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Semana Caldeira de Inovação: cinco tópicos sobre futuro da nova economia e os desafios para o Brasil

Evento realizado ao longo de cinco dias, no Instituto Caldeira, em Porto Alegre, terminou na sexta-feira, 3, reunindo investidores, educadores e especialistas em tecnologia que debateram os caminhos de transformação do país

Aod Cunha, economista, defendeu o salto na qualidade da educação para que o país não perca competitividade (Instituto Caldeira/Divulgação)

Aod Cunha, economista, defendeu o salto na qualidade da educação para que o país não perca competitividade (Instituto Caldeira/Divulgação)

Rafael Martini
Rafael Martini

Editor da Região Sul

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 18h01.

Última atualização em 10 de outubro de 2025 às 19h54.

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A quarta edição da Semana Caldeira encerrou-se há uma semana, na sexta-feira, 3, mas o conhecimento, as estratégias e os desafios compartilhados ao longo de cinco dias, em um ambiente imersivo de debates sobre a nova economia, semearam highlights que ainda serão colhidos em um futuro não tão distante.

Foram mais de 250 horas de programação gratuita oferecidas para cerca de 15 mil participantes, inscritos gratuitamente. Ao todo, foram 200 palestrantes, que são referências nacionais e internacionais na área, além de 500 empresas envolvidas. A EXAME selecionou cinco tópicos sobre o ecossistema da inovação, apresentados durante o evento em Porto Alegre,  como um overview da Semana Caldeira.

1 - Educação como motor de produtividade: prioridade para um Brasil que envelhece

No painel Brasil 2030, os economistas Mansueto Almeida (BTG Pactual) e Aod Cunha (ex-secretário da Fazenda do RS) foram categóricos: sem um salto de produtividade sustentado por educação de qualidade, o Brasil perderá competitividade na próxima década.

Com a força de trabalho em retração e a população envelhecendo rapidamente, o país não poderá mais contar com o crescimento vegetativo da economia. A alternativa está na formação de capital humano, combinando ensino básico robusto, pesquisa aplicada e estímulo à inovação. Os especialistas defenderam que a agenda fiscal deve andar lado a lado com uma estratégia de longo prazo para melhorar a eficiência do setor público e o ambiente de negócios.

Para Cunha, o maior desafio está na base: embora o Brasil tenha avançado na universalização do acesso à escola, os indicadores de aprendizado continuam alarmantes. A produtividade, segundo ele, começa na sala de aula.

Já Almeida destacou que países que se tornaram potências industriais, como Coreia do Sul e China, apostaram maciçamente em educação técnica e superior conectada com demandas de mercado. O painel encerrou com consenso entre os economistas: sem priorizar a qualificação em larga escala — e com foco real na rede pública —, o país não conseguirá sustentar crescimento nem gerar empregos de qualidade.

2 - Startups nativas no WhatsApp reposicionam o Brasil

Com mais de 120 milhões de usuários ativos, o WhatsApp deixou de ser apenas um canal de comunicação para se tornar a base operacional de uma nova geração de empresas no Brasil. A tendência das chamadas “startups nativas no WhatsApp” foi detalhada por Guilherme Horn, head do app para mercados estratégicos, durante palestra na Semana Caldeira.

Segundo ele, negócios inteiros estão sendo concebidos, escalados e monetizados dentro do mensageiro, dispensando sites, apps próprios ou sistemas de CRM. A jornada do cliente — do primeiro contato ao pagamento — ocorre de forma integrada, com o suporte de automações, inteligência artificial e bots conversacionais.

Horn afirmou que o Brasil é um dos países que mais testam novas funcionalidades da plataforma, justamente pela combinação entre alta digitalização da população e informalidade dos pequenos negócios.

O modelo tem atraído investidores, já que permite validar ideias com custos reduzidos e ciclos curtos de iteração. Setores como educação, transporte e serviços digitais já apresentam cases relevantes. A estratégia do WhatsApp é consolidar esse movimento com a criação de um hub de startups no Brasil, oferecendo suporte técnico, acesso a programas de testes e integração com meios de pagamento — movimento que reforça o papel do país como polo de inovação para o ecossistema Meta.

3 - Energia limpa e China colocam o Brasil no mapa global da IA

O avanço da inteligência artificial exige uma infraestrutura de dados de escala global — e, com ela, uma demanda energética igualmente massiva. É nesse ponto que o Brasil, com mais de 90% de sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, ganha destaque em meio à disputa geopolítica entre Estados Unidos e China. No painel China: Descobrindo uma potência inevitável, executivos da Huawei e o investidor Ricardo Geromel afirmaram que o país tem potencial para se tornar um hub estratégico para data centers, cloud computing e parcerias em IA, conectando inovação e sustentabilidade.

A proximidade comercial com a China, que já é o principal parceiro econômico do Brasil desde 2009, também reforça essa tese. Com investimentos crescentes em telecomunicações, energia e infraestrutura digital, empresas chinesas têm usado o Brasil como ponte para a América Latina.

A Huawei, por exemplo, anunciou novas unidades de data center e aportes em capacitação técnica no país. Na leitura dos painelistas, a transição energética e tecnológica em curso no mundo abre uma janela única para o reposicionamento do Brasil como ator estratégico na nova economia da IA — desde que o país aproveite o timing com uma agenda clara de formação de talentos e segurança regulatória.

