(Thomas Trutschel/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 21 de junho de 2025 às 12h25.
O ChatGPT pode ser um atalho na hora de escrever, mas pode ter um custo invisível: o cérebro trabalha menos. É o que mostra um estudo conduzido por pesquisadores ligados ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), que investigaram os efeitos do uso de inteligência artificial em tarefas de escrita de ensaios acadêmicos.
O estudo concluiu que, embora o uso da IA torne o processo mais fácil e rápido, ele reduz o engajamento cerebral, prejudica a memória e diminui a sensação de autoria sobre o texto.
"Estamos observando um fenômeno que chamamos de 'dívida cognitiva'", disseram os autores à plataforma arXiv. "Os benefícios imediatos da IA, como produtividade e fluidez, podem comprometer o aprendizado profundo e a autonomia intelectual."
Para chegar a essas conclusões, os cientistas dividiram os participantes em três grupos: um usou apenas o ChatGPT; outro, apenas ferramentas de busca como o Google; e o último escreveu sem qualquer auxílio externo — usando apenas o próprio cérebro. O estudo ainda não foi revisado por pares.
A análise das ondas cerebrais (EEG) revelou que o grupo que escreveu sem IA teve maior conectividade neural — sinal claro de esforço cognitivo intenso. Já quem usou o ChatGPT apresentou menor atividade cerebral, indicando um “desligamento” parcial do cérebro durante a escrita.
A diferença foi nítida também na percepção dos próprios textos. Participantes do grupo brain-only relataram maior sentimento de autoria e lembravam trechos do que escreveram com mais facilidade. Já os que usaram IA tiveram dificuldade até para citar o que haviam redigido minutos antes.
"Foi como se o texto tivesse sido escrito por outra pessoa", relatou um dos participantes do grupo LLM (large language model).
A avaliação dos ensaios — feita por professores humanos e uma IA independente — revelou outro dado relevante: os textos criados com ChatGPT eram mais parecidos entre si, com menor diversidade linguística e originalidade.
Segundo os autores, essa homogeneização levanta preocupações para a educação. A facilidade de acesso e uso da IA pode levar alunos a terceirizarem processos fundamentais como reflexão crítica, escolha de palavras e estruturação de argumentos.
"Essas habilidades são formadas exatamente pelo esforço que a IA ajuda a evitar", afirmam os pesquisadores.
O estudo “Your Brain on ChatGPT: Accumulation of Cognitive Debt when Using an AI Assistant for Essay Writing Task” analisou o impacto do uso de ferramentas digitais em tarefas de escrita com 54 participantes, entre 18 e 39 anos, recrutados em cinco universidades da região de Boston. Eles foram divididos igualmente em três grupos de 18 pessoas: um utilizou apenas o ChatGPT, outro recorreu ao Google, e o terceiro escreveu sem qualquer apoio externo.
Cada participante realizou ao menos três sessões de escrita com duração aproximada de uma hora cada, totalizando cerca de três horas de participação no experimento. Outros 18 participantes também completaram uma quarta sessão opcional, elevando sua carga total para cerca de quatro horas de envolvimento direto no estudo.
As atividades incluíram preparação, escrita, monitoramento por EEG (eletroencefalograma) e entrevistas pós-tarefa. Os textos foram analisados com ferramentas de linguagem natural (NLP) e avaliados por professores humanos e por uma IA julgadora. O experimento foi conduzido ao longo de quatro meses, acompanhando a disponibilidade dos voluntários.
Os próprios autores reconhecem que o número de participantes foi limitado — apenas 54 no total, com 18 na sessão de troca de grupos — e destacam a necessidade de ampliar a amostra em estudos futuros para obter conclusões mais robustas.