Repórter
Publicado em 13 de agosto de 2025 às 16h42.
Última atualização em 13 de agosto de 2025 às 17h30.
No roteiro de ficção científica que a Apple tenta escrever para os próximos anos, a estrela não é um iPhone mais fino ou um novo Mac. É um robô do tamanho de um abajur, capaz de girar a “cabeça” para acompanhar quem fala, entrar em conversas e executar tarefas sozinho, desde reservar restaurantes até organizar uma viagem.
Segundo o analista Mark Gurman, o aparelho, previsto para 2027, é a peça central de um pacote que marca a volta da Apple à corrida da inteligência artificial (IA), tecnologia que permite a máquinas aprender, interpretar e tomar decisões a partir de dados. Depois de perder o protagonismo para Google, Amazon e OpenAI nos últimos dois anos, a empresa quer recolocar sua assistente Siri no centro da vida doméstica.
A movimentação é urgente. O Vision Pro, óculos de realidade mista lançado como “o próximo grande salto” da marca, vendeu menos que o esperado; o design do iPhone muda pouco há anos; e rivais ocupam o espaço da IA com produtos cada vez mais presentes no dia a dia, do ChatGPT, da OpenAI, aos alto-falantes Echo, da Amazon. Até o ex-chefe de design da Apple, Jony Ive, trabalha com a OpenAI em um dispositivo inteligente próprio.
Tim Cook: CEO da Apple (Justin Sullivan/Getty Images)
Para virar o jogo, Tim Cook aposta em uma Siri reprogramada do zero. Internamente, o novo núcleo de IA é chamado de Linwood e se baseia em modelos de linguagem, sistemas capazes de processar e gerar texto de forma parecida com a humana. A versão “visual” da assistente, apelidada de Bubbles (“bolhas”, em inglês), dará rosto e expressão à Siri, aproximando-a de avatares como os Memoji usados nos iPhones.
O protótipo do robô lembra um iPad preso a um braço mecânico que se move para acompanhar o usuário. Em chamadas de vídeo, ele pode enquadrar automaticamente diferentes pessoas no ambiente e até ser controlado pelo iPhone para “passear” pela sala. A ideia é que ele não espere ser chamado: se dois amigos conversam sobre jantar fora, por exemplo, o robô pode sugerir restaurantes próximos ou mostrar receitas — algo semelhante ao novo modo de voz do ChatGPT.
Antes do robô, chegará neste ano um display fixo de 7 polegadas, parecido com os Google Nest Hub, mas com base arredondada e interface chamada Charismatic. Essa tela detecta quem está na frente usando reconhecimento facial e adapta widgets — pequenos blocos de informações e atalhos — de acordo com o usuário. Será possível controlar luzes, ouvir música, fazer chamadas e organizar tarefas por comando de voz.
O pacote inclui câmeras de segurança que funcionam por meses sem recarga, identificam pessoas e automatizam rotinas: apagar luzes quando o cômodo fica vazio ou iniciar a playlist favorita de um morador específico. A Apple também testa uma campainha com reconhecimento facial para abrir portas.
Ao levar a IA para objetos físicos, a Apple transforma o lar no novo campo de disputa das big techs — um mercado onde Amazon domina com o Alexa e Google com a linha Nest. Mais que vender aparelhos, o plano é prender o consumidor ao ecossistema Apple, conectando hardware, software e serviços pagos como iCloud+.
Se der certo, a empresa não só recupera espaço na corrida da IA, mas redefine como interagimos com tecnologia em casa: menos sobre abrir aplicativos ou digitar endereços na web, mais sobre conversar e delegar tarefas a um assistente que parece estar vivo.