Redação Exame
Publicado em 21 de setembro de 2025 às 14h41.
Na última semana, Nvidia e Intel movimentaram o mercado de ações ao fechar um acordo que inclui a venda de ações da Intel para a Nvidia por US$ 5 bilhões, além de parcerias em chips para PCs e data centers. Para o mercado, o gesto sugere mais do que uma aliança técnica: a Nvidia pode ser a força capaz de salvar o fatigado negócio de manufatura da Intel.
A leitura é otimista, mas o problema central permanece, segundo sugere uma publicação da Barron's: a Intel continua atrás da Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC) em capacidade de produção de chips avançados. Atraso que, até agora, nenhum acordo resolveu.
A publicação norte-americana elencou quatro (dos cinco) problemas da Intel que o acordo com a Nvidia vai conseguir resolver.
Intel tem maior alta em 38 anos. A Nvidia vai conseguir salvar a companhia dos maus tempos?Primeiro problema:
A primeira vantagem do negócio é óbvia: a Intel está recebendo mais capital do que consegue usar. A companhia cortou 25% dos investimentos planejados em 2025 e adiou a construção de novas fábricas. A ideia original era alcançar a TSMC por meio de uma expansão agressiva, mas os gargalos continuam técnicos — não financeiros.
Ao longo de 2025, a Intel já captou US$ 5,7 bilhões do Departamento de Comércio dos EUA, com ações precificadas a US$ 20,74. O SoftBank aportou outros US$ 2 bilhões a US$ 23 por papel. Agora, foi a vez da Nvidia comprar US$ 5 bilhões em ações, por US$ 23,28.
No total, são US$ 12,7 bilhões em capital levantado com a emissão de 576 milhões de ações, representando diluição de 12% para os acionistas. Em troca, a empresa ganhou algo mais valioso do que caixa: o suporte explícito de três gigantes.
O segundo problema:
Há um ganho reputacional para a Intel. Mesmo com os papéis vendidos abaixo da cotação de mercado, as ações da empresa dispararam. Para os investidores, o recado está dado: governo dos EUA, SoftBank e Nvidia não vão deixar a Intel cair.
A presença de nomes estratégicos no capital social tornou a aposta nas ações — ainda baratas — mais atrativa.
O terceiro problema:
O terceiro ponto da parceria é técnico. Os novos chips para PCs terão CPU da Intel e GPU da Nvidia, integradas por um barramento de alta velocidade desenvolvido pela própria Nvidia. A promessa é de ganhos de desempenho em jogos e aplicações locais de inteligência artificial, setores nos quais a competição comercial se concentra.
O quarto problema:
A quarta frente é o setor de data centers. Durante décadas, a Intel dominou os servidores com suas CPUs. Mas o avanço da IA mudou a composição das máquinas: bilhões de dólares migraram para as GPUs da Nvidia, usadas para treinar modelos de IA.
Antes, era comum um servidor usar duas CPUs Intel com oito GPUs Nvidia. Esse arranjo mudou quando a Nvidia começou a fabricar sua própria CPU. O movimento praticamente expulsou a Intel do centro de dados de inteligência artificial.
A nova parceria pode devolver parte desse mercado à Intel. Com chips coproduzidos com a Nvidia, a empresa espera voltar ao jogo nos servidores de IA — segmento que deve liderar a demanda por semicondutores nos próximos anos.
O maior obstáculo da Intel continua sendo seu negócio de fundição — uma tentativa de se posicionar como alternativa à TSMC para empresas como Apple, Nvidia e Samsung. O projeto, lançado há quatro anos, ainda não atraiu um único cliente estratégico.
A produção também segue atrasada. Durante a última teleconferência, o CEO Lip-Bu Tan admitiu que a nova geração de chips não pode ser sustentada apenas com a demanda interna. A Intel precisa vender para terceiros.
Mas, apesar da aproximação, a Nvidia não se comprometeu a usar as fábricas da Intel. Questionados sobre isso durante coletiva de imprensa, Tan e Jensen Huang, CEO da Nvidia, evitaram respostas diretas. Huang preferiu elogiar a concorrência: classificou a produção da TSMC como “mágica”.
Os executivos e acionistas da Intel têm bons motivos para respirar aliviados nesta semana. Mas ninguém, nem mesmo seus parceiros, está dizendo que a empresa virou o jogo. Pelo menos, não ainda.