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Como a variação do dólar afeta a renda fixa?

Veja como a variação cambial influencia a Selic, os juros e a rentabilidade de investimentos como CDB, LCI e Tesouro Direto

Para quem busca proteção contra a alta do dólar, fundos cambiais ou investimentos atrelados à moeda americana podem fazer sentido como parte menor da carteira. (Designed by/Freepik)

Para quem busca proteção contra a alta do dólar, fundos cambiais ou investimentos atrelados à moeda americana podem fazer sentido como parte menor da carteira. (Designed by/Freepik)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 23 de julho de 2025 às 17h19.

Toda vez que o dólar sobe, surge aquela sensação de que tudo ficou mais caro — e não é só impressão. Do cafezinho importado ao celular novo, a alta da moeda americana mexe com o bolso de todo brasileiro. Mas o impacto vai além das compras do dia a dia, já que seus investimentos em renda fixa também sentem os efeitos dessa oscilação cambial, criando oportunidades e riscos que precisam ser considerados.

Como a alta do dólar pode pressionar a taxa Selic?

Quando o dólar dispara, o Banco Central geralmente reage elevando a Selic - a taxa básica de juros da economia. Essa relação, embora não seja automática, segue uma lógica clara: o dólar alto encarece produtos importados, pressiona a inflação e força o BC a subir juros para conter os preços.

Imagine o Brasil como uma grande loja que precisa atrair clientes estrangeiros. Para convencê-los a trazer seus dólares e investir aqui, o país oferece juros mais altos - atualmente em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. Essa estratégia funciona como um ímã para capital externo, mas tem consequências diretas nos investimentos de renda fixa.

Por outro lado, quando investidores estrangeiros desconfiam da capacidade do país de honrar compromissos ou manter a estabilidade política, vendem reais e compram dólares, desvalorizando nossa moeda. Esse movimento cria um ciclo: dólar alto gera inflação, que força juros maiores, impactando toda a cadeia de investimentos.

Quais investimentos da renda fixa são influenciados pela Selic?

A relação Selic e dólar afeta praticamente todos os investimentos de renda fixa, mas alguns são mais sensíveis que outros. O Tesouro Direto, principal porta de entrada dos brasileiros no mundo dos investimentos, ilustra bem essa dinâmica.

O Tesouro Selic, por exemplo, acompanha diretamente a taxa básica. Com a Selic a 15%, esse título se torna extremamente atrativo, oferecendo segurança e liquidez diária. Já os CDBs, LCIs e LCAs pós-fixados, atrelados ao CDI (que segue de perto a Selic), também surfam nessa onda de rentabilidade elevada.

Contudo, nem tudo são flores. Investidores que apostaram em títulos prefixados ou atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) antes da escalada dos juros podem estar vendo perdas marcadas a mercado. Afinal, por que alguém compraria um título que paga 10% ao ano se pode conseguir 15% em aplicações pós-fixadas?

Vale destacar que a poupança, mesmo rendendo 0,5% ao mês mais a TR (quando a Selic supera 8,5%), continua em desvantagem diante de outras opções. Um CDB que paga 100% do CDI, por exemplo, entrega quase o dobro da rentabilidade da caderneta, mesmo após o desconto do imposto de renda.

A relação entre a alta do dólar e o risco fiscal e político do Brasil

A inflação causada pelo dólar alto é apenas parte da história. O verdadeiro motor da desvalorização do real está na percepção de risco fiscal e político do Brasil. Quando o governo gasta mais do que arrecada ou enfrenta dificuldades para aprovar reformas essenciais, investidores fogem para ativos mais seguros.

Em 2025, com a dívida pública rondando 76,1% do PIB, qualquer sinal de descontrole fiscal acende o alerta vermelho. Propostas como o aumento do IOF, apresentada para tapar buracos no orçamento, amplificam a desconfiança. O mercado interpreta essas medidas como admissão de fragilidade fiscal, acelerando a fuga de capitais.

