Inteligência Artificial

Para driblar sanções, China treina IA no exterior com chips dos EUA

Empresas chinesas transportam dados fisicamente e alugam servidores no Sudeste Asiático para burlar controles dos EUA sobre exportação de chips

Publicado em 13 de junho de 2025 às 08h39.

Empresas chinesas de inteligência artificial estão adotando rotas alternativas para contornar as restrições impostas pelos Estados Unidos à compra e uso de chips avançados.

Segundo reportagem do Wall Street Journal, algumas dessas companhias estão transportando fisicamente grandes volumes de dados em discos rígidos para data centers no Sudeste Asiático, onde alugam servidores com chips da americana Nvidia para treinar seus modelos de IA.

Em um dos casos citados, quatro engenheiros chineses viajaram de Pequim a Kuala Lumpur com malas contendo 80 terabytes de dados. O conteúdo foi carregado em cerca de 300 servidores alugados em um centro de dados na Malásia. Depois do treinamento, os engenheiros retornaram à China com centenas de gigabytes de parâmetros do modelo prontos para uso.

As manobras vêm ganhando força desde que Washington impôs restrições à exportação de chips de alto desempenho à China. Além do transporte físico de dados, outras estratégias incluem o uso de chips desenvolvidos internamente e rotas de reexportação por países intermediários, embora esta última venha sendo dificultada por pressão diplomática dos EUA e maior fiscalização em países como Singapura.

O transporte de discos rígidos é visto como mais seguro e rápido do que transferências de dados online, que podem levar semanas. As operações, no entanto, exigem preparação cuidadosa e envolvem a criação de subsidiárias locais para evitar a atenção das autoridades. Em um exemplo, uma empresa chinesa registrou uma entidade na capital da Malásia com diretores locais e uma holding offshore como controladora.

O movimento de empresas chinesas vem impulsionando a demanda por infraestrutura de IA em países como Malásia, Singapura, Indonésia e Tailândia. Segundo dados da consultoria imobiliária Jones Lang LaSalle, a capacidade instalada de data centers nesses países já se aproxima da soma dos mercados de Londres e Frankfurt. Apenas em março e abril deste ano, a Malásia importou US$ 3,4 bilhões em chips de IA e processadores de Taiwan, superando o total importado ao longo de 2024.

Enquanto isso, autoridades americanas seguem avaliando novas medidas. O governo Trump decidiu não seguir adiante com uma proposta herdada do governo anterior que criaria tetos de exportação por país, mas publicou orientações exigindo que as empresas dos EUA impeçam o uso de seus chips por desenvolvedores chineses de IA.

O Oriente Médio também desponta como alternativa. Durante visita recente de Donald Trump à região, a Nvidia anunciou acordos para venda de centenas de milhares de chips a países como Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos.

Com o crescimento da demanda, fundos privados também estão se mobilizando. Um escritório de investimentos baseado na Malásia investiu US$ 5 milhões em um fundo destinado à compra de servidores Nvidia, com clientes na China, Singapura e Indonésia. A expectativa é aproveitar o momento antes que novas restrições entrem em vigor.

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