Repórter
Publicado em 27 de agosto de 2025 às 05h52.
A Nvidia (NVDA), uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, divulga nesta quarta-feira, 28, seus resultados referentes ao segundo trimestre. Para Wall Street, agora, é a vez da empresa de chips de inteligência artificial mostrar ao que veio E as expectativas são altas.
Nos últimos meses, as ações da Nvidia subiram quase 35%, o que impulsionou ainda mais as previsões de analistas. De acordo com especialistas ouvidos pela Barrons, a receita projetada para o período é de US$ 46,05 bilhões, um aumento significativo de 53% em relação ao ano passado. O lucro ajustado por ação (LPA) é esperado em US$ 1,01, embora outros analistas prevejam uma receita superior de US$ 53,4 bilhões. As expectativas para o lucro por ação também podem alcançar US$ 1,20.
A Nvidia não apenas mantém suas promessas no mercado de chips, mas também expande sua linha de produtos. Recentemente, a empresa anunciou o início da produção em massa de seus novos servidores Blackwell GB200/GB300 NVL72, com até 72 unidades de processamento gráfico (GPUs) interconectadas em um único rack, uma grande evolução em comparação com as versões anteriores, que possuíam apenas oito GPUs. O CEO Jensen Huang confirmou que a produção está aumentando rapidamente, após superar obstáculos iniciais de fabricação.
O mercado de robótica também está na mira da Nvidia. Com o lançamento do Jetson Thor, um dispositivo equipado com uma GPU Blackwell de 128 gigabytes de memória, a empresa oferece um aumento de até 7,5 vezes mais poder de computação para robôs em comparação com os modelos anteriores. O Jetson Thor visa atender a demanda crescente por inteligência artificial no setor de robôs humanoides.
A Nvidia também enfrenta desafios significativos em suas operações na China, um mercado chave. Recentemente, o governo chinês solicitou que a Nvidia explicasse potenciais "riscos de segurança" de seus chips H20, cruciais para seus negócios de servidores de IA.
O regulador chinês alertou para o uso do hardware, alegando que ele poderia conter informações sensíveis para agências de espionagem. Essa incerteza geopolítica tem levado a uma flutuação nos negócios da Nvidia na China, o que impacta diretamente seus resultados financeiros e os planos de expansão no país.
Um estudo recente do Massachusetts Institute of Technology (MIT) intensificou as preocupações ao apontar que 95% das empresas que investem em inteligência artificial ainda não viram retornos sobre esses investimentos.
Segundo o MIT, a maioria das startups e empresas que estão na vanguarda da IA queimam mais dinheiro do que geram receita. Em média, de acordo com a pesquisa, as companhias gastam US$ 5 para cada US$ 1 de receita.
Outro ponto destacado pelo MIT foi a dificuldade de muitos projetos de IA de se traduzirem em soluções concretas e escaláveis, com uma grande parte dos produtos de IA ainda não gerando nenhum faturamento. Em 2024, uma análise de 600 empresas B2B revelou que 42% dos produtos de IA ainda não tinham gerado receita alguma.
Sam Altman, CEO da OpenAI, dona do ChatGPT, também adicionou tensão ao mercado ao afirmar que a IA está "em uma bolha". Altman destacou que, embora a IA tenha o potencial de ser uma revolução tecnológica, o entusiasmo atual cria expectativas inflacionadas sobre os retornos que essas empresas podem gerar no futuro.
Para ele, a situação atual reflete uma "euforia" que pode não ser sustentada, já que o desenvolvimento de IA em larga escala ainda enfrenta grandes desafios e, por enquanto, os lucros não acompanham o ritmo das valorizações das empresas.
Embora analistas como William Blair prevejam um crescimento significativo para a Nvidia nos próximos anos, com um mercado de data centers que pode gerar quase US$ 100 bilhões de receita, há receios de que a construção massiva de data centers com chips de IA não seja sustentável a longo prazo.
Enquanto alguns investidores veem a situação como uma oportunidade de compra, outros adotam uma postura mais cautelosa, alertando para a necessidade de redução de risco e reequilíbrio de portfólios.
De um lado, a Wedbush Securities mantém uma visão otimista e considera a liquidação atual como uma oportunidade de compra. "Vemos sell-offs de tecnologia como o de ontem como oportunidades", afirmou Daniel Ives, analista da instituição.
Para Ives, a queda observada é apenas um retrocesso temporário, e a trajetória de alta do setor permanece sólida, impulsionada justamente pelos investimentos bilionários em inteligência artificial. A Wedbush prevê que o ciclo de alta tecnológica continuará robusto pelos próximos três anos, destacando que os trilhões de dólares sendo direcionados à IA são um forte indicador de crescimento contínuo.
O JPMorgan Chase também enxerga o declínio com otimismo, e não vê nele uma mudança fundamental nas perspectivas de longo prazo. Para o JPMorgan, o setor de tecnologia segue como um motor de crescimento nos mercados americanos.
Outros bancos adotam posições mais cautelosas.
É o caso do UBS Global Research que aponta que, embora alguma volatilidade de curto prazo seja esperada dada a valorização do setor, os investidores não devem adotar uma postura excessivamente defensiva. O UBS recomenda diversificação dentro da cadeia de valor da IA, englobando setores como infraestrutura, semicondutores e aplicações, para mitigar o risco de se concentrar apenas nas ações de empresas de tecnologia com altos preços.
O Citigroup, por sua vez, foi mais direto, recomendando que os investidores tomem lucros em ações de IA de alto desempenho.
O analista Drew Pettit alertou para a necessidade de reequilibrar portfólios, especialmente para aqueles com ações de IA que experimentaram altas acentuadas. "Embora apostar contra IA seja difícil para muitos no lado comprador, investidores deveriam rebalancear portfólios para longe das ações de maior alta e em direção a empresas de IA negociadas mais baratas", afirmou.
Pettit não rotulou o rali da IA como uma "bolha", mas observou que as expectativas para o setor estão excessivamente elevadas e uma correção poderia ocorrer à medida que os investidores ajustam suas previsões.
Rob Rowe, do Citi, também se distanciou da comparação com a bolha das pontocom, enfatizando que a alta atual da IA envolve empresas com lucros robustos e fluxos de caixa fortes, ao contrário do que aconteceu durante a bolha dos anos 2000. Mas, para Rowe, a adoção de IA pode ser mais lenta do que muitos investidores antecipam, o que poderia impactar as perspectivas do setor no curto prazo.