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Eleições de 2026 já estão fazendo preço no mercado? Entenda o 'trade' eleitoral

Historicamente, na América Latina, ano anterior ao da eleição é o que mais traz retorno ao investidor de ações, mostra estudo

Impacto no preço de ações das estatais é um dos primeiros sinais do "trade eleitoral" (Imagem gerada por inteligência artificial)

Impacto no preço de ações das estatais é um dos primeiros sinais do "trade eleitoral" (Imagem gerada por inteligência artificial)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Repórter de negócios e finanças

Publicado em 22 de agosto de 2025 às 07h42.

Falta mais de um ano para os brasileiros irem às urnas votar para presidente, mas o mercado certamente fará preço sobre o resultado muito antes do dia eleição. A dúvida é: quando o tal "trade eleitoral" vai começar a acontecer - ou será que já teria começado?

Não raro, analistas e gestores atribuem uma ou outra oscilação da bolsa àquela pesquisa de intenção de voto ou de popularidade do governo. "É uma eleição que está todo mundo de olho, inclusive os gringos", diz um gestor com quem a EXAME conversou. "Mas os movimentos mais óbvios desse trade não estão ocorrendo com as pesquisas divulgadas até agora".

O "trade eleitoral" não escolhe, necessariamente, um partido, como explica Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. "É muito pessoal também".

Via de regra, o mercado não gosta do governo que intervém na economia e reage mal quando um candidato com esse perfil aparenta ter mais chances de ganhar a eleição. E quando o "trade eleitoral" se manifesta de fato, as empresas estatais, como Petrobras (PETR3;PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3), costumam ser as primeiras a sentir no preço de suas ações.

"Essas companhias acabam sendo penalizadas nas projeções [feitas pelo mercado], o que reflete em um valor menor da ação", explica Cruz.

O contrário acontece se desponta um candidato que vai "deixar a companhia fluir mais sozinha, mirando retorno e eficiência", diz o economista. "Aqui no Brasil temos isso bem caracterizado com Lula sendo o candidato mais intervencionista e os governadores menos".

Os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Junior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG) são alguns dos possíveis candidatos de oposição a Lula que já aparecem em algumas pesquisas.

O que acontece no trade eleitoral?

Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos, enumera os movimentos típicos de quando o processo eleitoral começa a fazer preço para valer no mercado.

"Em mantendo o governo [atual], as estatais pioram, bolsa cai, juros sobem com expectativa de gastos. Do contrário, havendo uma troca de governo, é bolsa para cima, estatais para cima, juros um pouco mais baixo e câmbio mais valorizado [real mais forte]".

Um estudo feito por Ben Laidler, chefe de estratégia de ações do Bradesco, analisou o retorno médio dos seis principais mercados de ações da América Latina: México, Brasil, Chile, Colômbia, Argentina e Peru, em cada ano do ciclo de um governo. E é justamente no terceiro, quando as peças começam a se mover para uma nova eleição, que os retornos são maiores.

Isso mostra que os investidores costumam precificar, mais cedo, a possibilidade de melhoras na economia a partir de um novo mandato presidencial. E os retornos costumam ser significativamente maiores em alternâncias de governo, da esquerda para a centro-direita, diz o estudo.

O Brasil está, justamente, nesse ano três e o Ibovespa acumula alta de quase 12% até então. Mas ainda está longe da valorização de mais de 22% em 2023, primeiro ano do mandato do governo atual.

O trade eleitoral começou?

Marília, da Nord, ainda não vê o "trade eleitoral" como um tema no mercado hoje. "Até porque você não vê um descasamento muito grande entre os ativos brasileiros dos demais emergentes", explica.

"Acho que vai começar mesmo no final do primeiro trimestre do ano que vem, quando os candidatos à eleição estiverem mais bem definidos", complementa.

Recentemente, o sócio e gestor de ações da Ibiúna, André Lion, deu opinião parecida em conversa com o INSIGHT.  Faltando ainda mais de um ano para as eleições presidenciais, o cenário ainda é muito aberto e pesquisas de intenção de voto de nada valem para o mercado a essa altura, disse ele. "A chance de o cenário ser diferente do da pesquisa daqui a nove meses é de 100%".

A pesquisa mensal do Bank of America (BofA) com 31 gestores da América Latina, somando US$ 110 bilhões sob gestão, mostrou uma guinada de percepção sobre o "trade eleitoral".

Até o mês passado, 57% dos participantes do levantamento diziam acreditar que os investidores montariam posições em razão das eleições ainda este ano. Cerca de 10%, aliás, acreditava que essas posições já estavam montadas.

Na pesquisa de agosto, esse percentual caiu para 22% e nenhum dos gestores respondeu que os investidores já estão posicionados para o pleito do ano que vem.

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