Freelancer
Publicado em 2 de julho de 2025 às 14h52.
Já pensou em escolher um restaurante não pela qualidade da comida, mas pela beleza dos frequentadores? Uma inteligência artificial pode te ajudar nessa missão.
Uma reportagem do The New York Times contou a história de Riley Walz, de apenas 22 anos, que criou o LooksMapping - um site de IA capaz de avaliar a beleza dos clientes de restaurantes através das avaliações no Google.
Em sua interface, um mapa das cidades de Nova York, Los Angeles e São Francisco é marcado por pins que identificam os melhores lugares para quem busca comer ao redor de pessoas atraentes. Os pontos marcados pelo ponto vermelho são indicadores de clientes bonitos, enquanto os em azul se destacam pela baixa qualidade de beleza humana no lugar.
I scraped millions of Google Maps reviews, and gave each reviewer’s profile pic to an AI that ranks attractiveness
Introducing LOOKSMAPPING pic.twitter.com/lvf4apmkKZ
— Riley Walz (@rtwlz) March 31, 2025
“Este site apenas transforma em números simplistas os julgamentos superficiais que fazemos todos os dias”, diz a página inicial. “É um espelho da nossa vaidade coletiva.”
"Hot or not"
Para desenvolver a plataforma, o criador projetou um modelo de IA que navegou por 2,8 milhões de avaliações de restaurantes do Google. Entre 1,5 milhão de perfis, o algoritmo conseguiu identificar 587 mil fotos com rostos visíveis. Em seguida, Walz pediu para que o modelo classificasse os perfis em gênero, idade e se eram "hot or not" - atraentes ou não.
Em uma escala de 1 a 10, a inteligência artificial passou a classificar as fotos. Entretanto, o desenvolvedor confessou que foi uma tarefa difícil: se o algorítimo utilizasse uma foto com uma mulher vestida de noiva, por exemplo, ele considerava 'atraente', enquanto imagens borradas eram destacadas como 'não atraentes'.
“O modelo não olha apenas para o rosto”, explicou Walz ao jornal. “Ele capta outras pistas visuais também.”
Mesmo que o modelo não seja considerado completamente seguro para quem deseja 100% de precisão na avaliação, esta é uma tendência que vem crescendo nas redes sociais. A influenciadora Alyssa La Spisa, por exemplo, há três anos mantém no Instagram a série “Where Hot Guys Eat IRL” (“Onde os caras bonitos comem na vida real”).
“Decidi ir direto à fonte e perguntar aos caras bonitos aonde eles vão!”, escreveu em uma legenda.
Outro influenciador, Jordan Helms, dedica suas publicações a vídeos que detalham “tudo o que as garotas bonitas de Nova York estão obcecadas no momento” e destacou recentemente o restaurante italiano Campagnola, no Upper East Side.
Alguns especialistas apontaram falhas estruturais e raciais na classificação do site. “O algoritmo parece ter uma queda por asiáticos e um viés contra lugares de propriedade negra ou localizados em bairros negros, como o Bayview”, escreveu a escritora gastronômica Soleil Ho, de Berkeley, ao New York Times.
A reportagem lembrou que quando Walz divulgou o site no X (antigo Twitter), cerca de 20 mil pessoas acessaram em apenas um dia. Um dos primeiros comentários foi uma crítica à disposição dos pins azuis e vermelhos por Nova York, que priorizava os pontos vermelhos em regiões ricas e predominantemente brancas da cidade, enquanto os azuis ficavam nos bairros ao norte e ao Bronx.
Erwann Millon, programador especialista em geração de imagens, disse que o viés racial na IA está impregnado no código. “Quando você automatiza a coleta de dados em larga escala, os vieses do seu modelo acabam refletindo os preconceitos dos humanos que criaram os dados de treinamento”, explicou.