Inteligência Artificial

Estudo do Google sobre uso de água da IA Gemini é considerado enganoso por especialistas

Estimativa feita pela empresa é considerada incompleta por omitir dados sobre o impacto ambiental indireto, como o consumo de água associado à eletricidade dos data centers

Na estimativa do Google criticada por especialistas, um prompt médio no Gemini consome cerca de cinco gotas de água (0,26 ml) (Getty Images)

Na estimativa do Google criticada por especialistas, um prompt médio no Gemini consome cerca de cinco gotas de água (0,26 ml) (Getty Images)

Publicado em 21 de agosto de 2025 às 17h11.

Em meio ao crescente debate sobre os impactos ambientais da inteligência artificial, o Google divulgou um estudo afirmando que seu assistente Gemini usa uma quantidade mínima de água e energia para cada comando curto (prompt) em formato de texto. No entanto, especialistas consideram as alegações da empresa enganosas e apontam lacunas importantes nos dados apresentados.

Na estimativa do Google, um prompt médio no Gemini consome cerca de cinco gotas de água (0,26 ml) e utiliza uma quantidade de eletricidade equivalente a assistir TV por menos de 9 segundos (0,24 watt-hora), resultando em aproximadamente 0,03 gramas de emissões de CO2.

Esses números são significativamente mais baixos do que os encontrados em pesquisas anteriores sobre o uso de água e energia por data centers que sustentam modelos de IA. Estudos recentes sobre o ChatGPT, da OpenAI, por exemplo, indicaram consumo de água de até 500 ml para cada 20 a 50 prompts, ou seja, uma demanda entre 38 e 100 vezes maior do que o estimado pelo Google para o Gemini.

Embora o Google venha implementando melhorias de eficiência no último ano, especialistas disseram à The Verge que os valores apresentados são tão baixos porque a empresa omitiu dados importantes, tornando seu estudo incompleto. Por exemplo, a estimativa não considerou o consumo indireto de água, como o uso necessário para gerar eletricidade que alimenta os modelos de IA.

Especialistas criticam a omissão do impacto ambiental da eletricidade consumida pelos data centers, que, por sua vez, também demandam grandes quantidades de água. A maior parte do recurso usado por uma dessas instalações não é destinada à refrigeração, como o Google considera no estudo, mas está relacionada à demanda energética, o que foi negligenciado.

Considerando esses aspectos, um estudo de 2023 do professor de engenharia elétrica e computacional da Universidade da Califórnia, Shaolei Ren, estimou o consumo do Gemini em até 50 ml de água por cada prompt. Isso é aproximadamente 192 vezes maior do que o valor apontado pelo Google, o que indica que, apesar dos avanços, a estimativa atual da empresa dificilmente seria verificada por um estudo que considerasse toda a demanda por água, como o do professor.

Outras críticas

Outro ponto criticado é a falta de uma análise "baseada na localização" das emissões de carbono, que considera a matriz energética local. O Google utilizou uma medida "baseada no mercado", que leva em conta os compromissos de empresas com energias renováveis. No entanto, a abordagem baseada na localização normalmente resulta em emissões mais altas e oferece uma visão mais precisa do impacto ambiental local.

Além disso, especialistas apontam que o estudo do Google faz comparações inadequadas com pesquisas anteriores e que a redução de consumo de energia e emissões de CO2 apresentada pela empresa não conta toda a história.

Mesmo que mais eficiente, o aumento do uso de IA pode levar a mais poluição e consumo de recursos, o que é evidenciado pela crescente pegada de carbono da empresa.

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