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O que considerar antes de investir em uma startup

Descubra os principais fatores que ajudam a avaliar o potencial de uma startup antes de aplicar seu dinheiro

Modelos B2B representam 50,94% das startups brasileiras, conforme dados do Sebrae. (da-kuk/Getty Images)

Modelos B2B representam 50,94% das startups brasileiras, conforme dados do Sebrae. (da-kuk/Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 21 de julho de 2025 às 17h47.

O Brasil registra 18.056 startups em operação, segundo dados recentes do Sebrae. Com um crescimento de 59% no número de empresas mapeadas, o ecossistema de inovação atrai cada vez mais investidores em busca de retornos expressivos. Mas nem tudo são flores: estatísticas mostram que apenas uma em cada dez startups consegue escalar de forma sustentável. A diferença entre sucesso e fracasso? Uma análise criteriosa antes de assinar o cheque.

Entenda o modelo de negócio

Antes de investir em startup, decifrar como a empresa gera receita é fundamental. O modelo precisa ser claro, sustentável e resolver um problema real do mercado. Empresas de software como serviço (SaaS), por exemplo, apresentam receita recorrente e previsível, enquanto negócios baseados em produtos físicos enfrentam desafios logísticos que podem comprometer a escalabilidade.

É preciso questionar: o produto tem diferencial competitivo? A solução é facilmente replicável pela concorrência? Uma startup de delivery pode ter tecnologia robusta, mas sem logística eficiente, o modelo desmorona. Por isso, investidores experientes dedicam tempo para entender cada engrenagem do negócio.

Vale destacar que modelos B2B representam 50,94% das startups brasileiras, conforme dados do Sebrae. Esse tipo de negócio geralmente apresenta tickets médios maiores e ciclos de venda mais longos, mas também oferece contratos mais estáveis e previsíveis – fatores que influenciam diretamente no retorno do investimento.

Veja se o mercado foi validado

A validação de mercado é o divisor de águas entre uma boa ideia e um negócio viável. Evidências concretas como vendas iniciais, testes com clientes reais ou métricas de engajamento comprovam que existe demanda genuína pelo produto. Um MVP (Produto Mínimo Viável) com tração inicial vale mais que mil apresentações bem elaboradas.

Além disso, o tamanho do mercado importa. Conceitos como TAM (Mercado Total Endereçável), SAM (Mercado Endereçável Disponível) e SOM (Mercado Endereçável Conquistável) ajudam a dimensionar o potencial real de crescimento. Uma startup pode ter um produto excelente, mas se o nicho for muito restrito, as possibilidades de retorno significativo diminuem drasticamente.

Investidores inteligentes também avaliam a maturidade do mercado. Setores emergentes oferecem oportunidades, mas carregam riscos maiores. Por outro lado, mercados consolidados exigem diferenciação clara para conquistar espaço.

Analise a capacidade de escala

Escalabilidade separa negócios tradicionais de uma startup com potencial de crescimento exponencial. A pergunta central: a empresa consegue multiplicar receitas sem aumentar proporcionalmente os custos? Plataformas digitais, marketplaces e softwares geralmente apresentam essa característica, enquanto negócios dependentes de mão de obra intensiva enfrentam limitações naturais.

Barreiras à escala precisam ser mapeadas cuidadosamente. Infraestrutura tecnológica deficiente, dependência de fornecedores únicos ou processos manuais complexos podem travar o crescimento. Uma fintech, por exemplo, pode ter tecnologia escalável, mas se depender de aprovações regulatórias demoradas para cada novo produto, a expansão fica comprometida.

Avalie o burn rate e a saúde financeira

O burn rate – taxa mensal de queima de caixa – revela quanto tempo a empresa sobrevive sem nova captação. Dividindo o caixa disponível pelo burn rate, obtém-se o runway (pista de decolagem). Startups com menos de seis meses de runway sem perspectiva clara de receita ou nova rodada representam alto risco.

Contudo, burn rate alto nem sempre é negativo. Empresas em fase de crescimento acelerado podem justificar gastos elevados se os resultados acompanharem. O segredo está na eficiência: cada real gasto deve gerar valor mensurável, seja em crescimento de base de clientes, desenvolvimento de produto ou expansão de mercado.

Além disso, examinar balanços, fluxo de caixa e endividamento oferece visão completa da saúde do negócio. Startups com dívidas crescentes, contas a receber infladas ou despesas descontroladas acenam bandeiras vermelhas.

Como será usado o investimento solicitado?

Transparência no uso dos recursos separa empreendedores sérios de aventureiros. Um plano detalhado deve especificar alocação em áreas estratégicas: desenvolvimento de produto, marketing, contratações-chave ou expansão geográfica.

Desconfie de planos vagos ou gastos supérfluos. Escritórios luxuosos, viagens excessivas ou salários desproporcionais indicam prioridades equivocadas. Startups eficientes mantêm estrutura enxuta, direcionando recursos para atividades que geram crescimento direto. Cada centavo deve trabalhar para aumentar o valor da empresa.

Faturamento e margem de lucro: o que dizem os números?

Lembre-se que números contam histórias. Faturamento atual, taxa de crescimento mensal e margens de lucro revelam a trajetória real do negócio. Startups em estágio inicial podem não ser lucrativas, mas margens brutas saudáveis indicam modelo econômico viável.

O crescimento importa tanto quanto os números absolutos. Uma startup faturando R$ 100 mil mensais com crescimento de 20% ao mês é mais atrativa que outra faturando R$ 500 mil estagnada. Tendências de crescimento sustentável, mesmo partindo de base menor, sinalizam potencial de escala e capacidade de execução da equipe.

