Invest

Posso investir o dinheiro do Plano Safra? Entenda como usar o crédito

Descubra as regras para utilizar os recursos do maior programa de financiamento agrícola do país e evite irregularidades que podem gerar problemas

Em 2025/26, a agricultura familiar poderá contar com o incentivo recorde de R$ 78,2 bilhões para o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). (Case IH/Divulgação)

Em 2025/26, a agricultura familiar poderá contar com o incentivo recorde de R$ 78,2 bilhões para o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). (Case IH/Divulgação)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 1 de julho de 2025 às 17h51.

Imagine ter acesso a R$ 100 mil com juros de apenas 3% ao ano, enquanto no mercado os empréstimos custam 15% ou mais. Parece tentador aplicar esse dinheiro em outros investimentos, não é? Mas cuidado: fazer isso com recursos do Plano Safra pode trazer sérias consequências legais e financeiras para o produtor rural.

Em 2025/26, o Plano Safra para a agricultura familiar poderá contar com o incentivo recorde de R$ 89 bilhões, conforme anunciado pelo presidente Lula (PT) nesta segunda-feira, 30. Apesar disso, é importante ficar atento à finalidade correta do programa para evitar dor de cabeça.

O que posso fazer com o dinheiro do Plano Safra?

O Plano Safra é um programa criado pelo governo federal em 2003 para financiar exclusivamente a atividade agropecuária brasileira. Funciona como um grande pacote de apoio anual que oferece crédito com juros subsidiados, seguro rural e assistência técnica para produtores de todos os portes.

Os recursos do programa devem ser aplicados obrigatoriamente nas finalidades especificadas no contrato de crédito rural. As principais modalidades de uso incluem:

  • Custeio: compra de sementes, fertilizantes, defensivos, ração, pagamento de mão de obra e manutenção de equipamentos durante o ciclo produtivo
  • Investimento: aquisição de máquinas agrícolas, construção de silos e armazéns, sistemas de irrigação, compra de animais reprodutores e infraestrutura rural.
  • Comercialização: financiamento para armazenagem, beneficiamento de produtos, formação de estoques e capital de giro para cooperativas.
  • Industrialização: processamento de produtos na propriedade, instalação de agroindústrias familiares e agregação de valor à produção.

Posso deixar o dinheiro do Plano Safra investido?

A resposta é um categórico não. Os recursos do Plano Safra não podem ser aplicados em investimentos financeiros, imóveis urbanos, veículos de passeio ou qualquer atividade fora do escopo agropecuário. Essa restrição existe porque o programa utiliza dinheiro público subsidiado especificamente para fortalecer a produção agrícola nacional.

O Banco Central do Brasil realiza fiscalizações regulares para verificar se o dinheiro está sendo usado conforme o contrato. Quando detectado o desvio de finalidade, as consequências são sérias: o produtor perde o benefício dos juros subsidiados, além de multas e penalidades previstas em lei.

Quem tem direito a usar o Plano Safra?

O programa atende produtores rurais de todos os portes, divididos em três categorias principais:

Agricultura Familiar (Pronaf): destinado a pequenos produtores com propriedades de até quatro módulos fiscais e renda anual de até R$ 500 mil. Esta categoria representa uma grande fatia dos contratos do programa, com mais de 1,7 milhão de operações na safra 2024/2025, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Médios Produtores (Pronamp): abrange agricultores que obtenham pelo menos 80% de sua renda bruta anual de atividades agropecuárias. Podem ser proprietários, arrendatários, parceiros ou posseiros, com porte intermediário entre a agricultura familiar e os grandes produtores.

Demais produtores: categoria que engloba aqueles que não se enquadram no Pronaf ou Pronamp, incluindo grandes empreendimentos agropecuários. São produtores com maior capacidade financeira e estrutura produtiva, que acessam o Plano Safra com condições diferentes e menos subsídios.

Como funciona o financiamento e como acessar o Plano Safra?

O acesso ao Plano Safra para agricultores familiares começa pela obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), documento emitido por entidades credenciadas como sindicatos rurais, empresas de assistência técnica e cooperativas.

Para acessar o crédito, o produtor deve reunir a documentação básica:

  • CPF/CNPJ do produtor ou empresa rural
  • Matrícula do imóvel ou contrato de arrendamento/parceria
  • CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural) do INCRA
  • CAR (Cadastro Ambiental Rural)
  • DITR (Declaração do Imposto Territorial Rural)
  • DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf) para agricultura familiar

Com a documentação em mãos, o produtor deve procurar uma instituição financeira autorizada. Os principais bancos que operam o programa são Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia, Banco do Nordeste e cooperativas de crédito.

O próximo passo é apresentar o projeto técnico ou plano simplificado de crédito, dependendo do valor solicitado. Para financiamentos menores, muitas vezes um orçamento simples é suficiente. Valores maiores exigem projetos mais elaborados, preferencialmente com acompanhamento de engenheiro agrônomo ou técnico agrícola.

A instituição financeira analisa a proposta considerando capacidade de pagamento, garantias oferecidas e histórico do produtor. Aprovado o crédito, é assinado o contrato com todas as condições, incluindo prazo, taxa de juros e forma de liberação dos recursos.

O que é Pronaf e Pronamp?

O Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) é a principal política pública de apoio aos pequenos produtores rurais no Brasil. A modalidade oferece as melhores condições de financiamento, com juros que variam de 0,5% a 6% ao ano, dependendo da linha de crédito. O programa ainda vai além, incluindo assistência técnica, seguros especiais e políticas de comercialização.

Já o Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural) atende aqueles que cresceram além dos limites da agricultura familiar mas ainda não são considerados grandes produtores.

Quais são as linhas de crédito para custeio e comercialização?

O Pronaf Custeio, por exemplo, oferece até R$ 250 mil por produtor com juros a partir de 3% ao ano para alimentos da cesta básica. O prazo de pagamento acompanha o ciclo da cultura, podendo ser de 3 meses para hortaliças até 14 meses para culturas anuais.

Para a pecuária, existe o Pronaf Custeio Pecuário, que financia a compra de ração, medicamentos veterinários e outros insumos necessários à criação animal.

Para investimentos, o Pronaf oferece diversas modalidades específicas:

  • Pronaf Mais Alimentos: para modernização da propriedade com compra de tratores, implementos e equipamentos.
  • Pronaf Jovem: exclusivo para agricultores familiares entre 16 e 29 anos.
  • Pronaf Mulher: linha especial com condições diferenciadas para mulheres agricultoras.
  • Pronaf Agroecologia: migração para sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos.
  • Pronaf Floresta: sistemas agroflorestais, exploração extrativista ecologicamente sustentável.
  • Pronaf Semiárido: convivência com a seca no semiárido, incluindo infraestrutura hídrica.
  • Pronaf ABC+: agricultura de baixo carbono na agricultura familiar.

O Pronamp Custeio atende médios produtores com condições diferenciadas. Na safra 2023/24, por exemplo, as taxas foram de 8% ao ano para essa categoria.

Quais são os juros dos recursos do Plano Safra?

As taxas de juros do Plano Safra variam significativamente conforme a categoria do produtor e a finalidade do crédito. Para a safra 2025/26, o governo manteve condições especialmente favoráveis para a produção de alimentos essenciais.

No Pronaf, os juros começam em 0,5% ao ano para o microcrédito rural, modalidade voltada aos produtores de menor renda. A produção de alimentos básicos como arroz, feijão, mandioca, leite e hortaliças tem taxa de 3% ao ano, caindo para 2% quando a produção é orgânica ou agroecológica.

Para culturas como milho, café e frutas de inverno, os juros sobem para 6,5% ao ano. Já commodities produzidas por agricultores familiares, como soja e pecuária de corte, terão taxa de 8% na nova safra.

Como o governo acompanha o uso dos recursos do Plano Safra?

A fiscalização do Plano Safra é realizada em múltiplas instâncias. O Banco Central do Brasil estabelece as normas através do Manual de Crédito Rural (MCR) e monitora seu cumprimento junto às instituições financeiras.

O primeiro nível de controle ocorre na própria instituição que concede o crédito. Os bancos são obrigados a realizar fiscalizações diretas e por amostragem, verificando in loco se os recursos foram aplicados conforme o projeto aprovado.

O produtor deve manter toda a documentação comprobatória dos gastos — notas fiscais, recibos, contratos — após a quitação do financiamento. Em caso de fiscalização, precisa comprovar que cada centavo foi aplicado conforme previsto no contrato.

Qual é a diferença entre o Plano Safra e o Plano Safra da agricultura familiar?

Enquanto o plano geral é coordenado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a parcela destinada à agricultura familiar fica sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Porém, a principal diferença está no foco e nas condições oferecidas. O Plano Safra geral contempla todos os produtores e prioriza o aumento da produção e produtividade, especialmente de commodities para exportação. Já o plano da agricultura familiar enfatiza a produção de alimentos para o mercado interno, segurança alimentar e geração de renda para pequenos produtores.

Novidades para o Plano Safra da agricultura familiar 25/26

O governo Lula anunciou R$ 78,2 bilhões exclusivamente para o Pronaf, estabelecendo novo recorde de recursos para pequenos produtores.

Entre as principais novidades também está a ampliação do limite para compra de máquinas e equipamentos menores, que saltou de R$ 50 mil para R$ 100 mil, mantendo juros de apenas 2,5% ao ano. Para máquinas maiores, até R$ 250 mil, a taxa será de 5%. O governo também criou uma nova faixa de custeio específica para milho, café, uva e frutas de inverno, com juros de 6,5% ao ano.

A sustentabilidade ganhou destaque especial: a produção orgânica e agroecológica terá juros reduzidos de 3% para 2% ao ano, incentivando a transição para sistemas mais sustentáveis.

“Ao investir na agricultura familiar, estamos fortalecendo a economia local, garantindo comida de qualidade e a preços acessíveis para a população e ganho justo para o produtor. O Brasil que alimenta o mundo começa aqui, nas mãos dos pequenos agricultores, e este governo seguirá trabalhando para que eles tenham cada vez mais apoio e reconhecimento”, afirmou o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).

Acompanhe tudo sobre:Guias de conteúdo

Mais de Invest

Tenda (TEND3) pagará R$ 21 milhões em dividendos

Minoritário aciona Justiça para impedir fusão entre Marfrig e BRF: assembleia pode ser adiada?

Dólar fecha primeiro pregão do mês em alta de 0,50% com dúvidas sobre IOF

Justiça dos EUA rejeita recurso da Apple para encerrar investigação sobre monopólio