O beta serve principalmente para avaliar o perfil de risco de uma ação e ajudar na construção de carteiras equilibradas. (Germano Lüders/Exame)
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Publicado em 16 de setembro de 2025 às 18h08.
Quando o mercado sobe 10% e uma determinada ação dispara 15%, ou quando o Ibovespa cai e algumas empresas despencam ainda mais, existe um número que explica esse comportamento. Esse indicador, chamado beta, revela quanto um papel tende a oscilar em relação ao mercado.
Para quem investe, entender o beta significa compreender melhor o risco de cada ação na carteira. É como saber se você está entrando numa montanha-russa ou num carrossel tranquilo, permitindo escolhas mais conscientes de acordo com seu perfil de investidor.
O beta é um indicador que mede a volatilidade de um papel em relação a um índice de referência, geralmente o Ibovespa no Brasil ou o S&P 500 nos Estados Unidos. Em termos simples, ele mostra se uma ação oscila mais ou menos que o mercado geral.
Esse indicador quantifica o risco sistemático, ou seja, o risco que não pode ser eliminado através da diversificação. Enquanto alguns riscos podem ser reduzidos comprando várias ações diferentes, o beta captura aquela parcela de risco que afeta todo o mercado.
O beta serve principalmente para avaliar o perfil de risco de uma ação e ajudar na construção de carteiras equilibradas. Com ele, investidores conseguem identificar papéis defensivos, que oscilam menos, ou agressivos, que apresentam movimentos mais intensos.
Além disso, o beta permite comparar diferentes ações sob a mesma métrica de risco, facilitando decisões de alocação. Um investidor conservador pode preferir ações com beta baixo, enquanto alguém com maior apetite ao risco pode buscar papéis com beta elevado, apostando em retornos potencialmente maiores.
O cálculo do beta usa a fórmula matemática que divide a covariância entre os retornos da ação e do mercado pela variância dos retornos do mercado. Embora pareça complexo, o processo segue etapas lógicas.
Para calcular o beta de uma ação, primeiro você precisa coletar os retornos históricos do papel e do índice de referência, geralmente usando dados dos últimos três a cinco anos. Depois, calcula-se a covariância entre esses retornos e a variância do mercado, dividindo um pelo outro para obter o beta.
Na prática, ferramentas como Excel ou plataformas de análise já fornecem esse cálculo pronto, mas entender o processo ajuda a interpretar melhor o resultado.
β = Covariância (Retorno da ação, Retorno do mercado) / Variância (Retorno do mercado) |
A interpretação do beta gira em torno do número 1, que representa o comportamento médio do mercado. Um beta igual a 1 significa que a ação tende a acompanhar exatamente os movimentos do índice de referência.
Quando o beta é maior que 1, a ação amplifica os movimentos do mercado. Por exemplo, um beta de 1,5 indica que se o mercado subir 10%, a ação tende a subir 15%, mas também cairá 15% se o mercado recuar 10%.
Já um beta menor que 1 sinaliza uma ação mais estável. Um beta de 0,5 significa que a ação varia apenas metade do que o mercado oscila, sendo considerada defensiva e adequada para perfis mais conservadores.
Valor do Beta | Interpretação | Exemplo Prático |
---|---|---|
β = 1 | Mesma volatilidade do mercado | Mercado sobe 10%, ação sobe 10% |
β > 1 (ex: 1,5) | Mais volátil (agressiva) | Mercado sobe 10%, ação sobe 15% |
β < 1 (ex: 0,5) | Menos volátil (defensiva) | Mercado sobe 10%, ação sobe 5% |
β = 0 | Não é afetada pelo mercado | Mercado oscila, ação permanece estável |
β < 0 (negativo) | Move-se na direção oposta | Mercado sobe, ação cai (raro) |
O beta é peça fundamental no CAPM, modelo usado para calcular o retorno esperado de um investimento considerando seu risco. A fórmula utiliza a taxa livre de risco, geralmente a Selic, somada ao beta multiplicado pelo prêmio de risco do mercado.
Ke = Rf + β × (Rm - Rf)
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Por exemplo, se a Selic está em 5% ao ano e o retorno esperado do Ibovespa é 10%, uma ação com beta 1,5 teria retorno esperado de 12,5%. Esse cálculo ajuda investidores a avaliar se o retorno potencial compensa o risco assumido.
Para calcular o beta, você precisa dos dados históricos de preços. Diversas plataformas online disponibilizam essas informações gratuitamente, permitindo download em formato de planilha. O site da B3, a bolsa de valores brasileira, é uma das opções.
O período recomendado é de três a cinco anos de dados diários ou mensais, calculando os retornos percentuais entre cada período. Esses retornos formam a base para calcular tanto a covariância quanto a variância necessárias para o beta.
A covariância mede como duas variáveis se movem juntas. No contexto do beta, ela indica se os retornos da ação e do mercado sobem e descem em sincronia ou em direções opostas.
Para calculá-la, você multiplica os desvios de cada retorno em relação à sua média, soma todos esses produtos e divide pelo número de observações menos um. Uma covariância positiva indica que ação e mercado tendem a se mover na mesma direção.
Cov(X,Y) = Σ[(Xi - X̄)(Yi - Ȳ)] / (n-1)
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A variância mede a dispersão dos retornos do mercado em torno de sua média, indicando sua volatilidade. Para calculá-la, você subtrai a média de cada retorno, eleva ao quadrado, soma tudo e divide pelo número de observações menos um.
Var(X) = Σ(Xi - X̄)² / (n-1)
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Esse valor representa o quanto o mercado oscila e serve como denominador na fórmula do beta. Quanto maior a variância, mais volátil é o mercado de referência, influenciando diretamente a interpretação do beta calculado.