Mercados

Ação da Bovespa tem maior queda do dia com risco de perder monopólio

Direct Edge anunciou a intenção de abrir um novo mercado de ações até o final de 2012

O IPO da Bovespa e a fusão com a BM&F foram os últimos grandes movimentos dos participantes do mercado de capitais brasileiro (Eduardo Nicolau/ Agência Estado)

O IPO da Bovespa e a fusão com a BM&F foram os últimos grandes movimentos dos participantes do mercado de capitais brasileiro (Eduardo Nicolau/ Agência Estado)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2011 às 18h02.

São Paulo – A perspectiva do surgimento de um novo concorrente para a BM&FBovespa (BVMF3) atrapalhou as negociações com as ações da bolsa brasileira nesta segunda-feira. Na mínima do dia, os papéis chegaram a cair 5,38% para depois terminar a sessão negociados a 10,14 reais, uma baixa de 4,16%. O Ibovespa encerrou em queda de 0,79%, aos 56.284 pontos.

A americana Direct Edge Holdings anunciou nesta segunda-feira a sua intenção de criar um novo mercado de ações no país com a sua sede na capital fluminense. A intenção é oferecer uma plataforma que negocie ações, ETFs (fundos de ações que negociam em bolsa), e também certificados de depósitos de ações. O Rio de Janeiro voltaria a ter uma bolsa de valores, o que não acontece desde 2002.

“A entrada de um novo participante é negativa para as perspectivas de médio prazo da BM&FBovespa”, destacam os analistas da Raymond James, Federico Rey Marino e Francisco Pereyra em um relatório publicado hoje. Para eles, as oportunidades de crescimento de longo prazo no Brasil devem continuar a atrair novos interessados a participar do mercado local.

“A economia brasileira está entre as de crescimento mais acelerado no mundo e acreditamos que uma segunda bolsa no país irá impulsionar ainda mais a participação por meio da competição que leva a inovação e a melhora nos preços”, disse William O’ Brien, CEO da Direct Edge em um comunicado.

A Direct Edge, quarta maior bolsa americana com uma participação de mercado de 10%, pretende iniciar as operações no último trimestre de 2012. Entre os sócios da empresa estão o JPMorgan Chase, Citadel Investment Group, Deutsche Boerse, Knight, International Securities Exchange e o Goldman Sachs.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda está avaliando o plano. Um CEO para o Brasil será apontado para estreitar o relacionamento com os participantes locais. Os escritórios Demarest & Almeida Advogados e Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados estão dando o apoio jurídico à empresa.

Obstáculos

Uma das principais barreiras para a chegada de um concorrente, segundo analistas, é o modelo integrado da BM&FBovespa. Além de bolsa, ela detém também a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia), que é a contraparte para o mercado de ações e de renda fixa e responsável pela fiscalização dos pagamentos e recebimentos.


Em um relatório publicado nesta segunda-feira, a analista Regina Longo Sanchez avalia que a Direct Edge enfrentará “dificuldades” em seu plano de iniciar uma plataforma de negociação de ações no Brasil já que a BM&FBovespa não deve permitir que a empresa use seus serviços de compensação. Segundo ela, o plano não afeta o preço-alvo de 11,50 reais para as ações da bolsa porque o aumento da concorrência já está incluído na projeção.

O’ Brien disse em uma teleconferência realizada nesta tarde que ainda está analisando as alternativas disponíveis para o uso de uma clearing. “Estamos analisando as alternativas disponíveis, mas o que mais nos importa é não introduzir aumento de riscos sistêmicos e operacionais”, explicou. Ele disse que as opções são o uso de uma clearing no Brasil, uma global, ou a criação de uma nova.

“Acreditamos que a integração vertical da BM&FBovespa representa uma importante barreira de entrada, uma vez que as atividades pós-negociação são custosas para serem replicadas. Além disso, a bolsa tem separado esforços e um tempo significante para aumentar a participação das suas atividades de pós-negociação em sua estrutura de receitas para proteger a sua posição estratégica”, ressaltam Rey Marino e Pereyra, da Raymond James.

Outras bolsas

A BATS Global Markets, terceira maior bolsa americana, anunciou em fevereiro que também pretende criar um ambiente alternativo de negociações no Brasil em parceria com a gestora brasileira Claritas. A sede, contudo, provavelmente seria baseada em São Paulo. A BRIX, bolsa de comercialização de energia que tem Eike Batista como sócio, tem as operações em São Paulo, mas a sede também é no Rio de Janeiro.

O Brasil já foi um país com vinte ambientes de negociações de ações e outros ativos financeiros. Esse era o cenário brasileiro na década de 1990. Porém, ao longo dos anos seguintes o mercado se consolidou e, depois da quase quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, então a maior do País, hoje só se fala na BM&FBovespa, fusão entre o ambiente de negociações de derivativos e commodities com o de ações, realizada em 2008.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas abertasservicos-financeirosB3bolsas-de-valoresMercado financeiroConcorrênciaAnálises fundamentalistas

Mais de Mercados

Ibovespa renova máximas: o que esperar da Bolsa daqui para frente?

Após renovar mínima em mais de um ano, dólar opera próximo da estabilidade

Cogna (COGN3) confirma oferta para retirar Vasta da Nasdaq

Super Quarta, coletiva de Powell e PEC da blindagem: o que move os mercados