Após a revogação da proibição de exportações, demanda chinesa motivou encomenda da Nvidia à TSMC por mais 300 mil chips H20 (Jonathan Raa/NurPhoto/Getty Images)
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Publicado em 31 de julho de 2025 às 10h40.
Última atualização em 31 de julho de 2025 às 10h42.
Poucos dias após encomendar 300 mil novos chips H20 à TSMC, a Nvidia foi convocada pelo governo chinês para prestar esclarecimentos sobre riscos de segurança do modelo desenvolvido especialmente para a China. A medida, tomada pela Administração do Ciberespaço da China, órgão responsável pela regulação da internet no país, adiciona incertezas às vendas da empresa no país asiático.
A principal preocupação de Pequim está relacionada à possibilidade de os chips conterem mecanismos de rastreamento, conforme sugerido por uma proposta dos Estados Unidos. Em maio, o senador republicano Tom Cotton apresentou um projeto de lei que exige que chips de inteligência artificial vendidos ao exterior incluam funções de verificação de localização.
A reunião entre a Nvidia e a CAC está marcada para esta quinta-feira (31), quando a empresa deverá esclarecer se o chip H20 oferece algum risco à privacidade dos usuários chineses. O modelo foi desenvolvido pela fabricante norte-americana para contornar restrições dos EUA impostas no final de 2023 à exportação de chips avançados de IA. A proibição havia sido revertida recentemente, abrindo caminho para a retomada das vendas no país.
O movimento chinês reacende a disputa estratégica em torno dos semicondutores. Apesar das tensões, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, visitou a China neste mês, numa tentativa de reforçar o compromisso com o mercado local. Durante a visita, o executivo encontrou-se com autoridades e elogiou os avanços da China em inteligência artificial.
Analistas divergem sobre o grau de dependência da China em relação aos chips da Nvidia, especialmente diante dos esforços do país em desenvolver soluções internas. Para Charlie Chai, da consultoria 86Research, o alerta da CAC tem caráter mais simbólico do que prático e não deve resultar em medidas que afastem a fabricante do país. "A China ainda precisa dos chips da Nvidia para pesquisa e aplicações internas", afirmou.
Já Tilly Zhang, da Gavekal Dragonomics, avalia que a China conta com uma capacidade de substituição doméstica mais robusta do que em anos anteriores. “Tendo em vista a crescente capacidade de substituição interna da China, os chips da Nvidia agora são dispensáveis para o país. Eles podem ser facilmente colocados na mesa de negociações", afirma a analista.
Além do setor privado, a demanda por chips da Nvidia no país vem de instituições militares, universidades e centros de pesquisa estatais em IA. Não é a primeira vez que o governo chinês reage a tecnologias estrangeiras sob o argumento de segurança nacional. Em 2023, Pequim proibiu operadores de infraestrutura crítica de adquirir produtos da fabricante norte-americana de chips de memória Micron, após avaliação que apontou riscos significativos.