Além disso, receitas recorrentes são mais valiosas que vendas pontuais. Diversificação de clientes reduz riscos, considerando que dependência excessiva de poucos clientes grandes pode ser fatal se algum cancelar o contrato. Esses detalhes fazem diferença na valuation e no potencial de retorno.

Startups precisam ter baixo custo e alta performance

Eficiência operacional define sobrevivência no mundo das startups. Negócios com custos fixos elevados e baixa produtividade raramente conseguem escalar. Métricas como CAC (Custo de Aquisição de Cliente) e LTV (Valor do Tempo de Vida do Cliente) revelam a saúde unitária do negócio.

Startups que operam com equipes reduzidas mas altamente produtivas, uso inteligente de tecnologia e processos automatizados têm vantagem competitiva clara. Esse DNA de eficiência deve estar presente desde o início, não ser uma reflexão tardia.

Busque negócios resilientes e adaptáveis

Mercados mudam, crises acontecem, tecnologias evoluem. Startups resilientes sobrevivem e prosperam nesse ambiente volátil. A capacidade de pivotar – mudar direção estratégica mantendo a visão central – é o que distingue empreendedores experientes.

Modelos de negócio com múltiplos fluxos de receita oferecem maior segurança. Por exemplo, uma edtech que combina assinaturas mensais, venda de cursos avulsos e licenciamento para empresas tem mais chances de sobreviver a turbulências que uma dependente de fonte única.

Conheça os fundadores da startup

Investir em startups é, fundamentalmente, investir em pessoas. Histórico, experiência e comprometimento dos fundadores pesam mais que a ideia inicial. Empreendedores com expertise no setor, network relevante e resiliência comprovada têm vantagem.

A dinâmica entre os cofundadores merece uma análise cuidadosa. Note que habilidades complementares – um técnico, outro comercial, talvez um estrategista – formam equipes mais fortes. Observe como interagem, dividem responsabilidades e tomam decisões em conjunto durante o processo de investimento.

Ouça a opinião de especialistas no setor

Investidores experientes, mentores e analistas do setor oferecem perspectivas valiosas. Eles identificam riscos ocultos, validam premissas e compartilham aprendizados de investimentos anteriores. Participar de redes de investidores-anjo ou eventos especializados amplia acesso a esse conhecimento coletivo.

Um veterano do varejo avaliando uma startup de e-commerce percebe nuances que escapam a generalistas. Combinar expertise setorial com metodologia de investimento robusta aumenta significativamente as chances de sucesso.

Quais são as possíveis saídas para o investidor?

Investir sem estratégia de saída é como entrar em um labirinto sem mapa. Opções incluem aquisição por empresa maior (M&A), IPO (oferta pública inicial) ou recompra de ações pelos fundadores. O histórico do setor oferece pistas: startups de tecnologia frequentemente são adquiridas, enquanto fintechs podem seguir para IPO.

O prazo médio para saída em investimentos de startups gira em torno de 6,8 anos, segundo especialistas do mercado. Essa realidade exige paciência e capital paciente. Investidores que esperam retornos rápidos geralmente se frustram. Por isso, apenas capital que não será necessário no curto prazo deve ser direcionado para esse tipo de investimento.

Nesse sentido, avaliar o ecossistema ao redor da startup também importa. Mercados com histórico de aquisições frequentes ou presença de grandes players interessados em inovação oferecem mais oportunidades de saída. Startups operando em nichos muito específicos podem ter dificuldade para encontrar compradores, limitando as opções de liquidez.

Qual é o prazo de retorno esperado?

O retorno de uma startup raramente acontece antes de cinco anos. Essa realidade precisa estar clara desde o início, já que startups não são investimentos para quem busca liquidez rápida ou retornos previsíveis. O capital alocado deve ser considerado ilíquido até eventual evento de saída, que pode levar uma década.

Expectativas irreais geram frustração e decisões precipitadas, acarretando em saídas prematuras, ou pior, forçando pivots desnecessários que desviam a startup da trajetória promissora.

Dessa forma, o perfil do investidor deve combinar com a natureza do investimento. Quem depende do capital no médio prazo ou tem baixa tolerância a risco deve buscar alternativas.

Quanto já foi investido — e por quem?

O histórico de captações conta uma história valiosa sobre a startup, especialmente quando investidores renomados aparecem no cap table. Sua presença não apenas traz credibilidade, mas também sinaliza que a empresa passou por uma análise rigorosa, o que por si só já é uma validação importante. Fundos especializados e anjos experientes vão além do aporte financeiro, agregando mentoria estratégica, conexões valiosas e validação de mercado que aceleram o crescimento.

A trajetória de valorização nas rodadas anteriores revela muito sobre o negócio. Valuations que crescem de forma consistente mostram progresso real, enquanto saltos desproporcionais podem indicar uma bolha em formação. Desta forma, vale comparar com empresas similares e verificar se os fundadores mantiveram participação suficiente para permanecerem motivados.

Embora seguir o "smart money" seja uma estratégia inteligente, sua própria análise jamais deve ficar em segundo plano. Co-investir com parceiros experientes não só reduz riscos como também amplia oportunidades e acesso a conhecimento especializado. Contudo, é importante lembrar que mesmo os melhores investidores cometem erros, razão pela qual sua due diligence independente continua sendo o escudo mais confiável para proteger seu capital.

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