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Acabou o rali? Como ficam as bolsas se o Fed parar de cortar juros

BC dos EUA cortou os juros em 0,25 ponto percentual nessa quarta-feira, 29, levando os fed funds para a faixa entre 3,75% e 4%

Fed: pausa em redução do balanço deve beneficiar ativos de risco (Germano Lüders/Exame)

Fed: pausa em redução do balanço deve beneficiar ativos de risco (Germano Lüders/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 30 de outubro de 2025 às 06h00.

O discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) desanimou investidores que davam como certo um novo corte de juros em dezembro.

Nesta quarta-feira, 29, o Fed cortou as taxas de juros em 0,25 ponto percentual (p.p.), levando as taxas de juros para a faixa entre 3,75% e 4%. Apesar do corte, na coletiva, o presidente do BC americano balanceou as expectativas sobre mais um corte de juros. Segundo a autoridade, uma decisão sobre dezembro "está longe de ser algo certo".

Ele ainda acrescentou que o corte dessa reunião foi “uma medida de gestão de risco para aproximar a política monetária de uma postura neutra” e acrescentou: “Não contem com um corte de juros em dezembro.”

“Ele desanimou um pouco os mercados, porque ele colocou bastante em dúvida a chance de corte de juros em 10 de dezembro. Parece que se fosse a decisão fosse hoje, seria muito mais para não ter corte”, diz Gustavo Cruz, da RB Investimentos.

As bolsas perderam força e o dólar virou. O S&P 500 acabou não renovando recorde e fechou estável. O Ibovespa ainda resistiu, fechando pela primeira vez acima dos 148 mil pontos. O dólar, por outro lado, voltou a subir.

Mas isso não significa que o rali visto nas últimas semanas, com a renovação de recorde dos principais índices de ações, chegou ao fim.

Tendência vai mudar?

Mas a surpresa negativa, no entanto, não deve provocar grandes distorções no mercado. Segundo o Cruz, ao mesmo tempo que a dúvida foi colocada na mesa sobre o corte de juros em dezembro, o Fed anunciou o final da diminuição de balanço. “Isso acaba sendo um aumento de liquidez”, explica.

Para Lilian Linhares, head do Rio Negro Family Office, a sinalização do encerramento do programa de aperto quantitativo a partir de dezembro, combinado com o corte de juros atual, representa um duplo movimento de estímulo para a economia.

“De um lado, reduz o custo do crédito e, de outro, aumenta a liquidez nos mercados. Juntas, essas ações tendem a aliviar as condições financeiras, sustentando os mercados acionários e de crédito, impulsionando, assim, ativos de risco”, pontua.

Além dos ativos de risco, o dólar também pode sentir o movimento e enfraquecer. “No entanto, com uma economia ainda mais forte, aumenta também o risco de se reaquecer a inflação”, afirma Linhares.

Tudo ou mais constante, investidores de ações ainda irão acompanhar as big techs. Bruno Yamashita, analista de Alocação e Inteligência da Avenue, comenta que daqui para frente o tom de inteligência artificial é quem vai ditar o rumo do mercado acionário, com os resultados das big techs.

“O mercado vai ficar muito de olho nos gastos em termos de Capex e os investimentos que essas grandes empresas vão continuar fazendo, quanto que isso está trazendo de retorno e qual está sendo a perspectiva de crescimento para essas empresas daqui para frente.”

E a bolsa brasileira?

Já para a bolsa brasileira, o corte nos fed funds aumenta o diferencial de juros Brasil e EUA, o que deve incentivar o fluxo para ativos de maior retorno, beneficiando moedas emergentes, incluindo o real, explica Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.

Entretanto, os comentários de Powell após a reunião do Fomc deixou claro que não há conclusão certa a respeito dos próximos passos, nem mesmo para a reunião de dezembro, já que os riscos para a inflação continuam altistas, enquanto o desemprego continua mostrando sinais de desaceleração.

“Como o mercado já precificava um corte quase certo em dezembro e mais afrouxamento em 2026, a falta de clareza e o pouco acesso a dados que sustentem esse posicionamento podem trazer volatilidade. Além disso, é importante não ignorar os riscos domésticos, com o fiscal ainda no radar e a aproximação das eleições podendo trazer pressões para o câmbio”, comenta a especialista.

O que é o balanço do Fed?

O “balanço” do Fed (balance sheet) é a carteira de ativos que o banco central mantém, composta principalmente por títulos do Tesouro e papéis hipotecários.

Após ser inflado durante a pandemia — quando o Fed comprou grandes volumes de títulos para injetar liquidez e estimular a economia — esse balanço começou a ser reduzido em 2023 por meio do quantitative tightening (QT), processo em que o banco deixa os títulos vencerem ou os vende, retirando dinheiro de circulação.

"O balanço, que chegou a quase US$ 9 trilhões em 2022, está sendo normalizado desde 2023 e deve se estabilizar na casa dos US$ 6 trilhões, ainda acima do nível pré-pandemia, que girava em torno de US$ 4 trilhões", explica Cruz, da RB Investimentos.

Agora, o Fed decidiu encerrar essa redução, estabilizando o balanço. “O Comitê decidiu concluir a redução de suas posições agregadas em títulos em 1º de dezembro.”, escreveu o Fed em documento.

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