do bitcoin

Para responder essa pergunta, é importante a gente analisar o contexto em que essa análise está sendo feito. Por isso, vou me permitir vestir meu “colete de especialista político” e pensar, junto com vocês, o cenário atual e como o bitcoin está reagindo a tudo isso.

Bom, para começar, não é novidade que em 13 de junho, uma crise geopolítica no Oriente Médio mexeu com o mundo todo: Israel lançou uma série de ataques aéreos contra três instalações nucleares iranianas, sob a justificativa de violações nos acordos de não proliferação. Em resposta, o Irã revidou belicamente e aprovou o bloqueio do Estreito de Ormuz — ponto vital para o escoamento de cerca de 20% do petróleo global.

Com isso, o mercado perdeu suas estruturas e viu uma nova enxurrada de incertezas o atingir em cheio. O petróleo Brent disparou, o ouro se manteve próximo das máximas históricas e o DXY seguiu em queda, operando em mínimas de três anos.

O bitcoin, que havia sustentado o patamar acima de US$ 100 mil por mais de um mês, caiu brevemente para US$ 99.300, uma retração de 4% em 24 horas. Mas a recuperação estava logo ali, e a moeda voltou para os US$ 107 mil rapidamente.

Por que isso seria reserva de valor?

Historicamente, as guerras sempre funcionaram como catalisadores para revelar quais ativos realmente resistem ao teste do medo. E o desempenho do bitcoin durante o conflito entre Israel e Irã permitiu, no mínimo, a gente observar a narrativa do ouro digital na prática – mesmo que por alguns dias..

No caso, logo após o início dos ataques, o bitcoin caiu cerca de 7,5%. Mas em poucos dias, já havia se recuperado com uma alta de 9,95% a partir da mínima — superando a marca dos US$ 105 mil novamente.
A princípio, poderíamos dizer que essa seria apenas mais uma oscilação típica de um ativo volátil. Mas o background dessa movimentação abre brechas para um comportamento estruturalmente diferente.

Durante o pico do conflito, mais de 700 mil BTCs foram vendidos, a maioria de carteiras de curto prazo — o que a gente considera como os mais especuladores. Historicamente, uma venda em massa desse tamanho derrubaria o mercado, levando bilhões de dólares para fora do mercado, e liquidando uma porção significativa de contratos futuros.

Mas desta vez, a liquidez foi absorvida quase instantaneamente, sem colapsos. Em outras palavras, a compra foi tão forte quanto a venda. Mas de onde veio esse apetite?

Grandes investidores e o chamado smart money estavam bem posicionados. Com bolsões de liquidez em níveis muito próximo ao de operação do mercado. Ao mesmo tempo, o apetite institucional não recuou. Ao contrário, se fortaleceu.

Na análise, os ETFs à vista de bitcoin nos EUA já somam mais de US$ 45 bilhões em entradas desde janeiro, superando os ETFs de ouro no mesmo período. Além disso, já são 11 dias consecutivos de fluxos de capital positivo para os fundos regulados. Ou seja, os investidores estão comprando bitcoin em meio à guerra

Com isso, é natural que a gente comece a questionar qual o papel que o bitcoin está exercendo neste momento de crise. E, por isso, vemos mais um sinal de que a criptomoeda pode estar adotando um comportamento muito mais próximo ao ouro do que à Nasdaq, por exemplo. Isso permite que, pelo menos, possamos discutir se o bitcoin não está se comportando mais como reserva do que como especulação.

É a vez do bitcoin

Durante décadas, o portfólio conservador em tempos de crise era quase automático: dólar forte, ouro, e treasuries norte-americanos. Mas a tensão geopolítica está nos mostrando rachaduras nessa “tríade” — e o bitcoin aparece cada vez mais como a peça que pode, no mínimo, participar deste grupo.

A primeira comparação inevitável é com o ouro. Ambos são ativos escassos, globais e fora do controle direto de governos. Mas o ouro é limitado pela logística e pela sua natureza analógica. O bitcoin, por outro lado, é instantâneo, programável e com liquidez crescente — atributos que o tornam mais adaptável a um mundo interconectado e digitalizado.

Não por acaso, o nome “ouro digital” é atribuído ao bitcoin há muitos anos!

Depois vem o dólar. Ainda é a principal moeda de reserva global, mas cada vez mais questionado. Como bem colocou Matt Hougan, CIO da Bitwise, “talvez imprimir dinheiro do nada, como começamos a fazer em 1971, seja realmente uma ideia maluca”. A credibilidade fiduciária dá sinais fortes de declínio. Enquanto isso, o bitcoin, com seu limite de emissão conhecido e deflacionário, representa o contraponto a essa “loucura monetária”.

Essa desconfiança passa também pela redução da credibilidade da economia dos Estados Unidos. Como “recompensa”, até os poderosos treasuries de 10 anos estão com desempenho muito distante do que seria considerado uma boa reserva.

O que isso nos mostra é que o bitcoin pode não estar mais sendo apenas um “ativo de risco”. A realidade parece ser outra e se assemelha muito a um contexto de proteção contra uma crise geopolítica intensa.

Bitcoin ainda vai ser o novo ouro

Tudo o que vimos aqui mostra que o desempenho do bitcoin diante do maior conflito geopolítico do ano mostrou mais do que resiliência. Estamos vendo maturidade! O bitcoin não só resistiu ao estresse, como se comportou de forma cada vez mais parecida com um ativo de proteção — mesmo ainda carregando um grau de volatilidade que o diferencia do ouro tradicional.

O que enxergo é que a grande virada não está apenas no preço, mas na estrutura do mercado. A crescente adoção institucional, o avanço dos ETFs, a participação ativa de fundos e governos, além da regulação e estabilidade das negociações… Tudo isso muda o papel do bitcoin no sistema financeiro global.

Eu confio e considero o bitcoin como uma reserva de valor. Mas mesmo assim, acho que ainda não chegamos lá. Pelo menos não como diz a cartilha. Sua volatilidade, ainda que menor do que no passado, continua sendo um fator de risco. Mas sua escassez programada, com emissões cada vez menores após os halvings, sugere um futuro onde sua volatilidade tende a ser muito reduzida. Aí sim, seu papel como “ativo de reserva digital” – nos moldes mais tradicionais– se solidifica.

Se o ouro nasceu da escassez física, o bitcoin nasce da escassez matemática. Se o ouro é testado há milênios, o bitcoin está passando por grandes estresses, com tão pouco tempo de vida. E, por isso, o fato de já competir por espaço na mesma prateleira de proteção macro, em plena guerra, diz muito sobre o que está por vir.

O mundo ainda busca estabilidade em meio ao caos. E, cada vez mais, parece que o bitcoin vai ser uma resposta. Ainda não é o novo ouro, mas é fato que o mercado está construindo esse caminho, bloco a bloco.

*João Canhada é fundador da Foxbit.

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