4 - Escalar é decidir: lições práticas de cinco startups brasileiras

Os bastidores da escalada de cinco startups brasileiras — Omie, Swap, Azion, Rocket.Chat e Zenvia — foram expostos em dois painéis da Semana Caldeira. Mais do que histórias de crescimento, os empreendedores compartilharam dilemas reais, decisões difíceis e aprendizados construídos na prática. Marcelo Lombardo, da Omie, contou que abriu mão de canais de marketing digital para investir em uma rede de contadores parceiros, estratégia que garantiu crescimento orgânico com baixo custo de aquisição.

Ury Rappaport, da Swap, ressaltou que a escolha por focar em uma vertical antes de diversificar foi essencial para a sobrevivência da empresa nos primeiros anos.

Empresas gaúchas como Azion, Rocket.Chat e Zenvia também trouxeram a perspectiva de quem saiu de garagens em Porto Alegre para se tornar referência global. Os executivos destacaram o papel dos clientes-âncora, o uso estratégico de capital e a importância de cultura organizacional coesa.

A inteligência artificial, presente em todas as operações, já é tratada como padrão mínimo — e não como diferencial. Segundo os fundadores, escalar exige obsessão por resolver problemas reais, foco extremo e uma capacidade contínua de se adaptar, inclusive no papel que os próprios líderes precisam exercer à medida que a empresa cresce.

5 - Educação criativa  quer colocar juventude no centro da transformação

Porto Alegre pode se tornar o epicentro de uma nova proposta de educação criativa voltada para a juventude do Sul Global. Essa foi a ambição apresentada no painel que reuniu o Instituto Caldeira, o Center for Creative Technologies (TUMO) e a Latin America Leadership Academy (LALA). O projeto propõe criar, a partir do entorno do hub Caldeira, um ecossistema gratuito, híbrido e de alto impacto, no qual adolescentes possam desenhar suas próprias trilhas formativas em áreas como IA, música, robótica, design e storytelling. O modelo é inspirado no TUMO, criado na Armênia e replicado em cidades como Paris, Moscou e Buenos Aires.

Segundo os representantes do TUMO e da LALA, o futuro do trabalho exigirá não apenas competências técnicas, mas criatividade, autonomia e capacidade de articulação em rede — atributos que os sistemas tradicionais de ensino ainda não são capazes de desenvolver em larga escala.

Felipe Amaral, diretor do Campus Caldeira, reforçou que o projeto visa transformar Porto Alegre em referência global na formação de talentos para a nova economia. A iniciativa será viabilizada por parcerias com empresas e doadores privados, e tem potencial para tornar o Brasil referência na construção de modelos educacionais exportáveis e conectados às transformações tecnológicas em curso.

Startups vencedoras do concurso da Meta

A Meta Ventures, corporate venture capital da brasileira Meta, anunciou, durante a Semana Caldeira, em Porto Alegre, as startups ganhadoras da quinta edição do Bring Your SaaS (BYS), desafio que se consolida como um dos principais programas de inovação aberta focados em inteligência artificial no Brasil.

Após mais de 300 inscrições e um processo inédito conduzido por agentes de IA, o programa reconheceu três startups que se destacaram pelo alto potencial de impacto, escalabilidade e sinergia com grandes empresas: Tropical.IA, DeltaAI e MatchIT.

A etapa final reuniu oito startups que representam o ápice dessa nova geração de soluções de IA no Brasil, com aplicações em jurídico, processos corporativos, educação, atendimento e RH, entre outras áreas.

As três primeiras colocadas foram escolhidas pelos seus diferenciais na aplicação da IA na resolução de problemas relevantes, com preocupação na governança, gestão e confidencialidade dos dados, critérios considerados estratégicos para empresas que buscam soluções de inteligência artificial com segurança e eficiência.

As vencedoras trazem propostas complementares para diferentes setores. A Tropical.IA se destaca por ajudar empresas a utilizarem inteligência artificial em seus próprios dados de forma simples e segura, sem a necessidade de grandes investimentos em tecnologia, tornando a inovação mais acessível com foco em privacidade e praticidade.

Já a DeltaAI tem um enorme potencial para reduzir o número de processos abertos contra empresas, analisando dados provenientes de diferentes canais de atendimento e prevendo possíveis processos judiciais, permitindo que as empresas atuem antecipadamente.

A terceira colocada, MatchIT, combina inteligência artificial e experiência em gestão, criando agentes de IA para apoiar empresas em seus processos de inovação e tecnologia, posicionando-se como uma alternativa mais rápida e acessível às consultorias tradicionais, já com clientes como Caixa, Sebrae e Comgás.

Ao todo, 317 startups participaram da edição 2025. O perfil das inscritas demonstrou um movimento robusto de crescimento do setor, com 63% atuando em modelo B2B, receita média de R$ 555 mil em 2024 e previsão de dobrar esse número em 2025. Cerca de 36% já captaram investimento, somando mais de R$ 10 milhões, enquanto 64% seguem bootstrapped, evidenciando resiliência e capacidade de crescimento orgânico.

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