Inteligência Artificial

Com €600 milhões do fundador do Spotify, Helsing vira maior aposta da Europa para defesa com IA

Startup militar da Alemanha atinge €12 bilhões em valor de mercado e entra para o topo das militechs privadas da Europa

Daniel Ek: CEO do Spotify (Drew Angerer/Getty Images)

Daniel Ek: CEO do Spotify (Drew Angerer/Getty Images)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 17 de junho de 2025 às 10h47.

Última atualização em 17 de junho de 2025 às 10h48.

A startup alemã Helsing, focada em inteligência artificial para defesa, arrecadou €600 milhões (cerca de R$ 3,5 bilhões) em uma rodada liderada por Daniel Ek, fundador do Spotify. Com isso, a empresa foi avaliada em €12 bilhões e se consolidou como uma das cinco maiores companhias privadas de tecnologia da Europa.

Criada em Munique em 2021, a Helsing desenvolve software militar baseado em IA e, mais recentemente, passou a investir no desenvolvimento de drones, aeronaves e até submarinos próprios. A nova rodada contou com aportes do fundo Prima Materia — criado por Ek e seu parceiro de longa data Shakil Khan —, além de outros investidores como Accel, Lightspeed Ventures, Plural, General Catalyst e a fabricante sueca Saab.

O investimento ocorre em um contexto de reconfiguração da indústria de defesa europeia, que tenta responder à guerra da Ucrânia e à crescente pressão dos EUA para ampliar a própria capacidade militar. Ao contrário de gigantes americanas como Lockheed Martin ou Palantir, que operam com mercados unificados, a Europa enfrenta gargalos de coordenação e perde até €100 bilhões por ano pela fragmentação, segundo estimativas da Comissão Europeia.

Enquanto nos EUA os gastos em defesa giram em torno de grandes contratos padronizados com empresas de grande escala, o mercado europeu sofre com diferentes exigências e padrões técnicos entre os países, o que encarece projetos e dificulta a criação de economias de escala.

Apesar das dificuldades, há avanços. Fabricantes europeus como BAE Systems, Airbus, Leonardo e Rheinmetall têm investido em iniciativas conjuntas. Exemplos são a joint venture MBDA, para produção de mísseis, e o consórcio do caça Eurofighter. Recentemente, Leonardo e Rheinmetall fecharam uma sociedade 50/50 para criar o novo tanque de guerra da Itália.

Nesse movimento, a Helsing se destaca por oferecer uma resposta ao déficit europeu na área de software militar. A empresa quer ser para a Alemanha e o continente o que a Palantir é para os EUA: uma plataforma central de tomada de decisão em combate, com suporte de IA em tempo real. Mas as distâncias ainda são grandes. A startup alemã, mesmo após a nova rodada, continua muito atrás da americana Palantir, cujo valor de mercado supera US$ 270 bilhões.

No entanto, executivos e investidores apostam que a Europa pode acelerar. O caso ucraniano serve como argumento: em menos de dois anos, o país construiu uma cadeia de produção de drones capaz de entregar mais de 4 milhões de unidades, mesmo em meio à guerra.

Para além do financiamento, empresas como a Helsing têm buscado processos industriais mais ágeis e tecnologias como impressão 3D para ganhar eficiência. Fontes da indústria dizem que os prazos de entrega, um dos principais entraves históricos do setor, começaram a melhorar.

O fundo Prima Materia, criado por Daniel Ek em 2021 com €1 bilhão de capital próprio, já havia investido na Helsing em uma rodada anterior, e agora dobrou a aposta. A estratégia de Ek, segundo entrevistas anteriores, é apostar em “tecnologia profunda com impacto europeu de longo prazo”.

Uma guerra por padrão e escala

A dificuldade da Europa em formar uma cadeia produtiva eficiente se deve menos à falta de capital e mais à ausência de padrões unificados. A Airbus, por exemplo, obtém mais de 20% de sua receita nos EUA — mais que nos países da União Europeia somados. O mesmo vale para a britânica BAE Systems, que depende em 40% do mercado americano.

Sem um “Pentágono europeu” que centralize aquisições, como ocorre nos EUA, os países europeus seguem comprando segundo critérios próprios — o que fragmenta a demanda e inviabiliza o desenvolvimento de tecnologias compartilhadas.

Alguns avanços são visíveis. Pequenos países já unificaram critérios em equipamentos básicos, como rifles. A expectativa é de que isso se expanda para sistemas mais complexos.

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