No campo político, tensões entre Executivo e Congresso sobre aprovação de medidas fiscais criam um ambiente de incerteza. Além disso, a proximidade das eleições de 2026 já projeta sombras sobre a estabilidade futura. Investidores internacionais, avessos a riscos, preferem tirar o dinheiro do país a esperar para ver como a situação se desenrola.

Essa combinação de risco fiscal elevado e instabilidade política forma o cenário perfeito para a valorização do dólar. Mesmo com a Selic nas alturas, tentando atrair capital externo, o medo supera a ganância quando a confiança no país está abalada.

Fuga de capital e desvalorização do real

Quando investidores perdem a confiança no Brasil, não pensam duas vezes: vendem reais, compram dólares e transferem recursos para mercados mais seguros. Esse movimento em massa cria um círculo vicioso difícil de quebrar.

Em contrapartida, o investidor pode exigir juros ainda maiores para manter seu dinheiro no país, o que explica por que a Selic precisa subir tanto. É como se o Brasil tivesse que oferecer um "prêmio de risco" cada vez maior para compensar as incertezas políticas e fiscais.

Episódios recentes ilustram bem essa dinâmica. O anúncio de tarifas comerciais pelos Estados Unidos, por exemplo, não apenas ameaçou exportações brasileiras como sinalizou tensões geopolíticas que afugentam investidores. Diante disso, até setores tradicionalmente fortes da economia, como o agronegócio, sentem o impacto da instabilidade cambial.

Para o pequeno investidor, essa volatilidade se traduz em oportunidades e riscos. Enquanto aplicações pós-fixadas se beneficiam dos juros altos, a inflação importada corrói o poder de compra, exigindo estratégias mais inteligentes para proteger o patrimônio.

Empresas com dívida em dólar ficam mais vulneráveis

Enquanto investidores avaliam opções na renda fixa, empresas com dívidas em dólar enfrentam um pesadelo. Cada centavo de alta na cotação representa milhões a mais para pagar em empréstimos e financiamentos internacionais. Companhias aéreas, por exemplo, que compram aeronaves e combustível em dólar, veem seus custos explodirem.

Essa vulnerabilidade empresarial tem reflexos diretos no mercado de câmbio e investimentos. Empresas fragilizadas podem ter dificuldades para honrar compromissos, elevando o risco de calote em debêntures e outros títulos corporativos. Por isso, em momentos de dólar alto, investidores prudentes migram para títulos públicos ou CDBs de bancos grandes, considerados mais seguros.

Além disso, o cenário pressiona toda a cadeia produtiva. Empresas repassam custos maiores aos consumidores, alimentando a inflação. O Banco Central, por sua vez, responde com juros ainda mais altos, criando um ambiente desafiador para o crescimento econômico, mas paradoxalmente favorável para quem investe em renda fixa pós-fixada.

Estratégias para navegar na volatilidade cambial

Diante disso tudo, diversificação emerge como palavra principal no assunto. Manter toda a carteira em um único tipo de investimento, seja prefixado ou pós-fixado, aumenta a vulnerabilidade às oscilações do mercado. A estratégia mais prudente combina diferentes ativos para navegar em águas turbulentas.

Para quem busca proteção contra a alta do dólar, fundos cambiais ou investimentos atrelados à moeda americana podem fazer sentido como parte menor da carteira. Entretanto, é importante lembrar que esses produtos também carregam riscos e custos que precisam ser avaliados cuidadosamente.

No universo da renda fixa tradicional, o momento favorece claramente as aplicações pós-fixadas. Com a Selic a 15%, títulos como Tesouro Selic, CDBs com liquidez diária e fundos DI oferecem excelente relação entre risco e retorno. Já para horizontes mais longos, o Tesouro IPCA+ continua sendo alternativa interessante para proteger o poder de compra da inflação.

Por fim, acompanhar indicadores econômicos e movimentos políticos é a chave para não perder dinheiro. Entender como a variação do dólar afeta a renda fixa permite tomar decisões mais conscientes e aproveitar oportunidades que surgem em momentos de volatilidade.

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