Sam Altman: cofundador e CEO da OpenAI (Justin Sullivan/Getty Images)
Redator
Publicado em 30 de outubro de 2025 às 06h04.
Última atualização em 30 de outubro de 2025 às 09h54.
O ano era 2015 quando os até então desconhecidos Sam Altman e Greg Brockman, juntamente com o já conhecido e bilionário Elon Musk, na época com fortuna estimada em US$ 13 bilhões e dono de Tesla e SpaceX, fundaram uma empresa de pesquisa em inteligência artificial sem fins lucrativos.
Em dezembro daquele ano, sem os holofotes e interesses de agora, a OpenAI foi fundada com a missão de “garantir que a inteligência artificial geral [AGI, na sigla em inglês] beneficie toda a humanidade”. Embora o conceito ainda seja debatido e não esteja exatamente claro o que ele significa, a AGI refere-se à capacidade de igualar ou até superar as habilidades cognitivas humanas em diversas áreas.
Quase uma década depois, na terça-feira, 28 de outubro de 2025, a startup, agora avaliada em US$ 500 bilhões, anunciou que concluiu a reestruturação para simplificar sua estrutura corporativa, mas mantendo a missão original.
Com a reestruturação, o braço com fins lucrativos, criado em 2019, foi transformado em uma corporação de benefício públic (public benefit corporation), agora chamada OpenAI Group PBC, enquanto o sem fins lucrativos, a OpenAI Foundation, continua no controle da empresa, com participação de aproximadamente US$ 130 bilhões.
Atualmente, Altman é CEO da OpenAI, Brockman é presidente e Elon Musk, que deixou a empresa em 2018 devido a desentendimentos sobre a direção da startup, está processando a OpenAI por acreditar que a missão foi abandonada, além de ter lançado uma concorrente própria, a xAI.
Após anos como organização sem fins lucrativos e com orçamento limitado em relação aos concorrentes, a OpenAI buscou aliados para alavancar sua missão. Foi na Microsoft que ela encontrou investimento e infraestrutura para desenvolver sua tecnologia.
Por meio do acordo, a startup receberia US$ 1 bilhão em dinheiro e créditos via Azure, a divisão de nuvem da Microsoft, que, em contrapartida, teria acesso prioritário às tecnologias da OpenAI. Foi nesse contexto em que foi criado o braço com fins lucrativos limitados, possibilitando o recebimento de investimentos de parceiros como a Microsoft e fundos de capital de risco.
No início, tudo parecia funcionar bem para as duas empresas. Os modelos da OpenAI melhoravam progressivamente e a Microsoft se beneficiava com a integração a seus produtos (Word, Excel e o navegador Edge), além de ter lançado o GitHub Copilot, um assistente de programação baseado em IA.
Em novembro de 2022, o ChatGPT foi lançado, rapidamente se tornando a tecnologia voltada ao consumo de mais rápida adoção na história: 1 milhão de usuários em apenas cinco dias e 100 milhões em dois meses. Atualmente, mais de 10% da população adulta mundial usa o ChatGPT ou cerca de 800 milhões de usuários semanais, segundo a OpenAI.
O sucesso estrondoso do ChatGPT e as ambições das duas empresas, no entanto, começaram a gerar tensão na parceria, que evoluiu para uma crise até ser resolvida em 28 de outubro.
Recebendo cada vez mais interesse de investidores, a estrutura de 2019 se tornou um obstáculo para captação de recursos. Em maio de 2025, Altman revelou que o modelo adotado naquele momento, baseado no controle por uma entidade sem fins lucrativos, era pouco atraente para investidores externos, pois não oferecia participação acionária tradicional.
O novo plano, noticiado desde 2024, era transformar o braço lucrativo em uma PBC, permitindo que a OpenAI seguisse em busca de sua missão e, ao mesmo tempo, atraísse os bilionários investimentos necessários para financiar o desenvolvimento da AGI.
Sob o risco de perder bilhões de dólares em aportes caso não finalizasse essa reestruturação até o final de 2025, a OpenAI precisava agora da aprovação de sua principal investidora desde 2019, a Microsoft.Enquanto a OpenAI conquistava o público, seus modelos de IA avançavam e ela buscava independência, firmando acordos pouco convencionais de até US$ 1,5 trilhão para capacidade computacional, a Microsoft passava a não apenas diversificar e concorrer diretamente, com o Copilot e outros modelos próprios, mas também exigia garantias de acesso ao código da empresa caso a AGI fosse alcançada.
A tensão se arrastou até 11 de setembro deste ano, quando OpenAI e Microsoft anunciaram um acordo preliminar, que foi finalizado apenas no final de outubro.
Com a reestruturação finalizada e anunciada em 28 de outubro, a OpenAI conclui a simplificação de sua estrutura corporativa. O modelo atual mantém a organização sem fins lucrativos, a OpenAI Foundation, no controle do braço com fins lucrativos, agora OpenAI Group PBC.
Desse modo, a fundação mantém participação acionária avaliada em cerca de US$ 130 bilhões, tornando-se, de acordo com a OpenAI, uma das organizações filantrópicas mais bem financiadas do mundo. Inicialmente, ela se comprometeu a investir US$ 25 bilhões em duas áreas: saúde e cura de doenças, visando acelerar descobertas científicas, e soluções técnicas para a resiliência da IA, buscando garantir máximo benefício e segurança com risco mínimo.
Mesmo com a mudança, realizada após quase um ano de discussões com os Procuradores-gerais de Califórnia e Delaware, a OpenAI garante que a missão inicial de dezembro de 2015 continua no centro da operação, mas agora garantindo que sucesso comercial e benefícios sociais avancem juntos.
E a Microsoft? Cerca de seis anos e US$ 13,8 bilhões em investimentos depois, a empresa possui agora 27% de participação na OpenAI Group PBC, equivalente a US$ 135 bilhões (quase dez vez o valor investido) dos US$ 500 bilhões em que a startup é avaliada.Apesar de sua participação percentual ter sido reduzida em relação aos 32,5% anteriores, a Microsoft mantém direitos exclusivos de propriedade intelectual (IP) sobre modelos e produtos desenvolvidos pela OpenAI até a chegada da AGI, com direitos estendidos até 2032.
Os direitos de IP para pesquisa da Microsoft se estendem até 2030 ou até que um painel de especialistas verifique a AGI, o que ocorrer primeiro. Contudo, certos direitos, como arquitetura de modelos e hardware de data centers, não são exclusivos para a Microsoft, que também pode buscar a AGI independentemente ou com terceiros.
Entre outros termos, a OpenAI se comprometeu, ainda, a comprar US$ 250 bilhões em serviços da Azure, mas sem garantir à Microsoft o direito de preferência sobre sua computação.
Agora, ambas as empresas estão, segundo a OpenAI, “mais bem posicionadas para continuar a desenvolver produtos inovadores que atendam às necessidades do mundo real e criem novas oportunidades para todos os negócios e indivíduos".