Uma onda recente de aquisições evidencia que o ainda fragmentado mercado de dados está passando por uma transformação decisiva rumo à consolidação. Nos últimos dois meses, dois movimentos bilionários chamaram atenção: a Databricks adquiriu a Neon por US$ 1 bilhão, enquanto a Salesforce comprou a Informatica por US$ 8 bilhões. Em comum, ambas buscam reforçar suas estratégias para a era da inteligência artificial.

As empresas adquiridas variam em porte e especialidade, mas têm um objetivo em comum: oferecer a tecnologia que permitirá à IA funcionar de forma mais eficiente e confiável.

Para especialistas, o sucesso de ferramentas baseadas em IA depende cada vez mais de dados de qualidade, bem integrados, organizados e acessíveis.

A lógica por trás das compras

Segundo Gaurav Dhillon, cofundador da Informatica e hoje CEO da SnapLogic, o modo como os dados são organizados dentro das empresas está passando por uma mudança estrutural.

Ele explica que as companhias precisam redesenhar profundamente o fluxo e o gerenciamento de dados para liberar todo o potencial das soluções de IA. Por isso, a estratégia de comprar startups que complementem esses sistemas faz sentido para grandes players que desejam acelerar esse processo.

Ainda assim, há ceticismo sobre a eficácia de algumas aquisições. Dhillon pondera que muitas das empresas compradas foram construídas antes da explosão da IA generativa, inaugurada com o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022, o que exigirá adaptações profundas para integrar as novas demandas.

O mercado de dados cresceu rapidamente na última década, mas continuou muito fragmentado. A necessidade de consolidação já existia, mas foi acelerada pela corrida para implantar IA em escala.

Segundo dados da PitchBook, entre 2020 e 2024, mais de US$ 300 bilhões foram investidos em mais de 24 mil rodadas de financiamento para startups de dados, um sinal claro de tanto dinamismo quanto dispersão.

A dificuldade de integrar soluções de diferentes fornecedores se tornou um gargalo para empresas que desejam rodar modelos de IA de forma realmente eficaz. Isso explica movimentos como o da Fivetran, que adquiriu a Census para preencher lacunas em seu portfólio de integração de dados.

Para muitas startups, as vendas para grandes companhias também representam uma solução prática: num ambiente em que captar capital se tornou mais difícil, a venda oferece liquidez e estabilidade. Segundo o analista da PitchBook Derek Hernandez, mesmo empresas consideradas “premiadas” estão optando pela venda para garantir escala e sobrevivência.

O desafio de integrar o novo com o antigo

Apesar das vantagens, há dúvidas sobre quão eficaz é essa estratégia de aquisições. Hernandez argumenta que a verdadeira chave está na integração: unir empresas de dados e empresas de IA em um único sistema coeso pode criar mais valor do que a abordagem fragmentada de hoje.

Para analistas, essas consolidações não bastam por si só. As gigantes de tecnologia precisarão investir não apenas em comprar startups, mas em integrar profundamente suas tecnologias, processos e culturas, um desafio tão complexo quanto essencial para quem quer liderar a era da inteligência artificial.